Após reunião
polêmica, ministro do Meio Ambiente manda exonerar chefe de parque do ICMBio
Ricardo Salles deve publicar exoneração de Fernando
Weber até o fim da semana; o ministro teria exigido comparecimento obrigatório
de servidores em evento do órgão, mas eles alegam que não foram informados
André Borges, O Estado de S.Paulo
23
de abril de 2019 | 19h46
BRASÍLIA – O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
mandou exonerar nesta terça-feira, 23, o chefe do Parque Nacional Lagoa do
Peixe, no Rio Grande do Sul, Fernando Weber, vinculado ao Instituto
Chico Mendes de Biodiversidade(ICMBio). O Estado apurou
que a exoneração deve ser publicada na quarta ou quinta-feira.
O ministro confirmou
a decisão à reportagem. Questionado sobre as razões que levaram à demissão de
Fernando Weber, disse apenas que “cargo de confiança é prerrogativa do
Executivo escolher”. Salles disse que já escolheu um sucessor para o cargo, mas
não mencionou seu nome.
A demissão ocorre dez dias depois de Salles fazer
uma reunião com ruralistas e produtores para discutir as limitações do parque
gaúcho. Trata-se do segundo servidor que deixa o ICMBio após o encontro
polêmico, ocorrido no dia 13. Dois dias depois da reunião, o presidente do
órgão.
Salles e Eberhard
visitavam a região do Parque Nacional Lagoa do Peixe. Após ouvir queixas de
pescadores e produtores locais sobre o ICMBio, o ministro pediu para que os
funcionários do órgão se juntassem a ele na mesa. “Não tem nenhum
funcionário?”, perguntou na sequência. “Vocês vejam a diferença de atitude:
está aqui o presidente do ICMBio que, embora seja um ambientalista histórico,
uma pessoa respeitada no setor, veio aqui ouvir a opinião de todos vocês. E na
presença do ministro do Meio Ambiente e do presidente do ICMBio, não há nenhum
funcionário aqui.”
Salles, então,
anunciou a abertura de processo administrativo disciplinar contra todos os
funcionários. A plateia aplaudiu com entusiasmo. Eberhard manteve-se em
silêncio. No dia 15, foi até seu gabinete em Brasília, limpou as gavetas,
despediu-se dos funcionários e entregou a carta de demissão ao ministro.
Funcionários relataram ao Estado que
não foram ao evento com o ministro e o presidente do ICMBio simplesmente porque
não haviam sido convocados para a cerimônia, que foi acompanhada por políticos
gaúchos, além de representantes do agronegócio. Alguns servidores chegaram a ir
ao evento, ao saberem que o ministro havia ameaçado puni-los pela ausência. O
chefe do parque, Fernando Weber, que será exonerado, juntou-se à mesa, ao lado
do ministro, mas não teve a chance de responder às críticas.
Procurado pelo Estado, Weber disse
apenas que estava “reunindo a equipe da unidade de conservação para dar as
informações sobre a exoneração”.
Críticas. Na semana passada, servidores federais da área
ambiental divulgaram uma carta aberta à
sociedade de repúdio às “declarações e posturas” do
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “O ministro vem, reiteradamente,
atacando e difamando o corpo de servidores do ICMBio através de publicações em
redes sociais e de declarações na imprensa baseadas em impressões superficiais
após visitas fortuitas a unidades de conservação onde não se dignou a dialogar
com os servidores para se informar sobre a situação e sobre eventuais problemas
e dificuldades”, escrevem os servidores em carta assinada pela Associação
Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema Nacional).
No documento, os
servidores também destacam o funcionamento do ICMBio, e lembram que o órgão,
que gere 334 unidades de conservação em todo o País, tem 1.593 servidores – “um
para cada 100 mil hectares de área protegida”, dizem. Eles comparam que o
serviço de parques dos EUA tem 1 servidor para cada 2 mil hectares de área
protegida – cada profissional brasileiro precisa cuidar de uma área 50 vezes
maior que o seu par americano.
Reportagem
do Estado mostrou, no fim de semana, que a área ambiental do
governo Bolsonaro passa por um processo de militarização.
Do
alto escalão do Ministério do Meio Ambiente até as diretorias do Ibama e
do ICMBio, postos-chave estão agora sob a tutela de oficiais das Forças Armadas
e da Polícia Militar. A orientação dada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro
e levada a cabo pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é a de acabar
com o “arcabouço ideológico” no setor. Já são pelo menos 12 militares.