Fala quem entende
IHU
On Line - Segundo suas pesquisas, a região do Nordeste incluída no ecossistema
do semiárido terá mais nove anos de estiagem, com chuvas abaixo da média. Quais
as evidências que remetem a essa projeção?
Luiz
Carlos Molion - Eu não afirmei que o Nordeste do Brasil terá
mais nove anos de estiagem. Eu disse que existe probabilidade de os Estados da
costa leste do Nordeste terem chuvas um pouco abaixo da média (10% a 20%) de
longo prazo durante os próximos nove a dez anos.
Essa
conclusão foi resultante da análise de 60 anos de dados observados de chuva e
está baseada na variação da temperatura da superfície do Oceano Pacífico.
IHU
On Line - Que relações o Sr. estabelece entre as mudanças climáticas no oceano
Pacífico e as mudanças climáticas na região Norte e Nordeste?
Molion
- O clima do Nordeste responde
muito bem às mudanças de temperatura da
superfície do oceano Pacífico tanto na escala interanual
como na escala decadal. Na escala interanual (de dois a quatro anos), é o
fenômeno El Niño que,
em geral, produz secas no Nordeste e
excesso de chuvas no Sul/Sudeste.
Na escala decadal, as
temperaturas das superfícies dos oceanos ficam mais aquecidas durante 25 a 30
anos e, em seguida, se resfriam durante outros 25 a 30 anos, um ciclo total de
50 a 60 anos.
Quando o Pacífico se
resfriou, entre 1946 e 1976, as chuvas se reduziram no Nordeste e os Estados da
costa leste tiveram chuvas abaixo da média de longo prazo durante praticamente
11 anos consecutivos.
Como o Pacífico está se
resfriando atualmente, por analogia, eu sugeri que devemos nos prevenir e nos
preparar para o pior cenário que foi o da década de 1950. Mas, pode não
acontecer, porque o clima é muito variável e complexo.
IHU
On Line - Atualmente, com os períodos de estiagem acentuados, já há muitas
críticas à falta de investimento no semiárido brasileiro. O que é possível
vislumbrar para a região em termos climáticos diante desta projeção de chuvas
abaixo da média?
Molion
- O Nordeste brasileiro é uma região semiárida por natureza. Anos
chuvosos são exceção e não regra. Não há que se “combater” a aridez como vem
sendo tentado há 500 anos.
O que deve ser feito é
encontrar soluções que se adaptem à região. Não é preciso reinventar a roda.
Por exemplo, na Califórnia (EUA), chove apenas 200 mm/ano e é o maior pomar do
mundo.
Petrolina está no
Nordeste e é um polo de produção de frutas, irrigado. Não se ouve falar de seca
em Petrolina. Ao contrário, uma área próspera e muito
rica. Então, por que não estender essa solução para o restante do Nordeste?
IHU
On Line - Diante desta previsão de estiagem, que alternativas vislumbra para os
sertanejos?
Molion
- O balanço hídrico do Nordeste brasileiro é
deficitário. Chove pouco e a demanda evaporativa da atmosfera é alta. A única
solução é levar, aduzir água para a região.
A Califórnia teve um problema sério de secas
entre 1895 e 1904. Tomaram a decisão e, em 1908, o rio Colorado já tinha sido desviado para dentro do
Estado e, aos poucos, construíram mais de 14 mil quilômetros de canais de
irrigação.
Isso fez da Califórnia, o
Estado de maior renda per capita dos EUA. A primeira vez que se falou sobre
levar água do rio São Francisco foi em 1847,
há 165 anos. E até hoje não resolveram o problema. Não existem soluções
paliativas, tem que haver soluções definitivas e estruturais.
Se não se aduzir água
para a região, não há como resolver o problema. E uma redução do total de
chuva, ou mesmo uma mudança em seu regime mensal, pode provocar grandes
impactos sociais, pois a população é muito maior hoje que há 70 anos.
IHU
On Line - De acordo com sua pesquisa, percebe-se uma variabilidade
climática de tempos em tempos. Como o senhor vê, a partir disso, as discussões
em torno das mudanças climáticas e do aquecimento global? Esses fenômenos de
fato estão mais intensos por causa da ação humana? Há algo que se possa fazer
para reverter esse processo?
Molion
- Houve um aquecimento natural entre 1976 e 1998, devido ao
aquecimento do Pacífico e frequência maior de eventos El Niño que, normalmente, aumentam a temperatura
global.
Mas, esse aquecimento
terminou em 1998 e estamos nos dirigindo inexoravelmente para um novo, ligeiro,
resfriamento global. Nunca existiu aquecimento global
antropogênico (AGA).
O AGA é uma farsa e, por
detrás dele, só existem interesses econômicos dos países desenvolvidos. O CO2
não controla o clima global. O CO2 não é vilão, não é tóxico ou poluente. O CO2
é o gás da vida. Quanto mais CO2 tiver no ar, maior será a produtividade das
plantas. E o homem depende das plantas para sobreviver.
O homem sente que o clima
está mais quente, porque, no Brasil, por exemplo, 85% da população vivem nas
grandes cidades. E o microclima urbano tem temperaturas 5 a 6 graus mais
elevados que o clima rural.
O homem tem
capacidade de mudar seu microclima, por exemplo, quando substitui uma floresta
nativa por uma selva de pedras. Mas, o homem só manipula 7% da superfície
terrestre.
Portanto, não pode
interferir no clima global. Ou seja, a variabilidade do clima global é natural.
Não há crise climática e não há nada para fazer, a menos deixar de jogar
dinheiro fora tentando reduzir emissões de CO2.
Esse dinheiro poderia ser
mais bem utilizado, diminuindo a pobreza e a miséria existente no mundo,
reduzindo as diferenças sociais existentes.
IHU
On Line - O Sr. diz que em vez de um aquecimento global antropogênico (AGA),
como o previsto pelo IPCC, haverá um resfriamento global. Quais as razões e
por que se fala tanto em aquecimento global?
Molion
- O Oceano Pacífico cobre 35% da superfície terrestre. A
atmosfera (clima) é aquecida por baixo, em contato com a superfície.
Quando o Pacífico se resfria,
o clima global se resfria como aconteceu entre 1946 e 1976. O Pacífico já se
aqueceu entre 1976 e 1998, agora está se resfriando.
Portanto,
vamos para um resfriamento global e não aquecimento. O AGA é uma farsa e seu objetivo é reduzir as emissões
de CO2, lembram-se, o gás da vida. Como 80% da matriz energética global depende
do petróleo, gás natural e carvão mineral (combustíveis fósseis), reduzir as
emissões de CO2, produto da queima dos combustíveis fósseis, significa gerar
menos energia elétrica, a mola propulsora do desenvolvimento mundial.
Menos
energia, menor desenvolvimento, o que condenaria os países pobres à pobreza
eterna e os ricos continuariam ainda mais ricos, explorando os pobres.
Daí, se
falar muito no AGA, principalmente com uma imprensa
tendenciosa e conivente.
IHU
On Line - Quais os efeitos possíveis do resfriamento global, que o senhor
menciona?
Molion
- Um resfriamento global é ruim para todos. A História está
cheia de exemplos, em que a Humanidade sempre prosperou com clima quente e
regrediu, e civilizações até desapareceram, com clima frio.
De maneira geral, esse
novo ligeiro resfriamento entre 1999 e 2030 provocará uma pequena redução de chuvas na
Amazônia e no Nordeste brasileiro.
Nas regiões Sul e
Sudeste, os invernos serão mais frios, com uma frequência maior de geadas
severas, semelhantes as que ocorreram entre 1946 e 1976. Tais geadas poderão
ocorrer fora de época, antecipadas (abril/maio) ou tardias (outubro/novembro).
A frequência de veranicos
entre janeiro-fevereiro também deve aumentar. Ambos, geadas e veranicos,
contribuíram para redução de safras agrícolas no Sul/Sudeste.
IHU
On Line - A partir das suas constatações, como avalia as Conferências do Clima
da ONU?
Luiz
Carlos Molion - Infelizmente, como a ONU insiste no AGA, digo que tais Conferências das Partes (COP) são
perda de tempo e de dinheiro. Não trouxeram nada de relevante até hoje como
a Rio+20.
E o último exemplo, em
dezembro emDoha, Qatar, mostrou bem o que produziram as
anteriores. Mas, são de grande interesse dos “executivos negociadores” que são
muito bem pagos, com os impostos que os cidadãos recolhem.
IHU
On Line- Deseja acrescentar algo?
Luiz
Carlos Molion - Há muita gente contra a erroneamente chamada “Transposição
do São Francisco”. O Lago de Sobradinho tem
uma superfície de 4.214 quilômetros quadrados em sua cota normal de operação.
Esse
lago, inserido no semiárido, perde cerca de 400 cúbicos por segundo, isso
mesmo, 400 mil litros por segundo, por evaporação.
Para se
ter uma ideia do que isso representa, o mencionado rio Colorado (EUA), que transformou o deserto da
Califórnia no maior pomar do mundo, tem uma vazão média de 520 metros
cúbicos por segundo.
Ou
seja, o lago de Sobradinho perde um rio Colorado inteiro por evaporação para a
atmosfera.
Bastaria
reduzir de 4 metros de altura das comportas de Sobradinho
para a área do lago encolher um terço e diminuir a perda de água por
evaporação em 120 metros cúbicos por segundo, que poderiam ser “transpostos”
para o Nordeste brasileiro, dando, assim, uma solução
definitiva ao problema secular.
O lago
poderia ter um “reforço” com a transposição do rio Tocantins,
em Barra (BA), à montante de Sobradinho.
O
Tocantins funcionaria como uma “torneira” para quando o São Francisco precisasse de água, em caso de seca
nas serras de Minas Gerais. Soluções existem para o problema.
Mas,
será que existe interesse em resolvê-lo, ou é melhor manter o povo na
ignorância e na pobreza para ser mais facilmente manipulado?
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