O Brasil vive um
momento de avanço conservador e isso é inegável. O abismo ideológico é notado
em uma aliança de direita de novo tipo, gestada no interior do governo de
coalizão.
Logo que o pastor e
deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) foi indicado para assumir a
presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, li certos comentários
que me pareceram pertinentes.
Para além da crítica aos neopentecostais, alguns
colegas docentes elaboravam a ideia de uma rearticulação conservadora, mais
ideológica do que política, mas muito aguerrida em pautas específicas.
A aliança teria
dois alicerces. Um deles é o conservadorismo popular, explorado ao máximo pela
legião de pregadores da teologia da prosperidade metidos em política
profissional.
Outro alicerce é o do latifúndio, setor econômico fundamental
para a balança comercial brasileira e sempre vitorioso quando disputa uma pauta
contra os defensores do meio ambiente e agricultura de pequena escala.
A evidência para a
aliança conservadora em nível ideológico apareceu em artigo da senadora Kátia
Abreu (PSD-TO), publicado na Folha de São Paulo de sábado, 16 de março.
A
também presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA, equivalente ao
sindicato nacional de produtores rurais) escreve um libelo relacionando o pensamento
do italiano Antonio Gramsci com a proposta de redação do artigo 159 do Código
Civil.
Neste, segundo Abreu, estaria o intento de reviver o 3º Plano Nacional
de Direitos Humanos, elaborado no final de 2009 e de pronto descartado por
Lula.
No texto proposto
para o código civil, seria criado um novo paradigma quanto à posse da terra,
superando o senso comum ao menos nos temas dos conflitos agrários. Para Abreu,
a redação proposta, ao não aplicar a retirada imediata dos ocupantes (chamados
pela senadora de invasores), subtrai os poderes de pronta-resposta da polícia
para “tornar nulo o estatuto da reintegração de posse. E, junto com a anulação,
o direito de propriedade”.
Ultrapassa o espaço
deste artigo responder palavra por palavra do texto, mas vale destacar que
Kátia Abreu usa os termos “infiltração nos meios de comunicação” e “quebra
gradual dos valores cristãos”.
Trata-se de linguagem perigosa e terminologia
alarmista, parecendo saudosa da Guerra Fria e da ditadura. Como o latifúndio
não brinca e nem faz de si mesmo uma caricatura, é preciso tratar o embate com
a gravidade necessária. O país passa por uma rearticulação conservadora e é
isso tem de ser levado em consideração.
Bruno Lima Rocha é cientista político
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com)
Fonte: Blog do Noblat no twitter
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