... "Circo Brasil"
Rolf
Kuntz
Se o céu ajudar, os ventos forem favoráveis e os fatos
confirmarem a projeção mais otimista em circulação na praça, a economia
brasileira crescerá 3,2% em 2013 e 6,94% nos três primeiros anos da presidente
Dilma Rousseff.
Isso equivalerá a uma média anual composta de 2,26%. Talvez
ainda se possa falar de espetáculo do crescimento. Circos mambembes também anunciam espetáculos. Mas cobram pouco
pelo ingresso e seus dirigentes evitam equiparar-se aos melhores do ramo.
Este é outro detalhe do show mambembe: a inflação
prevista para o ano está na vizinhança de 5,7% e mesmo essa projeção pode ser
furada se as contas públicas forem administradas como até agora.
Mais de
uma vez, desde o fim do ano passado, o BC chamou a atenção para a tendência
expansionista das finanças federais. Esses componentes bastariam para fazer da
exibição do Circo Brasil uma das mais constrangedoras, mas o programa oferecido
ao distinto público é bem mais rico.
Outra grande atração do programa é a depredação das contas externas. O desastre poderá demorar um pouco, mas será inevitável se as tendências dos últimos seis ou sete anos
forem mantidas. A partir de 2007 as importações têm sido mais dinâmicas que
as exportações.
Com ou sem barreiras de proteção, a indústria brasileira
continua sujeita à concorrência de fabricantes mais competitivos e
a erosão do saldo comercial amplia o déficit em conta corrente.
Durante
algum tempo o problema foi atribuído ao real valorizado. A valorização cambial
atrapalhou, de fato, mas as demais desvantagens comparativas são muito mais
importantes, a começar pela tributação
incompatível com uma economia ligada, mesmo com limitações, ao mercado internacional.
É até grotesco insistir na história do câmbio quando os caminhões se enfileiram
nas estradas e o agronegócio brasileiro,
um dos mais eficientes do mundo, mal consegue enviar seus produtos aos portos.
A deterioração das contas
externas continua. De
janeiro a março o País acumulou um déficit comercial de US$ 5,15 bilhões.
Para
tapar esse buraco e alcançar o superávit de US$ 15 bilhões ainda estimado pelo
BC, o Brasil terá de conseguir nos nove meses restantes um saldo positivo de
US$ 20,15 bilhões, maior que o de todo o ano passado, US$ 19,43 bilhões.
A
mediana das previsões do mercado financeiro estava em US$ 12,4 bilhões na
semana passada. Em seu último informe conjuntural
a CNI reduziu para US$ 11,3 bilhões o saldo estimado para o ano. Em dezembro a
projeção ainda era de US$ 18,1 bilhões.
O quadro fica mais feio quando se olham os detalhes: a
exportação prevista é de US$ 253,4 bilhões, mais uma vez inferior à de 2011 (US$ 256 bilhões). No ano passado o valor ficou
em 242,6 bilhões. A importação, US$ 242,1 bilhões, continuará em alta e será
7,03% maior que a de dois anos antes.
Mesmo
com o cenário internacional adverso, as vendas do agronegócio continuarão
sustentando o resultado comercial. O PIB industrial, mesmo com crescimento
previsto de 2,6%, continuará muito
fraco, por causa das limitações estruturais.
Os incentivos adotados pelo governo continuam favorecendo mais o
consumo do que o investimento e a produção, mas o governo — por falha de
percepção, por interesse eleitoral ou
por uma combinação dos dois fatores — insiste nas medidas de curtíssimo alcance
já experimentadas nos últimos dois anos.
O espetáculo mambembe do crescimento ainda se completa com cenas grotescas de avacalhação da
máquina governamental. O número de
ministérios aumenta, mais uma vez, para a acomodação de aliados, e mais
estatais de valor muito duvidoso são criadas.
O loteamento continua, com a participação de siglas e de líderes
partidários afastados na faxina encenada em 2011. Mas uma boa parte do
distinto público aplaude como se assistisse a um espetáculo de classe mundial.
O Estado de S. Paulo, sábado, 6 de abril de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário