Encrenca adiada
Celso
Ming
O pacote para o setor de energia elétrica escancara fragilidades do governo Dilma e
mais um adiamento da solução de problemas.
O
governo vem sendo incapaz de assumir a vulnerabilidade da economia a um colapso
no fornecimento de energia elétrica. Essa situação poderia ser mais bem evitada
se a população fosse incentivada a reduzir o consumo ou por meio de estímulos
ou por meio do aumento de preços.
Mas, por uma reação narcisística que pretende
evitar qualquer ideia que lembre racionamento ou algo parecido, decidiu por
medidas paliativas e protelatórias cujo principal efeito é o aumento da
desconfiança, e não o contrário.
O pacote cuidou de repassar
imediatamente R$ 12 bilhões às distribuidoras de energia sem repassar
imediatamente essa despesa para o consumidor. O Tesouro se encarrega de uma
despesa adicional de R$ 4 bilhões, 10% do que a presidente Dilma prometeu
cortar há apenas 23 dias, a ser coberto com aumento de impostos, que ninguém
explicou como será.
Outra
decisão é levar a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica a contratar uma
dívida de R$ 8 bilhões. Como esta é uma instituição sem ativos e, portanto,
incapaz de fornecer garantias reais, não haverá instituição privada capaz de
adiantar esses recursos.
A saída será apelar para os bancos públicos de sempre: Banco do Brasil,
Caixa Econômica Federal e BNDES, apenas para disfarçar o adiantamento
de uma conta que, depois das eleições, será descarregada sobre o consumidor.
Outra decisão será a realização de um
leilão de “energia existente” para tentar reforçar a oferta. Como quase tão
somente a Petrobrás possui unidades termoelétricas que podem ser acionadas,
embora a custos mais altos, o resultado será nova sobrecarga do caixa da
empresa.
O governo se exime de responsabilidades pela crise. Argumenta que é vítima de uma fatalidade
provocada por uma seca implacável. Não é assim. O colapso é o resultado de uma
administração casuística e autoritária do setor, que não consegue nem sequer
reconhecer que o sistema está vulnerável a apagões provocados por raios ou por
ação de queimadas sob linhas de transmissão.
Culpar a falta de chuvas é o mesmo
que descarregar a raiva sobre “esse juiz mal-intencionado (segue-se o palavrão
de praxe)” pela inversão da marcação de uma falta que levou o time à derrota.
Os problemas do perdedor são outros: mau preparo físico e técnico, falta de
padrão de jogo, desmotivação dos atletas, etc.
A presidente Dilma interferiu
autoritariamente no mercado com a Medida Provisória 579, de setembro de 2012, e
desorganizou o sistema. A construção de hidrelétricas e de linhas de
transmissão, que poderiam regularizar a oferta, está cronicamente atrasada.
A
queima de óleo diesel em termoelétricas ultrapassadas é mais um fator que
provoca a deterioração do caixa da Petrobrás. E tem essa omissão
incompreensível que bloqueia uma política de uso racional de energia em tempos
de escassez.
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