Como um país que
dobrou sua capacidade de geração de energia elétrica em um período
relativamente curto, de menos de vinte anos, pode se ver na contingência de
racioná-la, mesmo que o consumo não tenha se expandido em igual proporção? A
razão é que essa expansão de capacidade não tem igual correspondência com a
chamada energia firme, aquela que é efetivamente assegurada.
A maior parte das
hidrelétricas, por exemplo, só consegue assegurar ao longo de um ano ano, em
média, o equivalente à metade de capacidade de geração. Nos momentos que os
rios estão cheios, no máximo de sua vazão, tais usinas podem até operar a plena
capacidade.
A futura usina de
Belo Monte, no Rio Xingu, contribuirá pouco para o sistema interligado em
alguns meses do ano, enquanto só no período da cheia poderá operar a 100%. As
usinas eólicas também costumam assegurar energia equivalente a menos de 40% de
sua capacidade, e isso quando há bons ventos.
A vantagem é que há
uma complementaridade com o sistema hidráulico; geralmente venta mais quando
chove pouco no Nordeste, e vice-versa . E, à noite, quando o consumo de energia
diminui na região, os ventos são mais predominantes, e, nesse horário, usinas
hidráulicas podem ser menos acionadas, possibilitando o enchimento de
reservatórios. E aí está o xis da questão.
Na matriz elétrica
brasileira, a energia precisa ser armazenada sob a forma de água acumulada nos
reservatórios. No passado, essa acumulação de água possibilitava o planejamento
da oferta de energia por cinco anos à frente.
Esse horizonte foi
se estreitando à medida que novas hidrelétricas foram construídas sem
reservatórios. No quadro atual, a energia acumulada nos reservatórios
existentes só poderia suprir o país por cinco meses. Usinas com reservatórios
de acumulação são aquelas em que a vazão dos rios permite que, ao menos durante
uma fase do ano, se guarde parte da água junto (a montante) às barragens.
As demais usinas
são a fio d’água, porque não há essa acumulação, e o volume de água que chega
às barragens é o mesmo que passa pelas turbinas e pelas comportas dos
vertedouros. Assim, quando os rios estão cheios, as usinas podem operar a plena
carga. Por causa da altura das barragens, uma usina a fio d’água pode represar
água a montante, como é o caso de Itaipu, mas tecnicamente o lago formado não é
considerado reservatório.
A topografia muitas
vezes ajuda a formação de reservatórios e esse é o caso dos vários existentes.
Nas regiões mais planas, reservatórios podem ser menos profundos e se estender
por vastas áreas, o que não se admite nos critérios de proteção ambiental
Esse foi o argumento que acabou prevalecendo no
Brasil para se banir do cenário a construção de novas hidrelétricas com
reservatórios de acumulação. Mas, se o propósito foi proteger o ambiente, o
tiro saiu pela culatra, pois a alternativa tem sido construir usinas térmicas,
bem mais caras e com impacto muito mais poluente.
Fonte: Globo, coluna do Noblat
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