quarta-feira, 26 de março de 2014

Os 'verdes' e a seca


CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sem supervisão
Sessão: 063.4.54.O
Hora: 14h4
Fase: PE
Orador: LAEL VARELLA
Data: 26/03/2014

O SR. LAEL VARELLA (DEM-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o intenso calor e a estiagem dos últimos meses levou o Brasil a quase igualar os recordes de 70 anos atrás quando não havia aquecimento global antropogênico, nem preocupação com o CO2, nem ecologistas tentando tumultuar o ambiente com suas teorias. 

Mas o calor e a seca foram motivo para pânico e terrorismo climático por parte dos verdes. Não poderiam faltar ao quadro as falsas soluções do socialismo vermelho, contrariando a ciência e o bom senso.

O fenômeno serviu, de um lado, para avaliar a facilidade com que os exageros verdes são acolhidos por certa mídia. Mas, de outro, felizmente serviu para ouvir mais uma vez o bom senso de cientistas objetivos. Do lado catastrofista, como apontou o blog Verde a nova cor do comunismo, temos o jornalista Washington Novaes reproduzindo velhos chavões como a existência de estudos científicos que alertam para a gravidade e o adensamento progressivo das mudanças, para a necessidade de implantar sem perda de tempo políticas e programas de mitigação e adaptação a essas transformações. Mas têm encontrado pela frente o ceticismo — quando não o descaso. Ou a crença nas avaliações dos chamados céticos do clima (O Estado de S. Paulo, 14.02.2014).

Testemunhos em seu favor não faltam e o distinto jornalista não hesitou em apelar aos mais mirabolantes ao citar estudiosos como Nicholas Stern quando afirmam que o aumento da temperatura no mundo será de 4 a 5 graus até o fim do século. James Lovelock, autor da teoria Gaia, chega a prever (Rolling Stone, novembro de 2013) que a raça humana está condenada a perder mais de 5 bilhões da população até2.100, com o Saara invadindo a Europa, Berlim tornando-se mais quente que Bagdá.

Além de outras profecias como a temperatura que subirá 8 graus na América do Norte e na Europa. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, não haverá pausa no aumento da temperatura; cada década será mais quente. Não adianta mais exorcizar o que os céticos chamavam de profetas do Apocalipse. Nem fechar os olhos à realidade.

Por outro lado, nosso ex-colega Xico Graziano em artigo no jornal O Estado de São Paulo (18.02.2014), nos falou de algo bem conhecido e sensato. No Brasil faz calor, acontecem secas, e em certas ocasiões são recordes. A seca e o calor são velhos conhecidos do Brasil inteiro. Para ele, isso é prato cheio para o catastrofismo ecológico. Estrila a voz dos que apregoam o fim do mundo pela nefasta ação do homem sobre o meio ambiente. Na teoria das mudanças climáticas, o efeito antrópico sobrepõe-se às causas naturais.

Atenho-me às palavras de Graziano: No caso brasileiro, por exemplo, supõe-se que até o final deste século a floresta amazônica se transforme numa savana, um bioma árido semelhante ao cerrado do Centro-Oeste. Nesta região, inversamente, passaria a chover mais. Vai saber.

Pode ser que as mudanças climáticas e a ocupação humana estejam afetando o regime de chuvas. Seca, porém, não é privilégio contemporâneo. Na História da humanidade verificam-se terríveis períodos com pronunciada falta dágua. Sua repetida ocorrência é arrolada por Jared Diamond entre as explicações do colapso da civilização maia.

Falar em seca aqui, no Brasil, lembra o Nordeste. Vem de longe o recorrente problema. O primeiro relato da falta de chuvas na região é de 1583, descrito pelo padre Fernão Cardim, então apiedado pelo sofrimento dos índios do sertão.

Quase dois séculos depois, entre 1877 e 1879, parte importante dos moradores de Fortaleza pereceu em devastadora seca que afetou especialmente o Ceará. De tempos em tempos o nordestino padece no tórrido chão. Há dois anos, metade do gado bovino morreu no semiárido, durante a maior seca dos últimos 50 anos.

Os eventos históricos mostram, à farta, que muito antes de os cientistas se preocuparem com o meio ambiente as secas já danificavam economias e arrasavam populações.

Para encerrar, cito ainda um meteorologista de fala ponderada e com séria explicação sobre o calor e a seca de 2014, Paulo Etchichury, diretor da Somar, empresa de análise do clima. Em entrevista ao mesmo jornal acima citado de 2.04.2014, explicou por que o calor e a seca destes meses não têm relação com as mudanças climáticas, mas fazem parte de ciclos naturais de altas e de baixas na temperatura do Oceano Pacífico.

Para Etchichury, o calor que padecemos neste início de ano tem uma explicação, ou seja, estamos no que se chama de Oscilação Decadal do Pacífico — decadal porque envolve décadas, em ciclos de aproximadamente 30 anos. De 1975 a 2005, o Pacífico esteve mais tempo quente do que frio. Isso provocou mais chuva no Centro-Sul do Brasil e invernos mais amenos. Agora há um consenso na comunidade científica de que voltamos ao padrão registrado entre 1945 e 1975, quando o Pacífico ficou mais tempo frio.

Para o diretor da Somar Meteorologia, a oscilação decadal é um ciclo natural, que não tem nenhuma relação com o fenômeno conhecido como mudanças climáticas.

Ao ser indagado se teremos de nos preparar para uma nova realidade pelos próximos 25 anos, ele respondeu: Sim. O mais importante é abandonar o paradigma de que, se tivermos uma seca, a estação chuvosa vai repor os reservatórios de água, os lençóis freáticos e a umidade do solo. Não temos mais essa garantia e precisamos nos preparar para isso.

As afirmações do meteorologista não tem a estridência midiática dos exageros apocalípticos verdes nem das drásticas soluções socialistas e estatistas vermelhas. Portanto, apresento as minhas congratulações ao meteorologista e ao seu trabalho. Suas palavras transmitem a honestidade da ciência não manipulada com viés ideológico e trazem a tranquilidade e o equilíbrio de que o Brasil precisa tanto e tanto.

Tenho dito.

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