PARECE
QUE É, MAS NÃO É
Jacinto
Flecha
Muitos
que assistiram ao filme “Os Dez Mandamentos” devem ter-se perguntado como o
diretor Cecil B. de Mille conseguiu mostrar a enorme fenda abrindo-se nas águas
do Mar Vermelho, para os hebreus o atravessarem a pé enxuto. O truque foi uma
grande gelatina, na qual a fenda foi aberta por um possante ventilador.
Filmada
esta cena, o deslocamento dos hebreus amedrontados foi depois acrescentado em
estúdio, por superposição de imagens contidas em outro filme. Artifícios assim
perderam espaço para a informática, com seus efeitos especiais estupendos.
Imagens
forjadas podem ser inocentes, mas podem também camuflar intenções sem nenhuma
inocência. Manipuladas pela propaganda, estas produzem no público impressões
falsas. Ou seja, parece que é, mas não é; ou então é, mas parece que não é.
Muito complicado isso? Não se preocupe, pois vamos passar aos exemplos.
Uma
grande foto de primeira página na imprensa mostrou um auditório repleto de
pessoas assistindo a uma conferência em Brasília. Quase todos usavam chapéu de
palha com aba larga, de dar inveja a qualquer mexicano. A impressão era: um
operoso grupo de trabalhadores rurais, acostumado à faina do campo, ouvindo
atentamente as informações de entendidos, a fim de aprimorar seus conhecimentos
agropecuários.
Mas alguns detalhes dão o que pensar: Todos os chapéus eram
iguais, e eram zero quilômetro; naquele recinto fechado, provavelmente com ar
condicionado, não havia o menor risco de o sol aquecer cabeças que estivessem
descobertas; e qualquer agricultor autêntico sabe que a boa educação manda não
usar chapéu dentro de casa.
Tudo
ali parece que é, mas não é – tão falso quanto remendo em roupa de festa
junina. A foto mostrava os personagens por trás, não permitindo apreciar os
rostos curtidos dos agricultores. E acaso o leitor acredita que ali houvesse
algum agricultor de rosto curtido? Só se foi pelo sol da praia.
Mas por que
usaram aquela fantasia? Ora essa! É claro que alguns agitadores bem remunerados
tinham de parecer agricultores diante do respeitável
público – uma ilusão de ótica proposital e propagandística.
Vamos a
outro caso. O Incra precisava mostrar serviço, e publicou um livreto ufanista
intitulado Balanço da Reforma Agrária e da
Agricultura Familiar – O Futuro Nasce da Terra. A foto da capa
mostra assentados usando enxadas, e ninguém faz objeção a isso. Mas quem tem
alguma vivência de assuntos agrícolas vê logo que a metade dos “trabalhadores”
empunha a enxada de modo errado, ou seja, não sabe usá-la. Parece que é, mas
não é – outra ilusão de ótica encomendada.
Para que serve essa pose fotográfica
com maus atores? É que a distribuição de terras pelo Incra tem sido um total e
rotundo fracasso, resultando nas favelas rurais. Daí os marqueteiros oficiais
precisarem dar a impressão de que tudo corre às mil maravilhas.
Recursos
como esse já são marca registrada. Uma cena exaustivamente repetida no
noticiário mostra bandos do MST empunhando foices e enxadas em manifestações ou
invasões. Foice e enxada são instrumentos muito primitivos, mas em pleno uso
até hoje. E necessários, pois os pastos precisam ser roçados e o capim precisa
ser capinado. Se o agricultor sabe mesmo usá-los, não lhe falta emprego.
Os
bandos de sem-terra de passeata sempre exibem foices e enxadas,
parecendo reivindicar com isso um lugarzinho para exercer suas aptidões.
Acontece que a prática dos agricultores verdadeiros desenvolveu um modo muito
cômodo de transportar a foice ou a enxada de casa para a roça e vice-versa: vai
no ombro, em posição mais ou menos horizontal.
Alguns até penduram no cabo uma sacola
contendo gêneros diversos. Esse conjunto fica nas costas (na cacunda, como
dizem), contrabalançado na frente pela mão que segura a outra ponta do cabo.
Como é
que os sem-terra de passeata seguram foices e enxadas? Em pé, como se fossem
lanças, alabardas ou porretes. Atitude claramente agressiva, de quem está
pronto para atacar quem lhes atravesse o caminho. Poderiam ser instrumentos de
trabalho, mas tornam-se armas ameaçadoras quando usadas porsem-terra de invasão.
O respeitável público é induzido a crer na primeira hipótese, que de fato
oculta a outra intenção; e esta os proprietários de terras invadidas conhecem
bem.
Bandos
de sem-terra de barraca multiplicam-se Brasil afora. Mas o que
de fato se multiplica são só as barracas pretas, quase sempre desabitadas, que
congestionam as estradas e o noticiário. A impressão é de trabalhadores rurais
à procura de trabalho, mas enquanto isso os proprietários rurais não conseguem
contratar trabalhadores, e são obrigados a adquirir dispendiosas máquinas
agrícolas para realizar o serviço. Uma antiga música carnavalesca não deixa por
menos: “Enquanto isso, na minha casa, ninguém arranja uma empregada”.
Esses bandos comandados por
agitadores fariam boa figura “assentados” em tratores ou colheitadeiras. Mas
será que querem mesmo trabalhar? Mais uma vez: parece
que é, mas não é.
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