Qual o próximo passo, camarada?
Leo Daniele (*)
Vladimir Ilich, mais conhecido como Lênin, é
um bom conselheiro para quem procura maus conselhos. Autor de uma obra sobre o
papel dos sovietes, ele daria, se ainda estivesse vivo, algumas indicações para
as suas bases brasileiras. Coçando a barba rala, ele diria a um porta-voz de
seus seguidores daqui:
— Vocês
já têm um número razoável de sovietes no campo. Até estão conseguindo o
prodígio de criar sovietes indígenas, sob o pretexto de que estes são os
autênticos brasileiros! Mas falta executar a mesma performance nas cidades, nas
indústrias e no comércio.
— Não
estamos tão atrasados assim, diz seu interlocutor. Vale a pena lembrar a edição
do Decreto n.º 8.243/14, que institui conselhos (ou sovietes) junto aos
diversos ministérios.
— Bem.
Mas quando vejo em São Paulo, e também em tantas outras cidades do Brasil, uma
floresta de prédios, fico pensando como seria bom (para o partido, é claro) se
a cada uma daquelas pontas correspondesse um soviete.
— É
verdade. No entanto, temos um problema, que é o fracasso da reforma no campo.
Segundo Zander Navarro, antigo ativista da Reforma Agrária, “é preciso
reconhecer desapaixonadamente o fato agora definitivo: morreu a reforma agrária
brasileira. Falta apenas alguma autoridade intimorata para presidir a
solenidade de despedida”.(1)
* * *
A Reforma Agrária morreu mesmo? Ou está jogando com
vistas a migrar, no silêncio, para uma outra área? A
área urbana, por exemplo, a tributária e depois a empresarial? É bom
pensar nisso!
Depois da terrabrás, agora temos
a tetobrás. Como demonstrou Roldão Arruda no artigo Reforma
urbana toma lugar de reforma agrária” (2), trata-se da reforma
esquerdista dos tetos, das residências, dos edifícios, ou seja, a sinistra
reforma urbana.
Dentro da lei? — Não parece, segundo Natália
Szermeta, uma das coordenadoras do MTST:
“Não vamos ficar de braços
cruzados. A gente vai mostrar que não está de brincadeira, que a gente cansou.
Vamos botar a cidade de São Paulo para chacoalhar, para tremer”.(3)
* * *
A tal
respeito, retomaria o camarada Lênin:
— Depois
da reforma urbana, trabalharemos intensamente com os sem-teto, a fim de criar
uma tetobrás. Com isso, teríamos avançado na execução do esquema da dualidade
de poderes!
— Ops! O
que é isso? Pergunta, curioso, seu interlocutor.
— Vejo
que você não leu meu livro sobre a dualidade de poderes!(4)Você está atrasado!
Trata-se de formar um grande número deconselhos populares – soviete
quer dizer, justamente, conselho popular; é o que já está em projeto no Brasil.
E de unificar, de maneira real ou fictícia, esses conselhos, tornando-os um
poderoso instrumento, primeiro de pressão, depois de mando. Seria o
que vocês chamam de revolução bolivariana em marcha.
* * *
Como se fosse possível espatifar duas vezes com o
mesmo avião ou voltar a afundar com o mesmo navio, a esquerda parece desejar
reincidir no mesmo fracasso da Reforma Agrária. Só que agora nas cidades. É
a tetobrás.
Vejamos o que se passou com a Reforma Agrária. Ela
entrou em cena em grande escala, com muito barulho e demagogia. Mas os sinos
tocaram! Ouviu-se o alarme em todo o Brasil. Travou-se enorme polêmica. De um
lado, a esquerda católica, capitaneada por D. Hélder Câmara, que deu no que
deu... Na corrente contrária, sobressaía Plinio Corrêa de Oliveira e o
livro Reforma Agrária – Questão de Consciência. E, ao mesmo tempo,
nascia TFP. A batalha foi feroz.
Como escreveu o príncipe Dom Bertrand de Orleans de
Bragança na introdução à edição comemorativa dos 50 anos dessa obra, “nenhum
outro livro causou tanta repercussão e influenciou tanto o debate ideológico e
político brasileiro no século XX”.
Passou-se o tempo e chegou a hora da verdade. Como
diz Zander Navarro, “morreu a reforma agrária”. Agora,
vejamos qual será a sorte da reforma urbana.
Qual o próximo passo nessa avançada maluca e
anticristã? Ora, a reforma industrial! Sempre é bom pôr as barbas de molho!
(*) Leo Daniele é escritor e colaborador da ABIM.
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Notas:
1. “O Estado de S. Paulo”, 21-9-13.
2. “O Estado de S.
Paulo”, 20-7-14.
3. “O Estado de S.
Paulo”, 17-7-14.
4. V. I. Lênin, La
Dualidad de Poderes (Obras escogidas, Ed. Progreso, Moscou, 1970, 2,
p. 40 e ss.).
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