terça-feira, 30 de setembro de 2014

Desacerto fundamental entre políticos e opinião pública



Para empresário, Dilma e Marina representam “perigo esquerdista”
ROLDÃO ARRUDA

28 Setembro 2014 | 21:48

Presidente de organização ultraconservadora diz que Marina Silva (PSB) faz parte da esquerda; e publicação socialista francesa afirma que ela é 
“a nova direita” 

O Instituto Plínio Corrêa de Oliveira divulgou um comunicado sobre a reta final das eleições para a Presidência da República, com o seguinte título: O Brasil Ante o Perigo Esquerdista e o Vácuo Político. No texto, a organização lamenta que o pleito esteja se encaminhando, segundo as pesquisas de intenção de voto, “para uma disputa entre dois projetos de esquerda”.

O comunicado leva a assinatura do empresário Adolpho Lindenberg, presidente do instituto, formado por remanescentes da antiga Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, mais conhecida pela sigla TFP. Seu propósito, tanto agora quanto na década de 1960, quando foi às ruas contra o governo do presidente João Goulart, é defender a organização da sociedade a partir de dogmas católicos.

O eixo central do documento é a tese de que o PT precisa ser afastado do poder. Lembra que após o acidente aéreo que resultou na morte do candidato Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), a ex-ministra Marina Silva começou a aparecer como a melhor alternativa para a consumação desse projeto político. Não haveria diferenças significativas, porém, entre as propostas dela e as da candidata do PT, presidente Dilma Rousseff. São “dois projetos políticos esquerdistas, não tão diferentes entre si”, segundo o texto.

“Some-se a isso certa nota messiânica, certo utopismo de quimeras suaves ou brilhantes, envolta em linguagem fantasiosa e sedutora, que cria a impressão, ou a ilusão, da possibilidade de uma outra política”, continua o documento, referindo-se ao estilo de Marina na campanha.

O Brasil, ainda segundo o texto, vive “um desacerto fundamental entre o mundo político e a parte preponderante da opinião pública”. O sinal mais claro disso seria a repetição de candidaturas mais à esquerda do que no centro ou à direita. “Quase todas as candidaturas de peso tendem para a esquerda (mais ou menos radical) e a imensa maioria da população, centrista e conservadora, não encontra representante de projeção que com ela se identifique”, afirma.

ABORTO

Ao final, o documento realça as principais bandeiras políticas do instituto: contra qualquer proposta de reforma agrária (“viola o direito de propriedade, consagrado em dois Mandamentos da Lei de Deus”); contra alterações no índice de produtividade rural (ideia defendida no programa de Marina); contra a reforma urbana (“mais tempestuosamente esquerdista do que a reforma agrária”); contra a política de demarcação de terras para indígenas e quilombolas  (“baseada numa concepção hipertrofiada dos direitos dos índios”); contra mudanças legais que favoreçam a união entre pessoas do mesmo sexo (“flagrantemente oposta à Lei natural e à moral revelada”); contra a criminalização da homofobia (“abriria as portas para a perseguição de caráter religioso”); contra a atual política da CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (não estaria fazendo o Brasil sentir “a influência sobrenatural da Santa Igreja”);  e contra mudanças na legislação sobre o aborto.

Sobre esse último item, o documento afirma que nas campanhas “não há clareza, nem determinação nas propostas políticas de defesa da vida” e que Dilma e Marina estariam evitando o tema nos debates: “Os eleitores podem recear que esse silêncio seja prenúncio, após as eleições, por parte das candidatas que agora lideram as pesquisas, de medidas e propostas que agridam o sentir comum de nossa população, e se choquem com os valores cristãos da grande maioria da mesma”.

Ao listar propostas para os candidatos, o documento diz que, em primeiro lugar, deve “ser a alternativa clara e firme ao governo do PT”.

‘NOVA DIREITA’

Em sentido oposto à manifestação do instituto presidido por Lindenberg, o jornal francês L’Humanité publicou em sua edição dominical uma reportagem sobre as eleições no Brasil com o seguinte título: “Marina Silva, a Nova Direita Brasileira”. Logo abaixo aparece: “O primeiro turno da eleição presidencial no Brasil será no dia 5 de outubro. As duas candidatas, Marina Silva e Dilma Rousseff, a presidente atual, aparecem ombro a ombro nas pesquisas. Mas quem é verdadeiramente Marina Silva?”

O L’Humanité já foi o porta-voz oficial do Partido Comunista Francês. Hoje não tem mais ligação direta com a organização, mas continua defendendo e divulgando ideias socialistas.

Uma das fotos que ilustram a reportagem de três páginas mostra o pastor Marco Feliciano durante a pregação de um culto evangélico. A reportagem afirma que Marina mudou a parte de seu programa na qual defendia os direitos dos homossexuais, para agradar ao eleitorado evangélico.

O material foi rapidamente reproduzido em blogs favoráveis à reeleição de Dilma.

Nota: Os destaques são nossos

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