Para empresário, Dilma e Marina representam “perigo esquerdista”
ROLDÃO ARRUDA
28 Setembro 2014 | 21:48
Presidente de organização ultraconservadora diz que Marina Silva (PSB) faz
parte da esquerda; e publicação socialista francesa afirma que ela é
“a nova direita”
O Instituto Plínio Corrêa de
Oliveira divulgou um comunicado sobre a reta final das eleições para a
Presidência da República, com o seguinte título: O Brasil Ante o Perigo
Esquerdista e o Vácuo Político. No texto, a organização lamenta que o pleito
esteja se encaminhando, segundo as pesquisas de intenção de voto, “para uma
disputa entre dois projetos de esquerda”.
O comunicado leva a assinatura
do empresário Adolpho Lindenberg, presidente do instituto, formado por remanescentes da antiga
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, mais
conhecida pela sigla TFP. Seu propósito, tanto agora quanto na década de 1960,
quando foi às ruas contra o governo do presidente João Goulart, é defender a
organização da sociedade a partir de dogmas católicos.
O eixo central do documento é
a tese de que o PT precisa ser afastado do poder. Lembra que após o acidente
aéreo que resultou na morte do candidato Eduardo Campos, do Partido Socialista
Brasileiro (PSB), a ex-ministra Marina Silva começou a aparecer como a melhor
alternativa para a consumação desse projeto político. Não haveria diferenças
significativas, porém, entre as propostas dela e as da candidata do PT,
presidente Dilma Rousseff. São “dois projetos políticos esquerdistas, não
tão diferentes entre si”, segundo o texto.
“Some-se a isso certa nota
messiânica, certo utopismo de quimeras suaves ou brilhantes, envolta em
linguagem fantasiosa e sedutora, que cria a impressão, ou a ilusão, da
possibilidade de uma outra política”, continua o documento, referindo-se ao
estilo de Marina na campanha.
O Brasil, ainda segundo o
texto, vive “um desacerto fundamental entre o mundo político e a parte
preponderante da opinião pública”. O sinal mais claro disso seria a repetição
de candidaturas mais à esquerda do que no centro ou à direita. “Quase todas as
candidaturas de peso tendem para a esquerda (mais ou menos radical) e a imensa
maioria da população, centrista e conservadora, não encontra representante de
projeção que com ela se identifique”, afirma.
ABORTO
Ao final, o documento realça
as principais bandeiras políticas do instituto: contra qualquer proposta de
reforma agrária (“viola o direito de propriedade, consagrado em dois
Mandamentos da Lei de Deus”); contra alterações no índice de produtividade
rural (ideia defendida no programa de Marina); contra a reforma urbana (“mais
tempestuosamente esquerdista do que a reforma agrária”); contra a política de
demarcação de terras para indígenas e quilombolas (“baseada numa
concepção hipertrofiada dos direitos dos índios”); contra mudanças legais que
favoreçam a união entre pessoas do mesmo sexo (“flagrantemente oposta à Lei
natural e à moral revelada”); contra a criminalização da homofobia (“abriria as
portas para a perseguição de caráter religioso”); contra a atual política da
CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (não estaria fazendo o
Brasil sentir “a influência sobrenatural da Santa Igreja”); e contra
mudanças na legislação sobre o aborto.
Sobre esse último item, o
documento afirma que nas campanhas “não há clareza, nem determinação nas
propostas políticas de defesa da vida” e que Dilma e Marina estariam evitando o
tema nos debates: “Os eleitores podem recear que esse silêncio seja prenúncio,
após as eleições, por parte das candidatas que agora lideram as pesquisas, de
medidas e propostas que agridam o sentir comum de nossa população, e se choquem
com os valores cristãos da grande maioria da mesma”.
Ao listar propostas para os
candidatos, o documento diz que, em primeiro lugar, deve “ser a alternativa
clara e firme ao governo do PT”.
‘NOVA DIREITA’
Em sentido oposto à
manifestação do instituto presidido por Lindenberg, o jornal francês L’Humanité
publicou em sua edição dominical uma reportagem sobre as eleições no Brasil com
o seguinte título: “Marina Silva, a Nova Direita Brasileira”. Logo abaixo
aparece: “O primeiro turno da eleição presidencial no Brasil será no dia 5 de
outubro. As duas candidatas, Marina Silva e Dilma Rousseff, a presidente atual,
aparecem ombro a ombro nas pesquisas. Mas quem é verdadeiramente Marina Silva?”
O L’Humanité já foi o
porta-voz oficial do Partido Comunista Francês. Hoje não tem mais ligação
direta com a organização, mas continua defendendo e divulgando ideias
socialistas.
Uma das fotos que ilustram a
reportagem de três páginas mostra o pastor Marco Feliciano durante a pregação
de um culto evangélico. A reportagem afirma que Marina mudou a parte de seu
programa na qual defendia os direitos dos homossexuais, para agradar ao
eleitorado evangélico.
O material foi rapidamente
reproduzido em blogs favoráveis à reeleição de Dilma.
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