...Sinais dos tempos
Péricles Capanema
Frei Betto declarou voto em Dilma. Em linguagem por
vezes velada justificou sua posição, alinhando motivos pelos quais muita gente
no Brasil será orientada pelo esquerdismo católico a sufragar a atual
presidente em 26 de outubro.
O ex-frei Boff reforçou o apoio e também dom
Demétrio, bispo de Jales que, com petulância, aproveitou para avisar: ─ Dilma,
ao chegar aqui, viu o retrato do Papa Francisco e falou: Agora temos um papa
que nos apoia.
Vamos às razões apresentadas pelo religioso
dominicano: ─ Darei meu voto à Dilma para preservar a política externa do
Brasil, soberana e independente, e aprimorar os programas sociais que, nos
últimos anos, livraram da miséria 36 milhões de brasileiros(as).
Embora o
governo do PT tenha defeitos e contradições, não troco o conhecido pelo
desconhecido. Quero um governo com política de participação social,
comprometido com a agricultura familiar e a preservação da Amazônia.
ouvo o
Programa Mais Médicos que, graças à ação preventiva, reduz significativamente a
mortalidade infantil. E voto em um governo que não criminaliza movimentos
sociais, esteios da democracia. ─ É isso.
Agora, desvelar algumas delas.
1º) Preservar a política externa do Brasil, soberana
e independente. Está aqui o primeiro e, ao que parece, mais relevante motivo.
Na novilíngua companheira política externa soberana quer dizer agir contra os
Estados Unidos.
Independente quer dizer subserviente aos interesses das
ditaduras cubana e venezuelana; fora o resto. Em resumo, o governo Dilma agride
interesses vitais dos Estados Unidos e bafeja ditaduras socialistas; isso deixa
frei Betto eufórico.
Na linguagem rançosa bolchevista, os Estados Unidos são o
“inimigo principal”, e vale tudo para prejudicá-lo.
Foram exemplo as
estarrecedoras declarações da presidente brasileira em Nova York propondo
diálogo com terroristas do Estado islâmico, de outro jeito, com o incipiente
califado jihadista que decapita turistas, jornalistas e crucifica cristãos, bem
como sonha com tirania mundial enquadrada pela aplicação linear da sharia.
Um
jornalista fez a pergunta: ─ Os Estados Unidos começaram os ataques aéreos na
Síria, qual a posição do governo? A presidente emendou de primeira: ─ Eu
lamento enormemente isso. O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o
diálogo. ─ Mas era o mundo civilizado que não queria acreditar no que ouvia.
A
proposta estava rombudamente clara: começar o diálogo entre a imensa coligação
chefiada pelos Estados Unidos e um bando de terroristas corta-cabeças. Nem é
necessário comentar.
Já em Brasília, a presidente tentou consertar e balbuciou
confusos desmentidos ao que tinha proclamado em Nova York. Adiantaram nada, era
óbvio o sentido das palavras. O presidente Barack Obama, discursando na ONU,
teve resposta perfeita às aterradoras palavras da presidente: ─ A única
linguagem compreendida por assassinos como esses é a da força. ─ E assim o
Brasil continuaria trotando na trilha em que o frei Betto trabalha para
mantê-lo: enfraquecer os Estados Unidos.
Na Europa, tal política, ao debilitar
o maior adversário, ajuda o expansionismo autoritário do autocrata russo
Vladimir Putin.
2º) Aprimorar os programas sociais. No exato, os
programas sociais do governo, como estão sendo postos em prática, em numerosos
casos perenizam a dependência e a subserviência; de outro modo, no longo prazo,
favorecem o empobrecimento e dificultam o crescimento pessoal.
3º) O frei dominicano, corifeu do esquerdismo
católico, não podia deixar passar a ocasião de, mais uma vez, apadroar o
totalitarismo comunista dos irmãos Castro que rouba a maior parte do salário
dos médicos-escravos cubanos no Brasil: ─ Louvo o programa Mais Médicos.
Agora, vamos sair da cerração e respirar ar limpo.
Ponho meu foco na boicotada tomada de posição de destacado órgão católico,
obediente à doutrina ensinada pela Igreja.
Em 23 de agosto próximo passado a
Comissão de Defesa da Vida do Regional Sul 1 – CNBB, que agrupa 41
arquidioceses e dioceses, aprovou texto que faz a defesa da vida inocente desde
a concepção e enuncia com nitidez a congruente oposição ao aborto voluntário.
Fundamenta a posição sobretudo em palavras do papa Francisco e contundentes
ensinamentos dos dois papas anteriores, Bento XVI e João Paulo II. E ainda
reproduz advertência do bispo de Guarulhos, dom Edmilson Amador: ─ Se um candidato
escolheu um partido que tem posições contrárias à defesa da vida, desde a sua
concepção até a morte natural, e vincula e obriga a esta posição, seria imoral
para o cristão fazer tal opção política.
O documento elenca graves e incontestáveis fatos que
provam a contumaz política do governo atual de favorecer a prática do aborto. E
deixa evidente que um católico não pode votar pela continuação de um governo
que promove o assassinato de inocentes; seria imoral.
O texto foi assinado
pelos coordenadores da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul-1 da CNBB das
arquidioceses e dioceses de Campinas, Guarulhos Itapetininga, Santo André, São
José dos Campos e ainda pelo pe. Berardo Graz. Os signatários recordam que
ex
ercem o papel profético da denúncia e que calar-se constituiria omissão
grave. Autorizaram sua difusão dom Benedito Simão, bispo de Assis, e dom Emílio
Pignoli, bispo referencial da Pastoral Familiar.
Em São Paulo, arquidiocese que faz parte da Regional
Sul-1, a assessoria de dom Odilo Scherer informou que a comissão é autônoma e
que ele não tem vinculação com o documento. Pulou fora, como se vê.
Tem mais. O
corajoso testemunho não consta de nenhum site oficial da CNBB. Em português
claro, a ocultação minuciosa e intolerante do importante pronunciamento pela
censura, além de obstáculo iníquo à alardeada participação de leigos,
sacerdotes e bispos no legítimo esclarecimento dos fieis, lesiona o próprio
direito à informação.
E quem não enxerga na inclemente atitude, na prática,
escandaloso favorecimento da candidatura petista? Contudo, convém notar, em
áreas eclesiásticas, pelo que sei, ainda não apareceu nenhuma crítica
doutrinária, nem reparo quanto à oportunidade.
O máximo a que esses infelizes
êmulos de Goebbels conseguiram chegar (quero crer na minha espessa ingenuidade,
ego autem in innocentia mea ingressus sum, que nenhum bispo participou do feroz
abafa no interior da CNBB) foi ao silêncio contrafeito. De fato, nem seriam
concebíveis repreensões iradas; a peça é a pura expressão do que afirma a moral
católica sobre a vida humana e ali só existe sua aplicação lógica a fatos
atuais. Seus autores falaram direito em português claro.
Sinais dos tempos em que vivemos: no meio de trevas
que podem ser cortadas com faca, aqui e ali fachos de luz pura que nos
orientam.
(blog do Péricles Capanema)
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