A estrela desce
Dora Kramer
De nada valeram os esforços do
governo em conluio com os partidos de sua base aliada para impedir que as CPIs
da Petrobrás investigassem se funcionava mesmo na maior estatal brasileira uma
"organização criminosa" como apontou a Polícia Federal.
Pior, o bloqueio desesperado da
tropa de choque só fez indicar que havia razão para tanto temor.
A fumaça
apareceu quando o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa fez os primeiros
depoimentos de seu acordo de delação premiada e dele transpiraram alguns
trechos com a citação de partidos e políticos que teriam sido beneficiados por
propinas, "sobras" de contratos da Petrobrás com grandes
empreiteiras.
O governo saiu-se com a alegação
de que não havia provas nem credibilidade no material publicado na imprensa.
Pelo sim, pelo não, a presidente Dilma Rousseff alegou que se irregularidades
tivessem ocorrido ela não ficara sabendo, mas, para todos os efeitos, garantiu,
estavam todas sanadas.
O marqueteiro João Santana
introduziu na campanha o tema corrupção - até então fora da cena - e Dilma
passou a defender a tese de que os escândalos decorriam do combate férreo que
seu governo dava aos "malfeitos". Chegou a substituir-se à
Constituição, dizendo que a PF e o Ministério Público atuavam com independência
graças às ordens dela.
Faltando duas semanas para o fim
do primeiro turno, o Planalto enviou para o Congresso um pacote de medidas
anticorrupção com cinco propostas, três das quais repetiam outras já em
tramitação.
Nem bem começou a campanha para o
segundo turno e já se vê que por debaixo daquela fumaça dos depoimentos de
Costa ainda em segredo de Justiça havia muito fogo.
A ele na delação premiada
juntou-se o doleiro Alberto Youssef. Ambos por medo de terem o destino de
Marcos Valério, dos integrantes dos chamados núcleo financeiro e publicitário
do processo do mensalão que vão ficar na cadeia enquanto os políticos estão
indo para casa.
Agora já começam a aparecer
evidências. Os áudios dos depoimentos de Costa e Youssef dizendo que repassavam
as propinas ao PT, PP e PMDB. Eles apontaram ainda o tesoureiro do PT, João
Vaccari, como o intermediário do partido.
A ex-contadora do doleiro, Meire Poza,
afirmou à CPI que o PT deu dinheiro a um dos réus do mensalão (Enivaldo
Quadrado, dono da corretora Bônus-Banval) para pagar a multa imposta pelo
Supremo Tribunal Federal.
O PT evidentemente reage
afirmando que é alvo de calúnias. Deverá - se já não o fez - acrescentar que
são eleitoreiras. O problema com essa versão é que Costa, Youssef e Meire só
têm chance de se beneficiar daquilo que afirmam se puderem provar. Note-se que
o ex-diretor da Petrobrás já foi autorizado pela Justiça a sair da cadeia. E se
o foi é porque o material por ele fornecido foi considerado útil para o
desvendamento das autorias e da materialidade dos crimes.
O doleiro já descumpriu uma vez
um acordo desse tipo. Reincidiu e agora, escaldado, dificilmente vai tentar
driblar o Ministério Público e muito menos o juiz Sérgio Moro da Justiça
Federal no Paraná.
Ou se conduz de acordo conforme a regra, que implica
confissão da verdade, ou fica na prisão queiram os advogados ou não até porque
a assinatura do acordo implicou a dispensa de habeas corpus.
Na realidade o efeito eleitoral
dessas denúncias é o menor dos problemas. Se com isso tudo a maioria ainda
decidir que a presidente deve ter mais um mandato, está decidido.
A discussão
independe do período eleitoral. Ainda que tudo isso viesse a público no ano
passado e Dilma dissesse que não sabia de nada a questão seria a mesma: o
partido do governo cuja antiga cúpula foi condenada por corrupção, pego de novo
em traficâncias de natureza semelhante tendo apenas mudado de endereço.
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