Tombos
progressivos
CELSO MING
12 Novembro 2014 | 21:00
A
derrubada das cotações é parte de fenômeno que alcança praticamente todas as commodities.
É fator de enorme gravidade que atinge em cheio a economia do Brasil, que
fatura em torno de US$ 125 bilhões por ano, apenas com exportações de
commodities.
O Citibank advertiu na terça-feira
que o preço do minério de ferro está a caminho de um escorregão até o nível dos
US$ 50 por tonelada. Hoje, está à altura dos US$ 75, menor preço em mais de
cinco anos. Mas, em fevereiro de 2011, chegara muito perto dos US$ 200.
É essa perspectiva de perda seguida
de faturamento que vem derrubando as ações da Companhia Vale, uma das três
maiores fornecedoras de minério de ferro do mundo. Nos últimos 12 meses,
desvalorizaram-se 36%.
A derrubada das cotações é parte de
fenômeno mais amplo, que alcança praticamente todas as commodities. É fator de
enorme gravidade que atinge em cheio a economia do Brasil, que fatura em torno
de US$ 125 bilhões por ano, apenas com exportações de commodities.
Em nenhum momento o governo Dilma deu
a entender que está consciente das implicações que o fim da bonança externa, de
preços exuberantes das commodities, que durou mais de dez anos, terá para a
economia brasileira.
Sempre que o governo se manifestou sobre o desempenho
insatisfatório das exportações foi para atribuí-lo ou à ação da estiagem ou da
crise externa, como se se tratasse de problemas passageiros de pronta reversão.
A queda de preços das commodities
apenas episodicamente se explica por quebra de consumo global. No momento, o
fator decisivo é o aumento da oferta em ritmo superior ao da demanda. Foi o que
aconteceu com o petróleo, que enfrenta a revolução do xisto nos Estados Unidos.
E é, também, o que está acontecendo com o minério de ferro. Não foram apenas as
três grandes (Vale , Rio Tinto e BHP Billiton) que intensificaram investimentos
e produção. Milhares de pequenas mineradoras aproveitaram os preços recordes
para empurrar a produção para todos os mercados do planeta.
Ainda que insatisfatório, há, sim,
crescimento econômico global. Em 2014, o PIB dos Estados Unidos deve avançar
2,2%; o da área do euro, 0,8%; o do Japão, 1,0%. A China, principal importadora
de matérias-primas, apenas deixou de crescer àquela velocidade, de 10% ou 12%
ao ano. Hoje, sua atividade econômica marcha a ainda altamente invejáveis 7,5%
ao ano.
A derrubada dos preços do petróleo e
das demais commodities tem densidade para produzir grandes vítimas e mais crises.
A Rússia, importante exportadora de petróleo e gás, deverá passar por graves
apuros. A Venezuela, que já vinha afundando, vai afundar mais ainda, porque seu
orçamento só conseguiria fechar se o petróleo estivesse acima dos US$ 120 por
barril de 159 litros (hoje está a US$ 77). A Argentina, que vem sangrando há
anos, vai sangrar ainda mais. E, ontem, o secretário do Tesouro da Austrália,
Joe Hockey, alarmado com a quebra das exportações de minério de ferro, pediu
diversificação da economia.
O Brasil já vinha acusando
deterioração no balanço de pagamentos, a contabilidade que registra entrada e
saída de recursos. Mas até agora ostentava invejável superávit no intercâmbio
de mercadorias (balança comercial). Agora tenderá a produzir déficit,
possivelmente já neste ano. E o enfraquecimento das contas externas exigirá
mais concessões e mais empenho em atrair dólares para garantir os pagamentos
sem perda das reservas.
A perda de faturamento com
exportações não é o único impacto na economia brasileira. À medida que as
receitas dos exportadores também encolherem, menos recursos circularão pela
economia, com prejuízo inevitável para o consumo e para o emprego.
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