Lula quer
reaproximação com a esquerda para garantir que o PT fique no poder após 2018
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DA FOLHA DE S. PAULO
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu
assumir papel mais ativo na interlocução do PT com os movimentos sociais e
promete ajudá-los a pressionar a presidente Dilma Rousseff para que atenda suas
demandas.
Insatisfeito com o ministério formado pela sucessora para seu segundo mandato,
Lula disse a aliados que, na sua avaliação, a mobilização social e a
reaproximação com a esquerda são condições necessárias para que o partido
continue no poder depois que Dilma encerrar seu mandato.
O ex-presidente, que governou o país de 2003 a 2010 e ajudou a eleger a petista
com seu prestígio, pretende assim abrir caminho para se lançar novamente como
candidato à Presidência em 2018.
Desde a reeleição de Dilma, em outubro, Lula intensificou seu contato com
movimentos sociais e reuniu-se com lideranças da juventude, sindicalistas e
dirigentes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MTST
(Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Aos sindicalistas, Lula afirmou que é preciso "sair do chão de
fábrica" e participar de discussões sobre a reforma política, mudanças no
sistema tributário e a regulação dos meios de comunicação.
Já para os trabalhadores sem terra, o ex-presidente fez um apelo para que as
lideranças "reclamem menos" do governo Dilma e criem uma agenda
efetiva de reforma agrária e agricultura familiar.
No último sábado (20), em Taboão da Serra, na região metropolitana de São
Paulo, Lula participou da inauguração de um conjunto habitacional construído
pelo MTST com apoio do programa federal Minha Casa Minha Vida.
Um dia depois, gravou um vídeo divulgado pelo Instituto Lula em que pede mais
diálogo de Dilma, que não compareceu ao evento, com os movimentos sociais, para
que "faça um governo exitoso".
Na terça-feira (23), em novo vídeo publicado em sua página no Facebook, Lula
afirmou que é preciso "reorganizar a base de alianças com os setores mais
à esquerda da sociedade" caso o PT queira "continuar governando o
país" depois de 2018.
Segundo interlocutores do ex-presidente, esse tipo de cobrança será feita
periodicamente por Lula, que tem se queixado em conversas reservadas do estilo
de Dilma, muito centralizador e pouco alinhado às bases do partido.
Contrariado com a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, o PT
esperava que Dilma compensasse o aceno feito ao mercado financeiro indicando
que agora estaria aberta também a dialogar com os movimentos sociais na base do
partido.
Mas isso não aconteceu. Além de Levy, Dilma nomeou a senadora Kátia Abreu
(PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura e Armando Monteiro (PTB-PE) para o
Ministério do Desenvolvimento, novamente contrariando os grupos da esquerda
petista.
Equipe
Lula pretende criar na estrutura do PT um grupo informal, paralelo à executiva
da sigla, que ajude a direção a levantar novas bandeiras e renovar o diálogo do
partido com os movimentos sociais.
Estão cotados para participar da equipe o ex-ministro Luiz Dulci, diretor do
Instituto Lula; Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para
assuntos internacionais, que deve sair do governo agora; o deputado estadual
Edinho Silva (SP), que foi tesoureiro da campanha de Dilma neste ano; e o
senador Humberto Costa (PE).
O senador teria sido citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
entre os políticos envolvidos no esquema de corrupção descoberto na estatal, e
Lula deve aguardar o desdobramento das investigações antes de incluir seu nome
na equipe.
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