AMBIENTALISMO DE PONTA
De tanto deblaterar contra o
irritante catastrofismo ambientalista, estou caminhando para convencer-me de
que ele merece nossa atenção.
A natureza precisa mesmo ser preservada, e as recomendações
ambientalistas serão recompensadas com florestas respirantes cheias de índios
viciados em trabalho, vorazes manadas de espécies salvas da extinção,
resfriamento global de entusiasmar criadores de carneiros e produtores de lã,
máquinas eficientes movidas a pedal, e tantas coisas inventáveis.
Isso mesmo! Cheguei à conclusão de que a
preocupação ecológica é uma necessidade, e vou batucar no meu computador verde
em favor doambientalismo de ponta. A auspiciosa novidade é que meu
ambientalismo de última geração está em regime matrimonial indissolúvel com atecnologia
de ponta.
Admira novidades tecnológicas preservacionistas, mas fica bem
longe da ecologia proibidora que todo mundo conhece e detesta. Elogia avanços
tecnológicos para nenhum ambientalista botar defeito, como farei hoje.
Você já calculou quanta madeira, lenha, gás, eletricidade se consumiriam em
fogões, se não houvesse o forno de microondas? Eu também não, mas não preciso
de cálculos, estatísticas e outros argumentos numéricos para aplaudir quem o
inventou.
Consta-me que a façanha se deve a um engenheiro da Nasa. Ele gostava
da tecnologia de ponta, mais ainda do chocolate de ponta, mas as barras que ele
punha no bolso do jaleco começaram a derreter inexplicavelmente.
Logo percebeu que
havia uma fonte de calor por perto, e ela foi identificada como uma microonda.
Muitos anos se passaram em testes, estudos e gasto de energia mental não
poluente, e finalmente o forno foi lançado no mercado.
Mas até hoje os
ambientalistas não se lembraram de homenagear nem sequer o chocolate ecológico
desse engenheiro...
Desde que Edison usou a energia elétrica para ganhar dinheiro com iluminação,
muitas fontes de luz poluentes e pouco eficientes foram substituídas pelas
lâmpadas elétricas dele.
Há estatísticas para tudo, e provavelmente já foi
calculado quanto gás estufante se economizou, substituindo os métodos antigos
por iluminação elétrica; mesmo considerando que ela desperdiça cerca de 90% da
energia produzindo calor, em vez de luz.
Nas novas lâmpadas de LED, toda a
energia se transforma em luz, portanto é uma luz “verde”. Mas não conte com o
aplauso dos ambientalistas para o LED, o que pode acontecer é eles protestarem
em defesa dos cupins (aleluias), que precisam perder as asas junto ao calor e
luz.
Afinal, os cupins têm os seus direitos...
Uma biblioteca doméstica geralmente não ultrapassa mil livros. Considerando o
peso médio de 500 gramas, ela pesaria cerca de 500 quilos, dos quais a maior
parte representada por papel. Hoje você pode transportar esses mil livros no
bolso e lê-los onde quiser, usando um computador menor que um livro.
Já foram
poupadas tantas árvores dessa forma, que se justifica um selo de green
books para esses livros ecologicamente corretos. Pessoalmente eu prefiro
o livro de papel, mas não entendo a falta de um monumento ambientalista para os
inventores dessa tecnologia.
As televisões e monitores de computador antigos
eram trambolhos que usavam a tecnologia de raios catódicos. Você já imaginou o
que seria um aparelho desses para obter imagens de 50 polegadas ou mais? Quanto
condicionador de ar, matéria prima, energia, espaço físico? Falta um aplauso
improvável dos ambientalistas para a tecnologia de ponta embutida nos
raquíticos telões de LCD, LED, plasma.
Quando se evidenciou a crise energética, muitas fontes alternativas conhecidas
eram inviáveis, devido ao alto custo. Intensificando-se as pesquisas, aos
poucos essas fontes foram barateadas.
A energia solar para uso residencial, por
exemplo, custava cerca de doze vezes mais que a energia elétrica convencional,
e atualmente o custo de ambas é quase igual.
Na Alemanha, grande parte da
energia doméstica já se produz no local, sem poluição e sem custo mensal depois
de instalada. Pode até dar lucro, usando-se um medidor de energia para entrada
e saída.
Os ambientalistas obteriam resultados muito
melhores e mais condizentes com os seus objetivos oficiais se
resolvessem incentivar inventores de tecnologias e coisas ecologicamente
corretas.
Ao invés desse ambientalismo de protestos e proibições, por que não
conceder algum espaço ao progresso verde? Poderiam até
organizar uma nova cantilena ecológica, e os autorizo a denominá-la como sugere
o título desta crônica:Ambientalismo de ponta. E o slogan: Queremos
as pontas do Jacinto!
Pelo que conheço da mentalidade esquerdista, sou
muito cético sobre a possibilidade de eles caírem na realidade e passarem a
elogiar tecnologias limpas como essas. Se o fizerem, comprometo-me a participar
do desfile num carnaval ecológico.
Vou até encomendar um terno verde abacate,
para usar no sambódromo. Ao que parece, devo agendá-lo com meu alfaiate para
o dia de são nunca...
(*) Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim
Nenhum comentário:
Postar um comentário