As surpresas de um petróleo mais barato
El País // MOISÉS
NAÍM
(Resumo do Blog)
A crise do petróleo de 1974 mudou
o mundo. Até março daquele ano, o preço do petróleo havia quadruplicado: o
barril passou de 3 para 12 dólares. O mundo está a
ponto de descobrir que a considerável, repentina e absolutamente
inesperada baixa atual do preço do petróleo poderá ser tão perturbadora como essa
crise de 1974.
Algumas das repercussões da queda
do preço do petróleo em todo o mundo: Rússia.
1)
O dia 15 de dezembro foi uma segunda-feira negra: a Bolsa de
Moscou experimentou um retrocesso de 11% e o rublo caiu 13%,
o que significa que uma quarta parte do valor em dólar das empresas com ações
se evaporou em um só dia.
O Banco Central respondeu elevando
as taxas de juros de 10,5% para 17%. Essa dolorosa medida continua sendo
insuficiente para frear a rápida e enorme queda das reservas e a veloz
desvalorização da moeda provocadas pela diminuição das receitas do petróleo
(75% das exportações totais e 50% da receita pública do país), a maciça fuga de
capitais e as sanções econômicas pelo conflito ucraniano.
O temor, claro, é que o beligerante Vladimir
Putin semeie a cizânia no
exterior para distrair a atenção da difícil situação na Rússia.
2)
Na Venezuela, a economia já estava
mergulhada no caos quando
o barril do petróleo se encontrava na faixa dos 120 dólares. Agora que os
preços caíram para menos de 60 dólares, o Governo, conhecido pela corrupção
endêmica e desastrada gestão, está perdendo o controle.
Assim mesmo, o presidente Nicolás
Maduro afirmou várias vezes que a precária situação se deve a uma conspiração
internacional e reagiu redobrando os ataques contra os que o criticam (como eu)
e a repressão contra os políticos da oposição.
O desastre financeiro da Venezuela
foi um fator importante na histórica mudança nas relações entre Estados Unidos e Cuba
anunciada por Barack Obama e Raúl Castro em 17 de dezembro.
3)
A arruinada economia de Cuba
se mantém flutuando graças, em grande medida, às enormes subvenções de Caracas
desde que Hugo Chávez chegou ao poder em 1998.
No entanto, ultimamente ficou
evidente que sustentar a economia cubana na corda de salvamento da Venezuela
era uma aposta arriscada demais. A caótica situação econômica e política da
Venezuela torna cada vez mais difícil que se mantenham os acordos firmados
entre ambos os países nos últimos 15 anos.
Sem dúvida, a frágil situação da
economia venezuelana levou os dirigentes de Cuba a se mostrarem mais dispostos
a aceitar um descongelamento das relações com os Estados Unidos que certamente
estimulará o comércio e o investimento na ilha.
Por conseguinte, o barateamento do
petróleo também foi, de forma muito indireta, mas poderosa, um fator que
contribuiu para que se ponha fim a uma política estancada e ineficaz em vigor
havia mais de meio século. (...)
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