Escândalo da
Petrobrás ameaça a levar o Brasil à recessão, diz NYT
ECONOMIA & NEGÓCIOS
12 Fevereiro 2015 | 12:22
Para o The
New York Times, crise da estatal provoca onda de inadimplência de empresas em
uma onda que pode agravar o quadro da já estagnada economia brasileira
Navio-plataforma alugado pela Petrobrás: explosão
abala ainda mais a imagem da estatal (Foto: AFP)
THE NEW YORK TIMES
As acusações de corrupção na gigante
brasileira do petróleo, Petrobrás, controlada pelo governo, já levaram a um
escândalo político e à troca da diretoria. Agora, os problemas ameaçam outras
empresas brasileiras e podem até levar o país a uma recessão.
Seria difícil exagerar ao descrever a
importância da Petrobrás para o País. A empresa produz mais de 90% do petróleo
brasileiro, é dona de todas as refinarias nacionais, opera mais de 34 mil km de
oleodutos, domina a distribuição de gasolina e diesel no atacado, e é até dona
da maior rede de postos de gasolina.
“O plano do governo consistia em
tornar a Petrobrás tão grande quanto possível”, disse Samuel Pessoa, economista
da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Ele estimou que a empresa seria
responsável por um décimo da produção econômica do Brasil, por meio de suas
operações próprias e terceirizadas.
Na esteira da investigação policial,
chamada Operação
Lava Jato, revelando que fornecedores e prestadores de serviços da
Petrobrás teriam subornado executivos em troca de contratos superfaturados, a
empresa suspendeu os pagamentos a muitos projetos. A Petrobrás também proibiu o
estabelecimento de novos contratos com algumas das maiores empresas de
engenharia e petroquímica do País.
A queda nos gastos da empresa deve
eliminar 0,75% do crescimento esperado para a economia brasileira este ano,
disse Pessoa – o bastante para empurrar uma economia letárgica para uma leve
recessão.
As jogadas da empresa também ameaçam
o faturamento dos prestadores de serviços e terceirizados, que são atingidos
duplamente: seu fluxo de dinheiro caiu muito e a crise significa que não podem
emprestar dinheiro para aliviar o aperto.
Os problemas da Petrobrás estão
também se espalhando para os mercados de capitais do Brasil.
Em decorrência das incertezas em relação ao valor revisado que a empresa terá
de atribuir aos seus ativos e bens por causa da corrupção, a auditora da
Petrobrás, Pricewaterhouse Coopers, se recusou a assinar a divulgação dos
rendimentos trimestrais.
Sem o relatório trimestral de
rendimentos assinado pela auditoria, a Petrobrás, com dívida líquida de US$ 110
bilhões, não pode recorrer ao mercado global de obrigações.
Como a Petrobrás era vista como uma
das melhores empresas para se investir, suas obrigações costumavam servir como
referência para todas as empresas brasileiras. Sem essa referência, outras
empresas brasileiras estão simplesmente evitando o mercado de obrigações.
As empresas locais venderam US$ 37
bilhões em obrigações globais no ano passado, de acordo com a Dealogic. Desde
novembro, quando a Petrobras deixou de apresentar os rendimentos trimestrais
aprovados pela auditoria, nenhuma emissão de títulos de dívida foi feita por
empresas brasileiras.
Janeiro costuma ser um mês positivo
para a venda de obrigações por parte das empresas brasileiras. Em janeiro de
2014, essas vendas tiveram volume de quase US$ 6,5 bilhões.
“Algumas empresas com balanço patrimonial sólido ainda podem vender títulos de
sua dívida, mas pagariam por isso mais do que antes e, por isso, evitam essa
opção. Há outras empresas que realmente precisam captar o dinheiro agora, e não
conseguem fazê-lo”, disse Marcel Kussaba, diretor de pesquisas em equity e
dívidas da firma brasileira de gestão de bens Quantitas.
Uma empresa contratada pela
Petrobrás, Alumini, já entrou com pedido de recuperação judicial sob proteção
do tribunal, alegando que a Petrobrás deveria à empresa R$ 1,2 bilhão, ou US$
420 milhões.
A quinta maior empresa de engenharia
do país, OAS, e uma das principais prestadoras de serviços à Petrobrás, ficou
inadimplente no pagamento das obrigações e tenta negociar com os credores para
evitar a falência. A OAS tem dívida de R$ 7,9 bilhões, ou US$ 2,8 bilhões,
incluindo quase US$ 1,8 bilhão em obrigações, muitas delas pertencentes a
investidores estrangeiros.
A empresa de perfuração Sete Brasil
diz estar em negociações com bancos estatais para captar US$ 4,5 bilhões e
manter-se em funcionamento. Como OAS e Alumini, a Sete Brasil está sob
investigação, acusada de transferir dinheiro de contratos superfaturados a
políticos e executivos da Petrobrás e, por isso, o empréstimo pode ser
impossível.
A Sete Brasil deve US$ 4,3 bilhões
aos bancos. Entre os proprietários da empresa há três bancos, entre eles o BTG
Pactual, dono da maior participação, 27%. Os donos da empresa investiram outros
US$ 3 bilhões, mas, como tais investimentos costumam se dar por meio de
instrumentos que envolvem investidores, a exposição dos bancos pode ser menor.
Se a Sete Brasil pedir concordata, as
empresas contratadas para construir suas instalações também serão afetadas.
Problemas semelhantes são esperados
em todo o setor de construção e energia enquanto os prestadores de serviços à
Petrobrás – em muitos casos, empresas imensas – cortam gastos, por mais que
evitem a falência.
“Veremos o fechamento de muitas
empresas do setor”, disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro para a
Infraestrutura. Outras terão de vender ativos e bens para sobreviver.
“Por causa da Operação Lava Jato,
haverá setores específicos, particularmente na infraestrutura, nos quais
veremos mais fusões e aquisições esse ano”, disse Antonio Pereira, diretor de
investimentos bancários do Goldman Sachs no Brasil.
De acordo com Pereira, aeroportos e
rodovias devem estar entre os bens postos à venda.
Enquanto os bancos de investimentos buscam formas de lucrar orientando as
fusões e aquisições, outros bancos podem ser prejudicados.
O Banco do Brasil, maior do país e
controlado pelo Estado, tem 11% de seu portfólio de empréstimos no setor da
energia, construção e setores ligados, de acordo com estudo do banco de
investimentos Brasil Plural. Assim como os demais grandes bancos brasileiros, o
Banco do Brasil não é tido como ameaçado por concordata porque possui reservas
substanciais e um fluxo de renda diversificado, bem como o apoio implícito do
governo. Mas alguns dos bancos menores estão em situação vulnerável.
Citando uma exposição desproporcional
do Banco Pine às empresas de construção, em janeiro a Moody’s rebaixou a nota
de sua dívida, considerada tóxica, e alertou para futuros rebaixamentos.
“Não espero que algum banco seja obrigado a pedir recuperação judicial por
causa da Operação Lava Jato”, disse João Augusto Salles, analista do setor
financeiro da consultoria Lopes Filho, do Rio de Janeiro, “mas talvez algumas
instituições bancárias tenham de ser vendidas a outras, maiores”.
O primeiro desafio da Petrobrás é
calcular o desconto que deve ser aplicado ao valor de seus ativos em
decorrência da corrupção para, com isso, divulgar um balanço patrimonial
aprovado pela auditoria. Se a empresa não o fizer até junho, os credores de
seus US$ 54,5 bilhões em obrigações podem exigir o pagamento imediato.
A maioria dos analistas afirmou que
tal situação seria improvável e, mesmo se ocorresse, não significaria que a
empresa declararia moratória em suas obrigações. Se há no Brasil uma empresa
considerada grande demais para falir, essa é a Petrobrás.
“Achamos que o governo intercederia
ou pressionaria os bancos locais a oferecer o financiamento necessário”, disse
Brigitte Posch, diretora de dívidas corporativas em mercados emergentes da
Babson Capital, dona de obrigações da Petrobrás. “A empresa é importante demais
para o Brasil.”
Fonte: OESP
Tradução de Augusto Calil
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