O galinheiro de ovos Fabergé
A peça de Eike Batista era falsa, mas o
governo vende ilusões, e o contribuinte paga as contas dos grão-duques
Numa de suas
operações espetaculosas, a Polícia Federal apreendeu na casa de Eike Batista um
ovo do joalheiro Fabergé, o queridinho dos czares russos. Valeria US$ 20
milhões e revelou-se uma cópia barata, daquelas que se compram no eBay por R$
60. Cão danado, todos a ele.
Essa seria mais um prova das mistificações
megalomaníacas do empresário. Problema: não há registro de que Eike tenha dito
que aquele ovo era verdadeiro. Era apenas um momento de sonho. Uma pessoa
poderia acreditar que ele tinha um Fabergé e sua vida não pioraria.
Ferraram-se
aqueles que acreditaram no seu império de portos, minas e campos de petróleo.
Os Fabergé de R$ 60, bem como os pinguins de geladeira e as reproduções da Mona
Lisa, não fazem mal a ninguém.
O problema é outro, quando se acredita em
grandes lorotas empacotadas pela sabedoria de governantes e opiniões de sábios.
Eike Batista foi uma delas, mas há outras.
Veja-se o caso do que
se chama de polo da indústria naval. Nos últimos 60 anos, os contribuintes
brasileiros patrocinaram outros dois. A ideia é banal. Assim como sucedeu com a
indústria automobilística, o Brasil poderia produzir navios. Primeiro veio o
polo de Juscelino Kubitschek. Quebrou.
Depois veio o da ditadura. Também
quebrou. Com uma diferença: nele, os maganos transformaram seus papéis micados
em moedas da privataria. Assim, um banqueiro que poderia ter quebrado
investindo em estaleiros trocou o papelório pelo valor de face e comprou a
Embraer. Agora está aí o polo do Lula, com suas petrorroubalheiras.
Nenhum dos
três polos navais deu certo porque, ao contrário de projetos similares de
Japão, Coreia e Cingapura, no Brasil não se respeitaram metas, prazos ou custos.
Uma pessoa pode ter um Fabergé de R$ 60 em casa, mas jamais acreditará que pelo
tempos afora se poderá produzir navios que custam mais caro que os do mercado
internacional.
Tome-se outro
exemplo, noutra área. O governo criou o programa Fundo de Financiamento
Estudantil, o Fies. Grande ideia: financia jovens que entram para universidades
privadas, como se faz pelo mundo.
Mexe pra cá, mexe pra lá, os empréstimos
passaram a ser tomados sem fiador, a juros de 3,4% ao ano e entra quem pede. A
Viúva paga e os donos das escolas recebem o dinheiro na boca do caixa. Uma
beleza, o comissariado petista estatizou o financiamento das universidades
privadas. Uma faculdade de São Caetano do Sul tinha 27 alunos em 2010, todos
pagando suas mensalidades.
Hoje tem 1.272 e só quatro pagam do próprio bolso.
Essa conta está hoje em R$ 13,4 bilhões. O governo propôs duas mudanças
singelas: só terão acesso ao Fies os jovens que tiverem conseguido 450 pontos
no exame do Enem e as faculdades com bom desempenho. Sucedeu-se uma gritaria.
Os repórteres José Roberto de Toledo, Paulo Saldaña e Rodrigo Burgarelli
informam que, entre 2012 e 2013, o número de estudantes diplomados do setor
público cresceu 2%, enquanto no setor privado caiu 7%.
Já a evasão dos
estudantes beneficiados pelo Fies cresceu 88%. Pergunta óbvia: um garoto que
abandonou a faculdade vai devolver o empréstimo que tomou sem fiador? Resposta,
também óbvia: para o dono da escola, não faz diferença, pois ele já recebeu o
dinheiro da Viúva e sabe mexer seus pauzinhos no governo, o grande galinheiro
de ovos Fabergé.
Elio Gaspari é jornalista
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