A parte que cabe a Dilma e Lula
Dinheiro da corrupção pode ser
localizado e, em parte, devolvido. Já as perdas, digamos, técnicas vão ficar
por conta do povo
Quem começou o roubo na Petrobras, os políticos ou as
empreiteiras? Para quem não tem nada a ver com isso, não faz diferença. Mas
para quem está no rolo, pode fazer a diferença entre uma pena maior ou menos
severa. Quem sabe até uma absolvição? — a esperança é livre aqui.
A versão dos políticos — no caso, do PT, PMDB e PP,
principalmente, e de gente do governo Dilma — joga a culpa principal no cartel
das empreiteiras, que existiria desde muito antes de os petistas chegarem ao
poder.
Fazendo combinações entre si, distribuindo as obras em reuniões
secretas, acertando os preços, as empreiteiras dominavam de tal modo o negócio
das grandes obras no Brasil que não havia saída senão, digamos, render-se a
elas. Era isso ou não tocar os empreendimentos.
Sendo assim os fatos, com as empreiteiras se
refestelando com os preços superfaturados, por que não tirar algum troco para a
nobre tarefa de financiar atividades políticas?
E atividades de partidos que
visavam à nobre causa do povo — até muito justo, não é mesmo? Se isso for crime,
dizem os autores dessa teoria, pelo menos é menor do que a montagem da
quadrilha, quer dizer, do esquema.
A versão das empreiteiras é o inverso. Políticos dos
partidos dos governos Lula e Dilma teriam montado uma máquina de fazer dinheiro
para financiar eleições, de modo que não pagar propina e não entrar no esquema
significava perder todas as obras.
E se as regras do jogo eram essas, se o preço seria
mesmo elevado para pagar a caixinha política, por que não superfaturar um
pouquinho mais para atender aos nobres interesses dos acionistas? Este seria um
crime menor do que a montagem original da quadrilha etc.
No meio desses dois poderosos lados, sempre sobrava
algum para executivos das empreiteiras e da estatal. Na verdade, alguns
milhões.
Digamos que haja aí boa matéria para os advogados dos
dois lados, mas, para a gente — cidadãos, contribuintes, eleitores, acionistas
privados da Petrobras — não tem sentido algum. O gestor da coisa pública — para
ficar bem solene — tinha que simplesmente chamar a Polícia Federal tão logo
soubesse do esquema. Sem contar que, para o pessoal do PT, haveria aí um ótimo
tema para atacar os seus antecessores no governo federal, aqueles neoliberais.
A mesma coisa vale para os donos das empreiteiras.
Sabendo da quadrilha, que chamassem a polícia. Por que uma empresa eficiente,
dona de tecnologia de primeira, precisaria se sujeitar a esse tipo de esquema
que favorece a picaretagem?
Tudo considerado, não importa saber qual versão é mais
correta. Mesmo porque, o mais lógico é concluir que ambas estão certas, assim
mesmo, uma contra a outra. Os dois lados montaram seus esquemas, uma sociedade
que está caindo para todas as partes. Como me dizia um advogado de ampla
experiência: quando um réu acusa o outro, vão os dois para a cadeia.
Parece que o processo vai nessa direção, apanhando de
passagem alguns executivos, pelo menos no tribunal do juiz Sérgio Moro. Agora
em fevereiro, vamos ver como a ação penal anda no Supremo Tribunal Federal.
Essa é a história da corrupção, para os tribunais. Há
uma outra, que é a desastrosa gestão imposta à Petrobras desde o governo Lula.
Difícil saber qual causou mais prejuízo à empresa e ao país.
Tão difícil que
Graça Foster, com todo seu empenho e dedicação, não havia conseguido fazer a
contabilidade que separasse a grana da corrupção do dinheiro torrado por erros
de gerência e administração.
Por exemplo: a refinaria Abreu e Lima (a de Pernambuco)
talvez nem devesse ter sido feita; se feita, poderia ter saído mais barata do
que o preço já descontado da roubalheira.
O dinheiro da corrupção pode até ser
localizado e, em parte ao menos, devolvido. Já as perdas, digamos, técnicas vão
mesmo ficar por conta do povo, o verdadeiro acionista e dono, traído, da
Petrobras.
Ainda não apareceram denúncias de superfaturamento nos
projetos das refinarias Premium do Maranhão e do Ceará. Os projetos foram
cancelados, uma das últimas decisões da diretoria de Graça Foster, depois de um
gasto de R$ 2,7 bilhões. Ou, um bilhão de dólares, para nada, para uma papelada
sem valor.
E tem o incrível, e maior, prejuízo imposto ao caixa da
empresa, com o controle dos preços da gasolina e do diesel. Segundo cálculos
feitos dentro da estatal, foram nada menos que R$ 60 bilhões ao longo dos anos
que a Petrobras foi levada a vender combustível a preço menor do que pago na
importação. Uma sangria no caixa, que virou endividamento.
Nesta outra história não há dúvida nenhuma. A culpa é de
quem mandou na Petrobras nos governos Lula e Dilma, a começar por Lula e Dilma.
Essa responsabilidade só pode ser apurada nos foros políticos. Aliás, no que
sobrar dos foros políticos depois da Lava-Jato.
Carlos Alberto Sardenberg é
jornalista
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