Neto de escravos agradece a Princesa Isabel
O SR. MISAEL VARELLA (DEM-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero homenagear o meu conterrâneo João
Paulino Barbosa, de Desterro do Melo, Minas Gerais, lavrador, poeta e neto de
escravos, que viajou 250 quilômetros com 127 rosas para depositar
junto ao túmulo da Princesa Isabel na Catedral de Petrópolis-RJ.
Para João
Paulino, cada flor representa um ano de libertação dos escravos.
João Paulino ficou conhecido em razão deste seu
ato de gratidão à Princesa Isabel no último dia 13 de maio, quando se
completaram 127 anos da abolição da escravatura.
Ele fez as contas e, antes de
enfrentar as seis horas de viagem que separam Desterro do Melo de Petrópolis
comprou 127 rosas em uma floricultura de Barbacena.
O lavrador entrou na catedral com passos miúdos
na hora da missa, com um sorriso tímido e respeitoso, abraçado a seis quilos de
rosas que formavam quatro buquês, as depositou junto ao túmulo e rezou.
Recebeu
uma salva de palmas e, antes de se sentar para ouvir a missa, fez um último ato
à homenageada. Pendurou um banner ao lado do túmulo dela com um de seus poemas:
A Princesa Isabel é o próprio buquê de flores, a estrela guia, o caminho e o
amor.
No dia seguinte à homenagem à redentora, o
lavrador João Paulino levantou-se às 5 horas da manhã e caminhou 8
quilômetros, até a fazenda onde trabalha. Ele que seguiu a profissão aprendida
em família: desde muito pequeno dá duro da manhã à noite nas roças de milho, de
cana-de-açúcar e na criação de gado leiteiro.
Conseguiu estudar um pouco. Aos 7 anos aprendeu
a ler e a escrever, aos 8 tomou conhecimento dos números, e mais nada. Desde
então, a sua vida é roça — exceto nos momentos em que faz arte. Diz tratar-se
de um milagre que recebeu ter começado os atos, como ele chama toda arte que
produz sobre a Princesa Isabel.
Vitor Hugo Brandalise, do jornal O Estado de São
Paulo, continua a descrição no artigo denominado A natureza de João: o
septuagenário lavrador João Paulino Barbosa, que vive no interior de Minas e é
poeta toda vez que larga a enxada, sentiu falta de algo mais.
Pensou um pouco
sem pousar a caneta, deixou vir àquela parte sua que nasce da natureza – assim
ele se refere ao que chamamos de inspiração –e arrematou, em letras grandes:
Escravo, uma palavra com desígnio de extinção.
João Paulino Barbosa, de Desterro do Melo, Minas Gerais, como ele costuma se
apresentar, deu-se então por satisfeito e assinou o poema à maneira de sempre.
Assim a história me diz / E diz esse poeta por nome João.
O poema de João Paulino conta sua própria
experiência: o avô, homem negro como ele, que se chamava apenas Paulino, foi
trazido da África na segunda metade do século 19 e escravizado nas terras dessa
mesma região onde João Paulino vive hoje para trabalhar nas roças.
João Paulino
não o conheceu, mas ouviu do pai durante a infância toda como era a vida na
senzala, os castigos impostos àqueles que desobedeciam e como o seu avô Paulino
era um homem obediente, que não causava problemas aos patrões.
O pai também comentava que, se tivera a
oportunidade de nascer homem livre, era graças a uma senhora bondosa chamada
Princesa Isabel. E que ele, João Paulino, deveria agradecer sempre à Princesa,
por poder viver ali no seu pedacinho de terra, seu rancho, dentro da
propriedade dos patrões, por poder plantar a horta de feijão e mandioca e pelas
moedas que agora às vezes sobravam para o resto dos mantimentos.
Era tudo graças a Isabel, filha do imperador do
Brasil, que assinara a lei que libertou os escravos, inclusive o seu avô.
Nascia ali uma devoção. Até mais do que isso, já que, além de lavrador, João
Paulino escreve versos.
Sr. Presidente, que bonita homenagem de João
Paulino, que bem representa os verdadeiros valores de nossa Pátria! Homem
simples, mas de alma grande. Que Deus guarde a alma da nossa tão querida
Princesa Isabel, que já é santa no coração dos brasileiros! E que também
preserve o nosso povo com sua alegria e bondade, longe e livre do ódio de
classes insuflado pelos marxistas.
Tenho dito.
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