Um Real para Dilma
Há muito tempo o brasileiro não
andava tão sem perspectiva. Não é força de expressão. Pesquisa inédita do Ibope
mostra que faz 22 anos que o otimismo não ficava tão por baixo quanto hoje: 48%
se dizem pessimistas ou muito pessimistas em relação ao futuro do País,
enquanto só 21% se declaram otimistas ou muito otimistas. O resto não está lá
nem cá, ou não sabe responder.
O baixo astral não escolhe gênero,
cor nem religião. Como uma epidemia, contaminou todos os segmentos sociais e
alcançou a parcela majoritária entre homens e mulheres, entre brancos e negros,
entre ricos, pobres e remediados, entre jovens e velhos. Só muda de
intensidade. Os muito pessimistas chegam a 16% no Sudeste e 17% nas periferias
das metrópoles (são 12% na média).
A atual falta de perspectiva é
histórica. A última vez que o brasileiro ficou tão pessimista foi antes do
Plano Real, na ressaca do governo Fernando Collor, quando a economia ia de mal
a pior e não havia sinal de que ela voltaria a melhorar: 22% de otimistas
contra 48% de pessimistas, em setembro de 1993. No governo FHC, o pessimismo
bateu em 42% em junho de 2000. No governo Lula, não chegou nem perto disso.
A perda do otimismo é um fenômeno
recente. No ano da primeira eleição de Dilma, em março de 2010, 73% se diziam
otimistas com o futuro. Quatro anos depois, no ano da reeleição da presidente,
a fatia dos que olhavam para frente com esperança já tinha diminuído, mas ainda
era grande: 49%. Desde então, os otimistas foram reduzidos a menos da metade.
Por quê?
Outra pesquisa do Ibope, que mede a
confiança do consumidor, dá algumas respostas. No último ano e meio as
expectativas se deterioram muito e rapidamente. A desconfiança em relação à
economia cresce a cada mês, engrossando o contingente dos que acham que a
inflação e o desemprego vão aumentar mais - e, por tabela, que sua situação
financeira pessoal vai piorar.
A falta de perspectiva coloca uma
lente de aumento sobre problemas reais, fazendo-os parecer ainda maiores do que
são. Embora a inflação oficial esteja em cerca de 8% ao ano, para 37% da
população ela parece maior do que isso, segundo o Ibope. A percepção é pior
para os mais pobres - entre eles, 27% acham que o aumento continuado de preços
supera os 12% a cada ano.
O mesmo fenômeno se repete com o
desemprego: a percepção é maior do que o número oficial. Embora a taxa nacional
de desocupação, segundo o IBGE, esteja em 7,9%, quase metade dos brasileiros
(47%) acha que ela é maior do que 9%. E um em cada quatro acredita que o
desemprego seja maior do que 12%.
O pessimismo que torna a população
ainda mais sensível aos problemas também muda sua percepção sobre a história.
Segundo o Ibope, a maior parte dos brasileiros (43%) acha que a inflação atual
é maior do que era no governo FHC, contra apenas 23% que pensam o contrário.
Embora tenha sido bem mais baixo
durante o primeiro mandato do tucano, o IPCA chegou a 12,5% ao fim de 2002,
último de FHC na Presidência. Hoje a taxa é de 8,2%.
Segundo a pesquisa, parte dessa conta
é da imprensa: 41% acham que ela mostra uma situação econômica mais negativa do
que os entrevistados percebem no seu dia a dia. Mas não adianta o governo
culpar o mensageiro. Para injetar otimismo, só criando uma perspectiva real de
melhora da economia.
Contra a crise de pessimismo de 1993,
Itamar e FHC lançaram o Plano Real. Dilma e Joaquim Levy estão tentando com o
ajuste fiscal. Goste-se ou não, é sua chance de ganharem a batalha das
expectativas.
(OESP)
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