O DIVÃ
Nelson Motta
O paciente está atônito no divã diante da atual confusão de valores, em
que as fronteiras entre o mal e o bem estão cada vez mais borradas
Se o Brasil fosse uma pessoa, estaria fazendo cinco sessões semanais no
consultório de um psicanalista e tomando remédio tarja preta. Descobriu que o
pai não é um herói, mas um sem-vergonha infiel, vaidoso e irresponsável, capaz
de fazer qualquer coisa pelo poder, e que a mãe é mentirosa e autoritária, e um
desastre na administração da casa, além de ninguém entender o que ela diz.
Ainda bem que o Brasil não é uma pessoa.
O país está no divã de um grupo de analistas, econômicos, políticos e
sociais. Mas o caso é complexo. Complexo de superioridade bravateado por Lula
durante anos, desmentido diariamente pela realidade da corrupção, do
desperdício e da incompetência; complexo de inferioridade pelo menor
crescimento de toda a América Latina, só maior que Venezuela e Argentina, casos
perdidos, de internação imediata.
Síndrome de inveja crônica de americanos e europeus, porque conseguem ser
mais ricos, educados e viver melhor do que nós. Complexo de culpa por um país
com tantos recursos naturais e tanta beleza, com tudo para se tornar adulto,
mas continua adolescente e acreditando em ilusões e almoços grátis, e ignorando
que o governo não produz nada e que tudo que gasta é fruto do trabalho e do
esforço de cada cidadão, que não sabe que as horas, dias e meses que você
trabalha para sustentar o governo estão perdidos e não voltam mais: são vida.
Estão roubando a sua vida.
Mas não há esperanças para o paciente enquanto amigos do poder, agregados
e parentes incompetentes continuarem ocupando cargos de responsabilidade e
dando imensos prejuízos a todos por ladroagem, burrice e ineficiência.
O paciente está atônito diante da atual confusão de valores, em que as
fronteiras entre o mal e o bem estão borradas. Quem diria que algum dia
aplaudiríamos gente como Eduardo Cunha e Renan Calheiros, por tirar do governo,
de qualquer governo, a possibilidade de aparelhar politicamente as estatais —
maldição dos anos Lula/Dilma, que levou o Brasil ao divã.
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