Tido como morto, rio Doce "ressuscitará"
em cinco meses, diz pesquisador
Jefferson Puff
No Rio
28/11/2015
Ricardo Moraes/Reuters
Embora esteja considerado atualmente
"morto", o rio Doce, que recebeu mais de 25 mil piscinas olímpicas de
lama proveniente do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), "vai ressuscitar" em
até cinco meses, no final da época de chuvas, em abril do próximo ano.
A afirmação é de Paulo Rosman, professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ e
autor de um estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar os
impactos e a extensão da chegada da lama ao mar, ocorrida no último domingo
(22) e que afeta a costa do Espírito
Santo.
Embora especialistas tenham divulgado previsões de danos catastróficos, que
incluiriam danos à reserva marinha de Abrolhos, no sul da Bahia,
e um espalhamento da lama por até 10 mil m², Rosman afirma que os efeitos no
mar serão "desprezíveis", que o material se espalhará por no máximo 9
km e que em poucos dias a coloração barrenta deve se dissipar.
Para ele, há três diferentes cenários de gravidade do desastre e de velocidade
de recuperação. No alto, onde a barragem se rompeu, próximo ao distrito de
Bento Rodrigues, deve durar mais de um ano e dependerá de operações de limpeza
dos escombros e de um programa de reflorestamento. Para ele, a sociedade e os
governos mineiro e federal precisam cobrar de Vale e BHP Hillington, donas da
Samarco, o processo de reflorestamento e reconstrução ambiental, de custo
"insignificante" para as empresas.
Ele diz que, na maior parte do percurso do rio Doce, as próprias chuvas devem
limpar os estragos e os peixes devem voltar ao rio no período de cinco meses,
e, no mar, a diluição dos sedimentos deve ocorrer de forma mais rápida - até
janeiro do próximo ano.
Ao mesmo tempo, o especialista considera "inaceitável" que o governo
permita que as pessoas voltem a morar nas regiões afetadas e que seria
"criminoso" não retirar os outros povoados que se encontram nas
linhas de avalanche de outras barragens.
Leia os principais trechos da entrevista:
Nos últimos dias, especialistas, ativistas, moradores, pescadores
e indígenas têm repetido que o rio Doce "está morto". O senhor diz
que ele "vai ressuscitar". Como isto deve acontecer?
Paulo Rosman - Eu vou repetir um chavão muito conhecido: o
tempo é o senhor da razão. Há a visão quantitativa e fria do pesquisador, do
cientista, e a visão emocional e por vezes desesperada do morador, do pescador
e do índio. Os dois estão expressando as suas razões. Nenhum dos dois está
certo ou errado.
No caso da ciência as coisas são mais factuais, quantitativas, mais
numéricas. No caso do indígena, ele constata e sofre com a "morte" do
rio. A diferença é que o rio está morto neste momento, é verdade, mas
ressuscitará muito rapidamente, e eles vão poder comprovar isso.
Há muitos exemplos de acidentes muito mais graves e mais sérios do que este da
barragem de Mariana. Veja a erupção vulcânica do monte Santa Helena, nos
Estados Unidos (em 1980). Foi tudo devastado e destruído, numa área imensamente
maior. Você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a mata voltou.
Para fazer a conta, você tem que pegar o peso da lama e dividir pela massa
específica dessa lama. Se neste momento eu tenho 4 kg/m³ de água e for dividir
pela massa da lama, dá mais ou menos 1,3 mm. Então isso significa que se esses
sedimentos todos se depositassem no fundo do rio formariam um tapete de 1 mm de
espessura, o que nem vai acontecer, porque a correnteza vai levar.
Portal UOL
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