Privatização selvagem
Péricles Capanema
Defendo a privatização, só traz problemas o Estado
agigantado. Seguidor da doutrina social católica, de outro modo, do princípio
de subsidiariedade, as tarefas estatais, em princípio, são as que o particular
não pode levar a cabo. E a economia é tarefa dos particulares.
Contudo, analisei com desconfiança o anúncio de que a
Petrobrás, premida por agudos problemas de caixa, vai vender ativos. De começo,
sua fatia na Braskem, 36%, e parte da BR
Distribuidora. Anunciou ainda a venda da Transpetro (54 navios, 49 terminais,
estações de bombeamento, fora o resto) no pacote.
Ivan Monteiro, diretor da
Petrossauro, comunicou, outros ativos estarão à venda, entre 20 e 30, para
arrecadar, só em 2016, em torno de 14,4 bilhões de dólares: “14,4 bilhões de
dólares em desinvestimento é o nosso piso, e não a meta”. Privatização
gigantesca. De si, ótimo; se os ativos do sistema Petrossauro estivessem há
muito tempo em mãos privadas, gasolina mais barata, produção lá em cima, teriam
lucrado o Brasil e o povo.
No caso em pauta, péssimo, é minha convicção. Podem
escrever, vem aí entrega maciça de ativos valiosíssimos, patrimônio público, a
preço de banana, privatização selvagem. Mesmo sem a habitual roubalheira, é o
que se deve esperar da incompetência petista. E é a melhor hipótese.
De momento, é outra a hipótese mais provável. Selvagem,
mas direcionada. A Petrobrás fala em capitais nacionais e estrangeiros interessados
nas compras. Até aí, tudo bem. Só até aí. Um palpite: o capital estrangeiro que
vai se interessar será sobretudo o chinês. Já se fala que os chineses estão
interessados em duas unidades da Petrobrás, ainda em construção, localizadas em
Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Ponto delicado, não será capital chinês privado,
será dinheiro de estatal; atrás dele está o Estado e o PC da China.
Prestem
atenção, se nas compras aparecerem os acrônimos CNPC, Petrochem e CNOOC, siglas
da China National Petroleum Corporation, China Petrochemical Corporation e
China National Offshore Oil Corporation, é grana estatal, é o PC chinês
enfiando mais suas garras no Brasil, nesse misterioso processo de submissão do
país à China, que caminha célere, envolto por silêncio enigmático. Avanço no
palpite. Já vão mar alto as conversações entre membros do PT e do PC chinês
para entregar na bacia das almas tais ativos à China.
O futuro dirá se tenho
razão. Se estiver errado, ótimo. Recordo, a China tem interesse em neutralizar
sua dependência de alimentos brasileiros, exemplo a soja, e uma maneira é se
fazer forte aqui dentro. Outra lembrança, mais importante, os líderes do PC
chinês não são comerciantes, são ideólogos revolucionários, com plano de
conquista e hegemonia mundial.
Volta à trilha. E se nem a venda dos ativos tapar os
buracos da Petrobrás? Elementar, meu caro Watson. Você vai tapá-los, contribuinte,
o governo já está preparando o público para o Tesouro entrar com a dinheirama. Em
15 de janeiro, café da manhã, respondendo à pergunta simples da jornalista:
“A
União pode vir a ajudar a Petrobrás a se capitalizar”? a Presidente respondeu
em palavras objetivas, claras, concisas, elegantes, enquadradas por raciocínios
precisos. Extratos aqui, íntegra no site da Presidência: “Ô gente, cês lembram,
nós começamo a falá qui tinha chegado ao fim do superciclo das commodities, nós
mesmos, é, levamos um tempo pra percebê, nós e o mundo, essa, num fomos só nós
não, mas se vocês perceberem houve uma inflexão bastante grande no final, hoje,
olhando de agora a gente vê isso, né?, começô a havê uma inflexão a partir do
final de 2013, tem gente qui diz qui isso veio de antes. Né, tem analistas
econômicos qui dizem qui veio antes. Começô os indícios antes. Mas nós tamos
assistindo a esse fim do superciclo qui afeta não só o petróleo, afeta minério
de forma profunda, né, o minério inclusive cai é de forma tão acelerada quanto
o petróleo. No caso do petróleo, dizem que tem três razões. Uma razão seria um
excesso de oferta, uma outra razão seria uma queda na demanda, que é o outro
lado do excesso de oferta por razões diversas e um terceiro lado qui diz também
qui tem uma variante financeira, tá?, porque o mercado é financeirizado, qui
leva a uma pressão baixista. Sem sombra de dúvida, um petróleo a preços mais
baixos vai alterar de forma, mais baixo que os trinta dólares, então vai
alterar de forma substantiva a economia internacional. O que acontecerá com o
petróleo qui pelo menos eu acho qui você desde o final da década de 90 até hoje
ele nunca esteve aos níveis qui alguma alguns bancos internacionais tão dizendo
que ele vai chegá. Agora, se ele vai chegá, num sei e ninguém sabe porque
ninguém pudia dizê no final, aliás, até o final de 14 que ele chegaria a
trinta. Ninguém puderia dizê. Mas são dois fatores, ele e a desaceleração da
China qui eu acho qui criam um quadro novo no cenário internacional. Não é só a
Petrobrás qui tem de pensá o qui vai fazê. [...] O que cada um vai fazê, vai sê
algo qui vai sê objeto duma imensa discussão e está sendo já e não afeta
exclusivamente a Petrobrás. A Petrobrás é uma das maiores empresas desse país.
O governo sempre estará preocupado com a Petrobrás, principalmente quando os
fatores que levam a esta situação são fatores exógenos a ela, que ela não
controla. Então nós todos teremos de nos preocupá bastante com o que ocorrerá
agora. Esse é um processo que tem de se evitá o máximo [...] a fazê projeções
sinistras. É fácil que nós, outro dia eu li num jornal dizendo o seguinte, a
Petrobrás para cum o petróleo a trinta, para não, para nada, tanto que não para
que ela continua, né? Tanto qui não para que num é essa situação qui leva a nós
nos preocupá com a Petrobrás. Agora todas as empresas de petróleo, as chamadas majors, estão preocupadas, porque o
petróleo a trinta, por exemplo, tem segmentos internacionais, como aquelas
areias do Canadá que parece, vô falá parece, segundo alguns analistas
econômicos da área do petróleo, parece que não são mais viáveis.[...] Nós não
descartamos [...] qui vai sê necessário fazê uma avaliação se esse processo
continuá, agora, não é nós governo brasileiro qui descarta, nenhum governo vai
descartá, inclusive a política do FED de redução de juros. Todo mundo vai olhá
o qui vai acontecê. Agora eu acredito qui os fatores eles têm essa dinâmica qui
a parti de um certo momento os próprios fatores qui levam à queda começam a
contê o patamar de queda. Quais sejam? Eu posso dizê”
Disse, enfiada sem fim de obviedades. português e
lógica espancados impiedosamente. Em resumo, se necessário, o governo põe dinheiro
na Petrobrás.
Então, se a privatização selvagem não for suficiente, o governo,
com seu dinheiro, vai tapar os buracos que ele mesmo cavou. Para isso, tira da
saúde, da educação, dos aposentados, sei lá mais o quê, tudo o que for preciso para
salvar a Petrossasuro. Aviso final: olho nos novos donos, entre eles,
destacado, pode estar o PC da China. Se continuarmos dormindo, mais dias, menos
dias, será o nosso dono.
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