... amanhã será o Brasil
A descida aos infernos da miséria cubana parece inevitável
na Venezuela. O governo socialista vem atribuindo a culpa a inimigos
fantasmagóricos em discursos histéricos e irreais: o “império”, a “guerra
econômica” promovida por não se sabe bem quem, os emigrantes; a falta de
alimentos como se fosse um ente que age por si mesmo; a ausência de
medicamentos provocada por todos esses fantasmas.
Mas a aguda carência de quase tudo é uma experiência cotidiana
dolorosa, humilhante e muito real. O vírus Zika passou a ser mais um pretexto
pelos abusos do regime. Mas os mosquitos se multiplicam assustadoramente e a
população não encontra repelentes para evitar o contágio nem antivirais e/ou
analgésicos para cortar a febre de qualquer doente, segundo “La Nación”.
Em Acarigua, estado Portuguesa, uma avalanche de
desesperados derrubou os obstáculos que lhe impediam ingressar num supermercado
atingido pelo racionamento.
A desordem e a violência foram filmadas: um drama em que os envolvidos arriscavam tudo para conseguir um pouco de comida e algum produto básico indispensável para sobreviver no dia-a-dia.
A ocorrência é simbólica do que está vivendo a Venezuela na
vida real. Na mídia praticamente toda confiscada pelo governo, o realejo dos
fantasmas culpados da falta de tudo toca sem parar.
A todo o momento o presidente Maduro ou algum de seus
acólitos tripudia contra o “império” e manifesta solidariedade aos “amigos” do
mundo, como o camarada Lula. Mas isso não interessa ao povo que padece fome e
doença.
Parlamento dominado pela oposição declarou a crise
humanitária no país pela derrocada do sistema de saúde: hospitais e postos de
saúde estão despojados do básico, sem equipamentos, remédios e caindo aos
pedaços, como em Havana.
Maduro reincide uma e outra vez contra os empresários
privados a quem atribui todos os males maquiavelicamente.
Eles agiriam conluiados com o “império”, confabulando uma
delirante “inflação induzida”, a “estocagem dos produtos” e o contrabando que,
esse sim vai mar alto, enriquecendo os sequazes do chavismo.
O mausoléu de Hugo Chávez acolhe alguns turistas para um
tour guiado. Mais de 100 pessoas fazem fila num supermercado estatal para
comprar alimentos pela tabela oficial de preços.
A fila começa a ser formar às três da madrugada. “Às vezes a
gente consegue comprar alguma coisa, às vezes não”, diz uma pessoa na fila,
segundo reportagem de “O Estado de S. Paulo”.
A cena é de Science-fiction, mas atrozmente veraz. A
Venezuela boia literalmente sobre as maiores reservas mundiais de petróleo, mas
a produção vem decaindo a cada dia em razão da ineficiência socialista.
Maduro: confiscos, ameaças e violências contra os proprietários
É a “revolução bolivariana” rumo ao “socialismo do século
XXI”, ou algo muito parecido com a velha URSS. O governo admitiu que a economia
de 2015 contraiu-se em 7,1% e a inflação atingiu 141,5%. Ninguém acredita, pois
foi algo muito pior.
Segundo o Fundo Monetário Internacional, porta-voz do
“império” segundo a megalomania socialista oficial, a inflação atingirá 720%
este ano e a economia encolherá mais 8%.
O Banco Central venezuelano emite moeda quando tem papel,
mas mesmo aumentando o valor de face, as notas significam pouco o nada.
As reservas internacionais em dólar beiram apenas US$ 1,5
bilhão. Os salários reais encolheram 35% em 2015, segundo o consultor Asdrúbal
Oliveros. A gasolina aumentou por volta de 6.000%, mas seu preço era até então
tão ridículo.
Da penúria só se salvam as autoridades privilegiadas e os
parasitas que vivem em seu redor. Segundo um grupo de universidades, 76% dos
venezuelanos vivem em situação de pobreza.
A criminalidade está fora de controle, ou está bem ancorada
na administração pública. O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos
Allup, ameaça destituir o presidente constitucionalmente.
Mas Maduro escravizou o Judiciário que anula as decisões
incômodas do Legislativo. Não há governo, prevalece a força das intimidações, e
Maduro controla milícias armadas e talvez boa parte do Exército.
Padarias desoladoramente vazias
“El Mundo” de Madri destaca a “total improvisação”, mas um
símbolo tem um efeito que diz tudo: as padarias de Caracas, muitas delas de
propriedade de imigrantes portugueses, exibem o cartaz assustador feito à mão:
“NO HAY PAN”.
“Não há pão”: prateleiras vazias, padeiros que já embarcaram
a família e recolhem os últimos bens. O mais básico alimento, esse também
falta.
Não há trigo, menos ainda farinha. Cinco moinhos do país
pararam por falta de matéria prima. Esta era importada após os efeitos
inevitáveis da reforma agrária dos anos 70 em diante. Até nas fábricas de
bolachas as máquinas não funcionam.
Maduro ataca a corrupção que ele só vê na oposição. “Hoje
demos início com novos brios, com novas forças a operação Ataque ao gorgulho
[inseto que devora o arroz] e já há mais de 55 culpáveis detidos”, obviamente
produtores e comerciantes.
“Ali estão eles por trás das grades para ser processados,
eles que escarneceram da confiança pública, eles não há desculpa”, enfatizou
Maduro com tons que evocam Fidel Castro ou Mão Tsé Tung antes das chacinas de
“burgueses”.
“Gorgulho aqui, gorgulho lá, onde quer que estejam é preciso
cair encima deles” insistiu o presidente. O Serviço de Inteligência Bolivariano
é o encarregado da operação que não tem data para terminar.
E os defensores internacionais dos pobres, onde estão eles?
Nos palácios – ou hotéis – episcopais, nas paróquias, nos púlpitos, nas
assembleias da ONU e dependências, eles não sabem de nada. Mas tripudiam sobre
os ricos e seu egoísmo…
Quem são eles?
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