Desligaram o botão do
pânico
Péricles Capanema
Desde 2013 em Vitória, capital capixaba, as mulheres
ameaçadas por ex-maridos, namorados ou companheiros dispõem de eficaz defesa, o
botão do pânico, pequeno, cabe na bolsa. Com a aproximação do potencial
agressor, elas apertam o botão. Um alarma soa na sala de monitoramento da
Guarda Municipal. Ali, o computador indica onde está a vítima e a viatura mais próxima.
Os guardas recebem no celular a foto do ofensor. E acodem logo. Mais de vinte
homens já foram presos. Numerosas consortes, antes agoniadas, com o novo
recurso, experimentam enorme sensação de segurança e tranquilidade. Constatação
da juíza Hermínia Azoury: “As mulheres clamam pela medida protetiva. Elas
pedem: ‘Doutora, nós precisamos muito do botão do pânico’”. A providência tem o
patrocínio do Judiciário e a colaboração da Prefeitura. Em São Paulo, o
prefeito João Dória pensa aplicá-la. Tende a se generalizar Brasil afora.
Viro a página. Diante de notícias recentes, tive a
estranha sensação de que o Brasil está tentado a desligar o botão do pânico. Eu
também acho, precisamos muito do botão do pânico, e não apenas para proteger as
mulheres contra a violência. A razão é simples: o botão do pânico ligado indica
vitalidade. Em qualquer campo.
O DataFolha publicou a última pesquisa para a eleição
de 2018. Segundo turno: Lula 38%, Aécio 34%. Outra possibilidade: Lula 38%,
Alckmin 34%. Terceiro cenário: Lula 37%, Serra 35%. Quarta hipótese: Marina
43%, Lula 34%. Marina com os três presidenciáveis tucanos: Marina 47%, Serra, 27%;
Marina 48%, Alckmin 25%; Marina 47%, Aécio 25%. Lula continua o mais rejeitado
entre os candidatos à Presidência (44% não vota nele de jeito nenhum).
Para o primeiro turno, o ex-presidente ampliou sua
vantagem em relação à pesquisa de julho passado. Com
Aécio candidato, Lula tem 25%, Marina, 15% e o tucano 11%. Em julho, Lula, 22%,
Marina, 17%, Aécio, 14%. A seguir, Bolsonaro, 9%, Ciro, 5%, Caiado, 2%. Lula
ganhou pontos em todos os segmentos. Destaco, entre os mais escolarizados, 13%
em julho, agora, 17%. Tem 30% de intenção de votos entre os mais pobres; 34%
entre os menos escolarizados e 41% no Nordeste.
Surge um novo eleitor: o partidário de Sérgio Moro. 50% dos que escolheriam o
juiz, não votariam nem em tucanos, nem no petista. Sem Moro no páreo, iriam
para o voto nulo ou branco.
Sei, eleição distante, fins
de 2018. O quadro pode mudar muito. A mais, os institutos de opinião pública
estão com a credibilidade lá embaixo. Outro ponto, na pesquisa espontânea, Lula
aparece com 9%, Bolsonaro, 3%, Aécio, 2, Marina, 1%, Moro, 1%. A maioria, 62%,
não cita ninguém, indicando público desinteressado e desinformado. Há pouco os
pleitos municipais evidenciaram enorme desgaste petista. Somando e subtraindo,
raízes fracas, um eleitor, como a biruta, sujeito a todo tipo de ventos.
Foi inominável o que o
brasileiro sofreu com o desastre petista. Lembro algumas das chicotadas, queda
do padrão de vida, desemprego galopante, falta de investimento e de
perspectivas. Ao lado, corrupção em quase todos os espaços da administração
pública, promovida como meio de enriquecimento pessoal, mas também como método de
projeto de poder e de implantação de políticas estatizantes. Com a longa e
geral degradação, o Brasil que presta se sentiu enxovalhado.
Num primeiro momento, veio
o atordoamento e o choque com a enxurrada suja das revelações. Com a sensação
do perigo iminente, muita gente apertou o botão do pânico. Depois presenciamos
o esgotamento paulatino se aprofundando, a acomodação se espraiando, a
impaciência se transmutando em desagrado. Moral da história, inchou a insensibilidade
diante do horror passado.
Já não se ouve em muitos
lugares a estridência do alarme. O botão do pânico parece desligado. Por quê? A
lógica nos empurra à conclusão: continuaram atuantes traços atávicos do
temperamento público como a superficialidade, o imediatismo, a
impressionabilidade doentia, a falta do hábito de decidir estaqueado em
princípios.
Já foram motivos de tragédias; agora formam solo para desastres
futuros. É todo mundo? Claro que não. Mas constituem multidões. Faz falta em
tantos campos a reatividade das mulheres ameaçadas de Vitória: “Doutora,
nós precisamos muito do botão do pânico”. É meu slogan para 2017.
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