Temer vai acelerar venda de terras da União a
assentados
Sorocaba - O presidente Temer editou medida provisória para
agilizar a concessão de títulos de domínio para assentados e acelerar a venda
de terras da União para beneficiários do Programa Nacional da Reforma Agrária.
A meta de Temer é entregar 280 mil documentos até o fim de seu mandato, em
2018. Serão priorizados os assentamentos já existentes - são 9.332 mil em todo
o País, onde vive 1 milhão de famílias.
A MP 759/2016, em vigor, altera a política
de reforma agrária. A proposta -- que ainda será analisada pelo Congresso -- prevê que o
assentado pague pelo lote para receber o título de domínio.
Os ocupantes que
ainda não têm a titulação e não pagaram pelo lote terão de regularizar o
pagamento para ter a posse definitiva. Os pagamentos serão parcelados em até
dez anos, mas também podem ser quitados à vista.
A MP permite que o beneficiário ocupe cargo, emprego ou função pública,
desde que após sua seleção e homologação. A medida mantém a proibição para
ingresso na reforma agrária de agentes públicos, mas apenas até a aquisição do
lote. A medida libera o já assentado para, por exemplo, prestar concurso
público ou concorrer a cargos eletivos.
Critérios
A MP muda também os critérios de
cadastro e seleção das famílias beneficiárias, excluindo do processo a
necessidade de o assentado estar acampado, o que na prática elimina a
intermediação dos movimentos sociais, como o MST, historicamente ligado ao PT.
Família mais numerosa, família que reside há mais tempo no município do
projeto de assentamento e família chefiada por mulher são algumas das
prioridades das regras para escolha dos beneficiários.
Caberá aos municípios a organização dos projetos de assentamento.
Além de destoar da política de reforma agrária de seus antecessores,
Temer quer transformar a titulação de terras na marca da nova gestão do Incra -
será a "reforma da reforma agrária".
De acordo com o instituto, a
titulação é importante por dar segurança jurídica aos assentados, além de
possibilitar acesso a políticas públicas do governo. Com o documento, o assentado
pode recorrer ao Pronaf e a bancos.
Novos assentamentos
Segundo o Incra, a MP define também as formas de aquisição de terras
para criar novos assentamentos, embora, em momento de ajuste fiscal, a
prioridade do governo seja reorganizar e regularizar os assentamentos
existentes.
Neste ano, assim como em 2015, o governo federal não adquiriu terras
para novos assentamentos.
Nos últimos dias de seu governo, a presidente cassada
Dilma assinou 25 decretos de desapropriação de imóveis rurais para a reforma
agrária e regularização de territórios quilombolas, totalizando 56,5 mil
hectares, mas o processo não avançou.
O Incra informou que os decretos assinados por Dilma não tinham previsão
orçamentária. "Em 2015, a ex-presidente não assinou nenhum decreto de
desapropriação para fins de reforma agrária", informou o órgão, em nota.
"O congelamento dos recursos da reforma agrária não se deu no atual
governo."
Segundo Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, um decreto
legislativo articulado com o governo suspendeu os decretos para atender à
bancada ruralista.
"Com o fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário, as
políticas públicas do ministério também foram reduzidas, sendo transformado em
uma secretaria sem estrutura e orçamento para a execução de políticas para a
agricultura familiar."
Críticas
Em nota divulgada pelo MST, Miguel Enrique Stédile, da coordenação
nacional, afirmou que a titulação é uma "reforma agrária às avessas",
que ampliará a concentração de terras.
"Hoje, os beneficiários recebem a concessão do uso da terra,
podendo passá-las para os filhos, mas não podem mercantilizar porque a terra é
da União", afirmou.
"Com a titulação, os assentados
se tornam proprietários, porém, terão de pagar o preço de mercado atualizado
das terras que receberam. Ou seja, o assentado vai ficar com a dívida e, sem
infraestrutura para produzir, em pouco tempo venderá a terra." As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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