segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Agronegócio em Minas não foi contaminado pela crise econômica



Apesar da crise na economia brasileira, Produto Interno Bruto do Agronegócio mineiro deve movimentar R$ 197,15 bi, com crescimento de 5,18% em relação ao ano anterior. Café é um dos destaques
 Graziela Reis /Estado de Minas


 Cafezal no Sul do estado: safra mineira de 30 milhões de sacas foi recorde (foto: Villa Café/Divulgação - 17/12/15)


O agronegócio colheu bons frutos no ano passado, ao contrário do que ocorreu nos outros setores da economia. 

Prova disso pode ser conferida na última estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária mineira. De acordo com balanço da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), o PIB do campo em Minas, em 2016, deve movimentar R$ 197,15 bilhões e crescer 5,18% frente ao registrado em 2015. 

O resultado é bem melhor que o esperado para a economia brasileira. De acordo com expectativas oficiais do governo, o PIB do país deve ter caído cerca de 3,5% no decorrer do ano passado.


Segundo a Faemg, os produtos agrícolas foram a âncora do agronegócio em 2016. Eles foram responsáveis por 53,8% do PIB do agronegócio do estado, gerando R$ 106,03 bilhões, com crescimento de 12,98% em relação ao ano anterior. 

Com 46,2% do PIB do agronegócio do estado, a pecuária, por sua vez, não teve resultados tão positivos: deve recuar 2,64% e faturar R$ 91,12 bilhões. 

“Apesar de todos os percalços, dos problemas políticos e econômicos, tivemos um ano produtivo, de muito trabalho e conseguimos fazer com que o agronegócio de Minas continuasse crescendo, sustentado pela agricultura”, disse o presidente da Faemg Roberto Simões.

A pecuária não teve um ano tão positivo por causa do aumento dos custos com ração (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 24/6/15)

Em palestra em Belo Horizonte, no mês passado, o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes, lembrou que os bons resultados colhidos pelo agronegócio são frutos do milagre promovido pelo Brasil ao desenvolver, nos anos 1970, uma agricultura tropical inexistente no mundo, baseada em ciência e tecnologia. 

O processo, para ele, foi tão bem-sucedido que, em meio à severa crise econômica enfrentada pelo país, o setor continua obtendo bons resultados e as perspectivas são promissoras. Para que siga registrando crescimento, ele destacou que o futuro do setor está no empreendedorismo e na necessidade de acompanhar a evolução do mundo. O produtor rural, em sua opinião, não deve se isolar no campo.



Os cafeicultores têm feito um trabalho positivo nesse sentido, de conquista de novos mercados e busca por qualidade com o uso de tecnologia de ponta. E o resultado pôde ser visto no PIB do agronegócio mineiro em 2016. 

O presidente das comissões estadual e federal de Café da Faemg e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, lembrou que tanto o Brasil quanto Minas Gerais tiveram uma bela safra no ano passado. 

“Minas Gerais produziu sozinho cerca de 30 milhões de sacas, o que foi um recorde”, afirma. Mas em relação a preços, ele acredita que o mercado poderia estar melhor, uma vez que houve queda nos últimos dois meses. “Está andando de lado. Há muita especulação”, observou.


Para 2017, no entanto, o café não deverá ser uma âncora tão forte para o agronegócio. Em decorrência da bianualidade da cultura, a safra, com certeza, será mais baixa. A quebra tradicional, segundo Mesquita, costuma variar de 20% a 25%. Mas, como a colheita passada foi muito alta, a baixa pode ser mais forte. “Deve ficar abaixo das 43 milhões de sacas colhidas pelo país em 2015”, calculou.

Uma das características que tende a se manter em destaque é a busca pela qualidade. Hoje, cafeicultores de todo o país oferecem grãos diferenciados. Até há pouco tempo, os especiais eram ofertados apenas por regiões específicas. E a tendência é de que os produtores do café ofereçam produtos cada vez melhores. “Todos têm caprichado”, reforçou Mesquita.

Entre os temores do setor cafeeiro para este ano está a possibilidade de importação de café conilon. A indústria fez o pedido alegando falta dessa variedade no mercado.

Mesquita, que também é diretor da Faemg, observa que realmente houve uma quebra na safra desse grão, principalmente na produção do Espírito Santo. Mas ele afirma que ainda há o suficiente para suprir o mercado nacional até o início da colheita. “Há o suficiente até o início da colheita neste ano”, afirma.

O café é responsável por cerca de 45% das exportações do agronegócio do estado, acumulando US$ 2,7 bilhões de janeiro a outubro de 2016. O principal país comprador foi a Alemanha, com aproximadamente 21% do total exportado.







No setor sucroalcooleiro as exportações de açúcar ajudaram a alavancar a receita (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 30/10/12)

Outro segmento que também teve destaque no agronegócio de Minas foi o sucroalcooleiro, puxado pelo bom preço do açúcar no mercado externo. Para se ter ideia, o setor exportou US$ 970,4 milhões e passou a ser o segundo colocado do ranking da balança comercial do agronegócio mineiro, entre janeiro e outubro de 2016. 

O crescimento, frente a igual período do ano anterior, foi de 50,7%. O açúcar foi o carro-chefe dos negócios internacionais. A soja, por sua vez, ocupou o terceiro lugar, com a movimentação de US$ 897,1 milhões para clientes de outros países nos primeiros 10 meses do ano passado. A alta foi de 5,3%.

LADO RUIM 

Por causa da crise econômica, aumento do desemprego, os segmentos de suínos e bovinos tiveram demanda menos aquecida no mercado interno. Mas a abertura do mercado dos Estados Unidos para a carne bovina in natura brasileira é um bom indicador para a conquista de novos mercados. 

Para a coordenadora da Assessoria Técnica da Faemg, Aline Veloso, é necessária uma aproximação mais forte com a China e com os Estados Unidos, que são estratégicos para os produtos pecuários. “Por serem muito exigentes, habilitam o Brasil a conquistar outros mercados”, observou.

Com relação ao leite, o ano foi considerado atípico, pois os preços pagos pelo litro ao produtor foram mais altos em quase todos os meses de 2016. Mas os aumentos de custos também observados em outros setores do agronegócio acabaram impedindo um ganho maior do pecuarista. 

De acordo com o presidente da Comissão Nacional da Bovinocultura de Leite da CNA e da Câmara Setorial de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Rodrigo Alvim, a alta nos preços de soja e do milho, bases para a ração animal, fizeram com que a renda da atividade não fosse tão boa.

Outro ponto considerado negativo para a pecuária leiteira foi a autorização do Mapa, para a reidratação do leite em pó, para produção de leites fluidos (UHT e barriga mole - saquinho) na área da Sudene.



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