FNL invade fazendas em 12 Estados pelo
'Carnaval
Vermelho'
Comandos locais da Polícia Militar confirmam
ocupações em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Alagoas, Pernambuco,
Sergipe, Mato Grosso e Distrito Federal
José Maria Tomazela
O Estado de S.Paulo
SOROCABA – Integrantes da Frente
Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) invadiram cerca de 100 fazendas em
doze Estados, entre a madrugada de sábado e a manhã deste domingo (19), na ação
chamada “Carnaval Vermelho” pela reforma agrária.
O líder da frente, José
Rainha Junior, afirma ser “uma das maiores jornadas de luta em ocupações de
terra no Brasil”. Segundo ele, para cobrar a distribuição de terras, estão
mobilizados mais de 10 mil militantes e camponeses.
Até a tarde, os comandos locais da
Polícia Militar confirmavam ocupações em São Paulo, Mato Grosso do Sul,
Bahia, Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Mato Grosso e Distrito Federal. Em
outros Estados, a PM não tinha sido informada das ações.
“As ocupações têm como
objetivo chamar a atenção do governo para o descaso que vem tratando a reforma
agrária, que há muito tempo está paralisada”, informa nota distribuída pela
FNL.
Em São Paulo, a reportagem confirmou
invasões de 16 propriedades nas regiões de Itapetininga, Andradina, Araçatuba,
Bauru e no Pontal do Paranapanema.
Só no Pontal, palco dos maiores conflitos
agrários do Estado, foram ocupadas dez fazendas. Os sem-terra cortaram cercas e
cadeados para entrar nas áreas. Em algumas áreas, a ocupação foi feita por
grupos pequenos, com até 20 militantes, segundo a PM.
Em entrevista, Rainha Junior disse que
a situação no campo é grave. “A miséria e o desemprego aumentam a cada dia e a
política do governo é investir bilhões no agronegócio, enquanto o pequeno
agricultor fica à míngua.”
Ele cobrou a criação de um ministério para a
agricultura familiar. "O governo investe no sistema prisional e esquece a
agricultura familiar, que fixa o homem no campo. Estamos voltando ao Brasil
Colônia, com nossas terras sendo vendidas a grupos estrangeiros por preço de
banana, enquanto milhares de sem terra vivem na extrema pobreza, na beira de
estradas, debaixo de lonas pretas.”
O presidente da União Democrática
Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse a entidade que representa os
fazendeiros vai entrar com representação civil e criminal contra os líderes da
FNL.
“Invasão é crime e José Rainha já foi condenado a mais de 30 anos de
prisão, no entanto continua sua atividade criminosa. Está na hora das
autoridades, inclusive do Judiciário, mostrarem que estão aí para serem
respeitadas e não sofrerem esse tipo de deboche.”
Segundo ele, as invasões
causam danos às propriedades e paralisam a atividade produtiva, mas os
prejuízos aos produtores rurais não são reparados.
Ex-dirigente do Movimento dos Sem Terra
(MST), em 2015, Rainha Junior foi condenado a 31 anos e cinco meses de prisão,
em primeira instância, por crimes de extorsão, formação de quadrilha e
estelionato, após ser investigado num esquema de desvio de recursos da reforma
agrária.
Ele conseguiu habeas corpus para esperar o julgamento do recurso em
liberdade. Antes, chegou a ficar preso por invasão, depredação de propriedade e
porte ilegal de arma. Ele nega os crimes e se diz perseguido por sua militância
social.
No ano passado, a FNL realizou o
“Carnaval Vermelho” com 80 ocupações no País, entre elas, as sedes do Incra e
do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em Brasília. Em maio,
os militantes invadiram a Fazenda Esmeralda, em Duartina, interior paulista,
pertencente a João Baptista Lima Filho, ex-assessor e amigo do presidente
Michel Temer.
Uma semana após desocupar a fazenda, Rainha foi recebido por
Temer no Palácio do Planalto, em encontro intermediado pelo deputado Paulo
Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP).
Não havia expediente no Incra ontem e a
assessoria de imprensa não tem plantões no fim de semana. Em posicionamentos
anteriores, o Incra informou que busca o diálogo com os movimentos sociais e,
ao mesmo tempo, executar a nova política para a reforma agrária definida pelo
presidente Michel Temer, que inclui a titulação dos lotes já ocupados pelos
assentados.
Segundo o Incra, o governo definiu formas para reorganizar os
assentamentos e que facilitam a aquisição de terras para criar novos
assentamentos.
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