domingo, 22 de outubro de 2017

Curva perigosa, animais na pista, buracos, queda de barreira, cerração...


Retratos do Brasil 
Péricles Capanema

A menos de ano da eleição presidencial, não só dela, Câmara, Senado, governadores, na bica, desembocamos na reta de chegada. Como? Deixo alguns vislumbres abaixo. Entre 12 e 16 de outubro o Instituto Paraná Pesquisas executou a especialidade, pesquisou em 64 cidades de Santa Catarina, entrevistando 1.554 eleitores.

Antes dos números alguns lembretes. Em renda per capita o catarinense é o brasileiro mais rico ou quase tanto. Estado ordeiro, boa qualidade de vida, gente acostumada ao trabalho, em média seu habitante é mais escolarizado e informado que no resto do Brasil. 

Tal perfil sociológico se repete em enormes bolsões de Pindorama. E então, os resultados em Santa Catarina são importantes, mais valem, todavia, como indicativos nacionais. Feitas as adaptações, a pesquisa revela propensões País afora em gente de aspirações, nível de informação e renda, semelhantes às dos catarinenses.

Na corrida presidencial, Bolsonaro lidera (24,6%), seguido por Lula (18,0%), Marina (9,3%), Alkmin (8,2%), Álvaro Dias (7,0%), Joaquim Barbos (5,8%).

Por idade. Entre 16 e 24 anos, Bolsonaro (32,7%), Lula (17,6%); entre 24 e 34 anos, Bolsonaro (34,3%), Lula (15,0%); entre 35 e 44 anos, Bolsonaro (30,6%), Lula (15,6). De outro jeito, a aprovação a Bolsonaro sobe acima da média do Estado e a de Lula cai para abaixo da média na juventude e nos anos em que a pessoa é mais produtiva. Entre os idosos, a tendência se inverte, sobe Lula e cai Bolsonaro. 

Para os de 60 ou mais, Jair Bolsonaro (11,6%), Lula (21,6%). Aqui pode entrar o receio da mexida nas aposentadorias, que o petista supostamente não faria. Agora, escolaridade. Aumenta a escolaridade, cresce o voto Bolsonaro. Entre os de nível superior, Bolsonaro (31,1%), Lula (10,6%). Finalmente, sexo. O apoio a Bolsonaro é maior entre homens que entre mulheres; homens (32,8%), mulheres (20,1%).

Sob um aspecto, o levantamento mostra, sobe o voto Bolsonaro entre as pessoas que estão pela idade com mais gana de ir para frente e crescer na vida. Buscam ordem, segurança, correção na vida pública. Têm horror de incompetência, bagunça, roubalheira e retrocesso, marcas do PT. Apoiariam incondicionalmente Bolsonaro? 

Não. De momento simpatizam com uma imagem militar de determinação, um comportamento, algumas convicções. Tanto mais que o deputado ainda não apresentou programa. A maioria desse eleitorado quer privatizações e menor presença do Estado na economia. E não são bem conhecidas as posições atuais de Bolsonaro relativas ao estatismo e ao intervencionismo estatal.

Continuo com pesquisas, agora mais amplas e trabalhadas. Passo a um estudo, cuja matéria-prima são investigações (entrevistadas 1.568 pessoas no Brasil inteiro), realizado e publicado pela Fundação Getúlio Vargas. Título: “O dilema do brasileiro: entre a descrença no presente e a esperança no futuro”.

Algumas de suas constatações: o que mais preocupa 62,3% dos brasileiros é a corrupção (62,3%). Supera saúde pública (49,7%), segurança pública (44,1%), desemprego (39,4%). Para apenas 12,2% o principal problema é a perda de valores morais. 

E apenas 24,8% julgam que é a educação pública. Outras averiguações do estudo da FGV. 68,4% dos brasileiros são contra qualquer liberalização do aborto, 10,0% a desejam. 39,2% dos brasileiros concordam que os casais homossexuais devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais, 31,0% são contra tal possibilidade.

Enorme descrença com a política. Rejeição de 83% ao presidente Temer (apoio de 7,7%), rejeição de 78% aos políticos (apoio de 8,9%), rejeição de 76% aos partidos (apoio de 7,3%). 55% não pretendem votar no candidato presidencial em que votaram na última eleição. 

No Nordeste, entretanto, 58,7% repetiriam o voto. Três entidades gozam de boa credibilidade: Igreja, apoio de 61% e rejeição de 19,5%; militares, apoio de 45,9% e rejeição de 29,6%; juízes, apoio de 42,2% e rejeição de 32,8%.

Claro, tais fatos se refletem no apreço à democracia entre os brasileiros. Para 44,2% deles não existe democracia no Brasil. Para 20,7%, de alguma maneira, existe.

Volto a números coletados pela Paraná Pesquisas (agora nacionais), relacionados com o tema em análise. Para 70,1% da população brasileira não há diferença entre PT e PSDB. Para 26,9%, existem. 

Nas eleições para deputado federal em que partido votariam? 18,2% votariam em tucanos. 14,5% votariam em petistas. 63,7% em nenhum dos dois. Perguntados se “o sr(a) seria a favor ou contra uma intervenção militar provisória no Brasil?”, 51,6% se manifestaram contra, 43,1% se manifestaram a favor. 

Modificada a pergunta: “Caso a justiça não puna os corruptos, o sr(a) seria a favor ou contra a volta dos militares ao comando no Brasil?”, 50,6% se manifestaram a favor, 43,4% contra.

Sei, pesquisas são retratos momentâneos, imprecisas, têm erros de avaliação. Sua importância precisa ser relativizada, em especial no Brasil de divisões ideológicas fluidas, primitivismo, ignorância, desorientação dos espíritos. 

Informa o site “O Antagonista”, 13% dos eleitores de Bolsonaro têm Lula como segundo candidato; 6% dos eleitores de Lula têm Bolsonaro como segundo candidato. 

De qualquer maneira, os números representam alertas importantes, mostram quadro, ainda que esboçado, de luzes esperançosas e sombras importantes.

Somos passageiros do ônibus Brasil, trafegamos em velocidade alta em estrada lotada de avisos de curva perigosa, animais na pista, buracos, queda de barreira, cerração. 

Lá em baixo, na pirambeira, avistamos arrebentada a jardineira Venezuela. Olho aberto, dentro de menos de ano o ônibus poderá sair fora da estrada ou chegar a bom destino. Depende de nós.



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