Depois das eleições a luta
continua
Ronaldo
Ausone Lupinacci*
Somos por natureza inclinados a pensar no futuro,
talvez pelo instinto da sobrevivência. Isso tanto mais se nota quando acontece
um fato muito relevante, que tem importantes consequências a curto, médio e
longo prazo. As eleições de 2018 se enquadram na categoria de fato relevante
porque apontam para mudança radical (ou quase tanto) dos rumos na vida do País.
Daí sermos tentados a especular sobre quais mudanças advirão.
A lógica sugere que elas serão conexas às
circunstâncias que determinaram os resultados das eleições. Importa, pois,
examinar aquelas circunstâncias e os resultados que se verificaram.
Jair Bolsonaro foi eleito com elevada votação. Não
gozava de maior notoriedade, apesar de mais de duas décadas na atividade
política. Não estava filiado a partido político influente. Não dispunha de
recursos financeiros. Foi, permanentemente, hostilizado pelos grandes
conglomerados de comunicação. Proferia discurso substancialmente diferente
daquele usual nos meios políticos.
O que o teria levado a tão meteórica e
triunfante ascensão? A meu ver, exatamente o discurso que ecoou favoravelmente
em vasta parcela da opinião pública, já rompida com o “establishment” político desde
pelo menos 2013. Segundo o “brasilianista” Thimothy J. Power, professor da
Universidade de Oxford, Bolsonaro soube extrair das conversas de “sala de
jantar” o pensamento conservador que vinha fermentando no Brasil.
Como o próprio Bolsonaro admitiu, e, aliás, parece
haver um consenso a respeito, sua eficaz propaganda circulou preponderantemente
pelas redes sociais e pela ação boca-ouvido.
A sintonia entre o candidato e o eleitorado
esteve situada em ideias a respeito da religião, da família, da segurança, da
moralidade, da liberdade de empreender, do repúdio aos tributos extorsivos, do
repúdio a comportamentos libertários (como o desrespeito a professores), da
convicção que a prosperidade depende do respeito ao direito de propriedade,
entre outros assuntos.
Como nota tônica prevaleceu o repúdio às seitas
anticristãs, notadamente o comunismo. Em síntese, e, em linhas gerais, venceu o
ideário da chamada direita liberal ou conservadora. Caíram as principais
oligarquias (PT, PSDB e PMDB).
Ao mesmo tempo em que Bolsonaro foi guindado à
Presidência da República, seus correligionários obtiveram inesperado êxito na
composição dos Parlamentos, a demonstrar que desta vez o voto não foi
personalista, mas motivado por razões ideológicas. Este aspecto sugere que não
foi Bolsonaro quem arrastou o eleitorado, mas exatamente o contrário: foi o
eleitorado quem arrastou Bolsonaro e os candidatos com ele afinados.
Este forte movimento de opinião pública expressa
sinais de consistência, carrega, também, algumas debilidades nas quais não vou
me deter. Esta força tenderá a influenciar as iniciativas nas áreas dos Poderes
Executivo e Legislativo, e, ao mesmo tempo, se opor às propostas dos
adversários políticos ou ideológicos. No conjunto ficará reduzido o espaço de
manobras das esquerdas, salvo no Poder Judiciário, por enquanto.
E, é,
exatamente no Poder Togado, que vejo a principal ameaça de avanço do processo
revolucionário. Neste sentido foi sintomática a fala do Ministro Barroso, do
Supremo Tribunal Federal, na qual a pretexto de proteção aos direitos
fundamentais, afirmou a existência de consenso no tribunal “em favor das
mulheres, dos negros, dos homossexuais, das populações indígenas, de
transgêneros, da liberdade de expressão”, em outras palavras, de minorias que
segundo a teoria neomarxista compõe o novo proletariado, substituto dos
operários e camponeses como aríete da luta de classes.
Afora o ativismo judicial, sobretudo provindo do STF,
pode-se formular a hipótese de recrudescimento da agitação por organismos
manipulados pelas esquerdas tais como o MST, a Via Campesina, CONTAG, CPT e
CIMI, sindicatos, entidades estudantis e outras minorias organizadas como as
ONGS ambientalistas.
Entretanto, este mecanismo – que no passado funcionava
eficazmente para promover a discórdia, a revolução social, a guerra civil e o
golpe para tomada do poder – hoje parece bastante desgastado. Uma terceira via de assalto ao Brasil pelas
esquerdas parece-me que pode vir de fatores externos.
Não se pode excluir a
possibilidade que diante do fracasso de suas forças internas, as esquerdas
movam suas peças de xadrez no tabuleiro externo, seja para promover
estrangulamento econômico, segundo se infere de matéria publicada no jornal
comunista China Daily, seja para
promover uma intervenção na Amazônia com fundamento em falsas teses
ambientalistas, ou ainda alguma outra iniciativa para desestabilizar a América
do Sul, como tentaram com a Guerra das Malvinas em 1982.
Esta hipótese poderá
parecer cerebrina às pessoas que desconhecem o enorme peso que o Brasil tem no
cenário internacional, mas foi ratificada pelo destaque que se deu no exterior
aos resultados das eleições de 2018.
É previsível que a mídia mantenha a guerra de
desinformação que moveu ao eleitorado de Bolsonaro, ainda que de modo velado. A
guerra psicológica revolucionária se serve de armas tais como a mentira sob as
diversificadas formas de calúnia, difamação, intrigas para perturbar e
desorientar os espíritos. Concretamente, isso se daria com o intuito de
engrossar a oposição civil ao novo governo.
Para exemplificar vem à lembrança a
falsa acusação feita recentemente à Colômbia (desmentida pelas respectivas
autoridades) de que estaria montando um plano para, com o Brasil, fazer guerra
à Venezuela.
Em resumo, a guerra incruenta para afastar as
esquerdas do poder não terminou, pois elas não se conformaram à derrota, e
estão, agora, urdindo seus novos planos para recuperar o terreno perdido. Neste
ambiente de paz armada teremos de batalhar para que o os novos dirigentes do
Estado consigam realizar as reformas indispensáveis ao saneamento moral,
cultural, político e econômico.
Restabelecer o respeito à família, extirpar a
corrupção, eliminar o déficit público, estimular a liberdade de empreender até
agora sufocada pela burocracia, suprimir impostos extorsivos e confiscatórios,
reprimir o crime em todas as suas formas, restaurar a disciplina nas escolas,
recolocar a política externa no eixo histórico, implantar reforma política
séria, privatizar empresas estatais, melhorar os serviços públicos em geral, e
tantas outras providências desejadas pela maioria silenciosa que elegeu os
políticos sintonizados com as principais propostas de Jair Bolsonaro.
É preciso considerar, também, que estaremos
sujeitos a decepções. Afinal, o elemento político nacional não irá se regenerar
de uma hora para outra. Ademais, alguns são partidários do quanto pior melhor,
e, a cegueira de boa parte do eleitorado lhes assegura sobrevivência. Por outro
lado, nada de grandioso se faz de repente.
Teremos de pagar o preço da
paciência e da espera. Plinio Corrêa de Oliveira disse que se o PT chegasse ao
poder o Brasil levaria 50 anos para consertar os estragos…
Por tudo isso a luta continua, apesar dos naturais
anseios de distensão que se seguem aos períodos conturbados na vida nacional. O
maior perigo reside em baixar a guarda.
* O autor é advogado e pecuarista.
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