A
seca nos EUA e suas consequências
Helio
Brambilla
Ainda
é cedo para avaliar o resultado da longa estiagem que assola as regiões
produtoras de grãos nos Estados Unidos, já comparada por muitos como a pior
desde a década de 1930.
Com efeito, as previsões apontam para uma perda
estimada de 100 a 120 milhões de toneladas de milho e 15 milhões de soja na
safra atual.
Se incluirmos nesse rol os outros grãos, como o trigo, a aveia e a
cevada, a queda da produção norte-americana poderá atingir o equivalente a 80%
de toda a produção congênere brasileira.
Caberá
aos analistas acurados fazer o balanço do que tal desastre poderá representar,
não apenas para os americanos, mas para a economia mundial.
Contudo, já pressinto
os ecologistas fanáticos gritarem: “Estão vendo? É o aquecimento global”. Lembro
de passagem que praticamente todas as notícias alusivas à seca que castiga o
grande país do norte referem-se a ela como sendo a maior desde os anos 50, ou
mesmo dos anos 30.
Ou seja, muito antes de se falar em “aquecimento global” já
houve secas maiores ou iguais a esta, sobretudo se levarmos em conta que os
espaços físicos ocupados pela população à época eram bem menores, uma vez que a
população mundial duplicou de lá para cá.
Se
por um lado os produtores rurais brasileiros, conhecedores de perto das
adversidades da faina no campo, se entristecem com a tragédia dos colegas
americanos, vendo-os diante de um revés dessa envergadura, por outro lado se
alegram em decorrência das leis de mercado, porque os preços dos grãos atingem patamares
altos.
Nossa “safrinha” do milho – a safra de inverno foi uma das maiores da
história – ultrapassou 35 milhões de toneladas, possibilitando ao Brasil ajudar
os mexicanos, que além de utilizarem o milho para alimento humano, aproveitam-no
também como ração para os animais confinados com que abastecem os EUA.
Num
congresso recente da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio – em São Paulo,
o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, citou a seca nos EUA como um
sinal da fragilidade alimentar do mundo.
Nos EUA o dilema está posto: se utilizarem
o milho para a produção de etanol, automaticamente irão prejudicar outros
setores de vital importância, como a avicultura, a suinocultura e a pecuária,
diminuindo a oferta e inflacionando os preços.
Se, pelo contrário, o
aproveitarem para ração, eles terão de recorrer à importação de petróleo, o que
acarretará igualmente a inflação.
A
situação alimentar fica ainda mais agravada se levarmos em conta a perda de
parte da safra de milho da Argentina e da Ucrânia, bem como a queda da produção
de trigo na Rússia e na China.
Tudo isso conduz os especialistas a uma
estimativa de redução considerável dos estoques dos alimentos mundiais. Aliás,
as consequências já podem ser sentidas entre nós brasileiros e no mundo, ou
seja, o aumento nos preços dos cereais e de seus derivados.
Nesse contexto, não
há como escapar à dicotomia desgraça para alguns, prosperidade para outros.
Embora
os recentes eventos do agronegócio venham ressaltando a missão histórica do
Brasil como salvaguarda alimentícia do mundo, todos pedem a Deus um clima propício
para que a safra de verão, que em breve começará a ser plantada, seja abundante,
a fim de podermos galgar o patamar de primeiro produtor de soja do mundo e continuar
a fazer jus ao título de primeiro exportador, concorrendo para aumentar
substancialmente as receitas para nossa balança comercial.
Plinio
Corrêa de Oliveira sempre defendeu a tese de que o Brasil tem por vocação ser
grande produtor de alimentos, não apenas para atender às suas necessidades, mas
para ajudar alimentar o mundo. Por isso ele foi um defensor intransigente do
direito de propriedade, assegurado pela Lei Natural, pelos 10 Mandamentos da
Lei de Deus, pelo Magistério da Igreja Católica e pela lei positiva do Estado
brasileiro.
Consagrou
ele vários livros contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória, ainda
quando esta era defendida por altas figuras de nosso clero e mesmo da CNBB.
Tais
livros foram difundidos largamente no Brasil, contrapondo-se àquela malfadada
reforma cuja aplicação traria consequências trágicas, como ocorreu em todos os
países onde ela foi implantada em nome de um igualitarismo sob a capa de
democratização das terras.
A
sabedoria presente nos ensinamentos bíblicos foi inspirada pelo próprio Deus
para servir de parâmetro aos homens até o fim dos tempos.
Traçando um paralelo
com a maravilhosa história de José do Egito, lembro que Plinio Corrêa de
Oliveira e todos os que lutaram e lutam contra a Reforma Agrária não querem de
modo algum que “os agricultores brasileiros” sejam vendidos às hordas de
mercenários vermelhos, sejam eles de Moscou, Havana ou Pequim.
No
caso bíblico, a maldade dos irmãos de José, que detinham a governança da casa,
levou-os a vendê-lo aos facínoras e mercenários, que o levaram para o Egito.
Assim
também a agropecuária brasileira. Apesar dos esforços em sentido contrário dos
proprietários, ela foi em parte “vendida” pelos sucessivos governos para uma Reforma
Agrária que desapropriou, matou e empobreceu inúmeros proprietários, transformando
mais de 80 milhões de hectares de terras produtivas em verdadeiras favelas
rurais.
Não
contentes com essa façanha diabólica, os governantes continuaram sua sanha
expropriatória concedendo 13% do território nacional a pouco mais de cinco mil
índios. Em vez de trazê-los ao regaço benfazejo da civilização, querem mantê-los
no estado selvagem, numa espécie de zoológico humano.
Concomitantemente, querem
que mais de 300.000 km² – correspondentes ao Estado de São Paulo – deixem de
produzir para ser transformados em territórios quilombolas.
Por fim, através
Código Florestal como o deseja o governo petista, querem aplicar uma Reforma Agrária
“verde” que subtrairá mais de 40 milhões de hectares da produção. Tudo isso no
momento em que o Brasil e o mundo mais precisam de alimentos.
Enquanto
isso, quais novos José do Egito, os nossos produtores rurais passam por
tribunais e masmorras em decorrência de “crimes ambientais”; ou por
pretensamente manter seus empregados em condição análoga à de escravo.
Apesar
de tudo, contra ventos e marés, eles ainda conseguem a proeza de concorrer para
aliviar a fome que ameaça o mundo em decorrência da seca.
Desde
2003, enquanto o agronegócio vem salvando a balança comercial brasileira – cuja
projeção ultrapassa 500 bilhões de dólares – em Brasília os “governantes”
continuam favorecendo a política das “vacas magras” – ou, se o leitor quiser, das
“vacas no brejo”. Eis alguns exemplos:
·
Greves dos agentes da Receita federal e
dos fiscais da ANVISA (responsável pela sanidade vegetal e animal nos portos)
vêm atrasando a carga de descargas dos navios. Só no Porto de Paranaguá – o maior
porto graneleiro do mundo – há 130 navios parados, à espera de embarque e
desembarque, que custam ao governo federal mais de 10 milhões de dólares de
multa diária pelo não cumprimento dos contratos de transporte naval. No Porto
de Santos, mais de 50 navios se encontram nas mesmas condições.
·
Uma excêntrica lei de descanso a cada
quatro horas para os caminhoneiros tem provocado a paralisação de rodovias,
dificultando ipso facto o
abastecimento das grandes cidades e de nossas exportações. Tanto a greve dos
caminhoneiros quanto a lentidão dos portos é responsável para que na região
Centro-Oeste o milho da safrinha esteja sendo amontoado a céu aberto.
·
Em virtude de problemas sazonais de
mercado e ao excesso de produção, milhões de toneladas de laranja não estão
sendo colhidas em decorrência do baixo preço. Eis uma boa ocasião para que o
governo – muitas vezes pressuroso em salvar Bancos – acrescente, em caráter
emergencial, o suco de laranja saudável à merenda das crianças, desafogando o
setor.
· Com o fechamento do mercado russo às
exportações brasileiras, os suinocultores estão falindo e abandonando a
produção, o que poderá gerar brevemente falta de carne para consumo interno e
exportação.
·
O arrocho sobre os produtores rurais com
a mentira do “trabalho escravo”, sobretudo em Mato Grosso, fez com que eles
passassem a fazer parte das listas negras do governo. Razões?
Uma
das razões alegadas pelas “autoridades” foi falta de copos descartáveis para os
empregados tomarem água – a cidade mais próxima fica a 50 km e não havia copos
no mercado. Para se dessedentarem, eles passaram a tomar água em copos de
alumínio ou de vidro.
Noutra fazenda, os colchões só tinham 12 centímetros de
espessura, quando o órgão federal manda que tenham pelo menos 15 centímetros.
Acontece que muitos daqueles empregados têm o hábito de dormir em redes.
Outro produtor
rural foi multado e colocado na lista negra porque os funcionários tomavam a
mesma água que os bois...
A
propósito, uma pequena digressão. Encontrava-me numa grande fazenda de produção
de leite em Umuarama, no Paraná, para um churrasco ao qual estavam presentes
diversas autoridades e numeroso público.
Além de outras bebidas, todos tomaram
água. A mesma que as vacas bebiam, pela simples razão de que ela provém de poços
artesianos com mais de 150 metros de profundidade e, portanto, superfiltradas
pelas rochas porosas de arenito.
Houve até elogios ao anfitrião pelo fato de
proporcionar às suas vacas aquela água tão límpida que as pessoas tomam. No
caso do Mato Grosso, os fiscais inverteram o binóculo e o proprietário foi
acusado de dar água de vaca aos seus empregados!
Na
ocasião em que o mundo mais precisa do nosso agricultor e este – o José da
metáfora – está sendo cada vez mais cerceado, acontece o julgamento do
escândalo financeiro que passou para a História com o nome de “Mensalão”. Será
que os corruptos de Brasília – que lucraram sem produzir e que acham que lucro
com produção é crime dos agricultores – serão trancafiados?
Para
encerrar, como diz um refrão popular, só mesmo uma prece a Nossa Senhora
Aparecida Rainha do Brasil.
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