quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Desgraça alheia e a agropecuária nacional





A seca nos EUA e suas consequências

Helio Brambilla

Ainda é cedo para avaliar o resultado da longa estiagem que assola as regiões produtoras de grãos nos Estados Unidos, já comparada por muitos como a pior desde a década de 1930. 

Com efeito, as previsões apontam para uma perda estimada de 100 a 120 milhões de toneladas de milho e 15 milhões de soja na safra atual. 

Se incluirmos nesse rol os outros grãos, como o trigo, a aveia e a cevada, a queda da produção norte-americana poderá atingir o equivalente a 80% de toda a produção congênere brasileira.

Caberá aos analistas acurados fazer o balanço do que tal desastre poderá representar, não apenas para os americanos, mas para a economia mundial. 

Contudo, já pressinto os ecologistas fanáticos gritarem: “Estão vendo? É o aquecimento global”. Lembro de passagem que praticamente todas as notícias alusivas à seca que castiga o grande país do norte referem-se a ela como sendo a maior desde os anos 50, ou mesmo dos anos 30. 

Ou seja, muito antes de se falar em “aquecimento global” já houve secas maiores ou iguais a esta, sobretudo se levarmos em conta que os espaços físicos ocupados pela população à época eram bem menores, uma vez que a população mundial duplicou de lá para cá.

Se por um lado os produtores rurais brasileiros, conhecedores de perto das adversidades da faina no campo, se entristecem com a tragédia dos colegas americanos, vendo-os diante de um revés dessa envergadura, por outro lado se alegram em decorrência das leis de mercado, porque os preços dos grãos atingem patamares altos. 

Nossa “safrinha” do milho – a safra de inverno foi uma das maiores da história – ultrapassou 35 milhões de toneladas, possibilitando ao Brasil ajudar os mexicanos, que além de utilizarem o milho para alimento humano, aproveitam-no também como ração para os animais confinados com que abastecem os EUA.
Num congresso recente da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio – em São Paulo, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, citou a seca nos EUA como um sinal da fragilidade alimentar do mundo. 

Nos EUA o dilema está posto: se utilizarem o milho para a produção de etanol, automaticamente irão prejudicar outros setores de vital importância, como a avicultura, a suinocultura e a pecuária, diminuindo a oferta e inflacionando os preços. 

Se, pelo contrário, o aproveitarem para ração, eles terão de recorrer à importação de petróleo, o que acarretará igualmente a inflação.

A situação alimentar fica ainda mais agravada se levarmos em conta a perda de parte da safra de milho da Argentina e da Ucrânia, bem como a queda da produção de trigo na Rússia e na China. 

Tudo isso conduz os especialistas a uma estimativa de redução considerável dos estoques dos alimentos mundiais. Aliás, as consequências já podem ser sentidas entre nós brasileiros e no mundo, ou seja, o aumento nos preços dos cereais e de seus derivados. 
Nesse contexto, não há como escapar à dicotomia desgraça para alguns, prosperidade para outros.

Embora os recentes eventos do agronegócio venham ressaltando a missão histórica do Brasil como salvaguarda alimentícia do mundo, todos pedem a Deus um clima propício para que a safra de verão, que em breve começará a ser plantada, seja abundante, a fim de podermos galgar o patamar de primeiro produtor de soja do mundo e continuar a fazer jus ao título de primeiro exportador, concorrendo para aumentar substancialmente as receitas para nossa balança comercial.

Plinio Corrêa de Oliveira sempre defendeu a tese de que o Brasil tem por vocação ser grande produtor de alimentos, não apenas para atender às suas necessidades, mas para ajudar alimentar o mundo. Por isso ele foi um defensor intransigente do direito de propriedade, assegurado pela Lei Natural, pelos 10 Mandamentos da Lei de Deus, pelo Magistério da Igreja Católica e pela lei positiva do Estado brasileiro.

Consagrou ele vários livros contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória, ainda quando esta era defendida por altas figuras de nosso clero e mesmo da CNBB. 

Tais livros foram difundidos largamente no Brasil, contrapondo-se àquela malfadada reforma cuja aplicação traria consequências trágicas, como ocorreu em todos os países onde ela foi implantada em nome de um igualitarismo sob a capa de democratização das terras.

A sabedoria presente nos ensinamentos bíblicos foi inspirada pelo próprio Deus para servir de parâmetro aos homens até o fim dos tempos. 

Traçando um paralelo com a maravilhosa história de José do Egito, lembro que Plinio Corrêa de Oliveira e todos os que lutaram e lutam contra a Reforma Agrária não querem de modo algum que “os agricultores brasileiros” sejam vendidos às hordas de mercenários vermelhos, sejam eles de Moscou, Havana ou Pequim.

No caso bíblico, a maldade dos irmãos de José, que detinham a governança da casa, levou-os a vendê-lo aos facínoras e mercenários, que o levaram para o Egito. 

Assim também a agropecuária brasileira. Apesar dos esforços em sentido contrário dos proprietários, ela foi em parte “vendida” pelos sucessivos governos para uma Reforma Agrária que desapropriou, matou e empobreceu inúmeros proprietários, transformando mais de 80 milhões de hectares de terras produtivas em verdadeiras favelas rurais.

Não contentes com essa façanha diabólica, os governantes continuaram sua sanha expropriatória concedendo 13% do território nacional a pouco mais de cinco mil índios. Em vez de trazê-los ao regaço benfazejo da civilização, querem mantê-los no estado selvagem, numa espécie de zoológico humano. 

Concomitantemente, querem que mais de 300.000 km² – correspondentes ao Estado de São Paulo – deixem de produzir para ser transformados em territórios quilombolas. 

Por fim, através Código Florestal como o deseja o governo petista, querem aplicar uma Reforma Agrária “verde” que subtrairá mais de 40 milhões de hectares da produção. Tudo isso no momento em que o Brasil e o mundo mais precisam de alimentos.

Enquanto isso, quais novos José do Egito, os nossos produtores rurais passam por tribunais e masmorras em decorrência de “crimes ambientais”; ou por pretensamente manter seus empregados em condição análoga à de escravo. 

Apesar de tudo, contra ventos e marés, eles ainda conseguem a proeza de concorrer para aliviar a fome que ameaça o mundo em decorrência da seca.

Desde 2003, enquanto o agronegócio vem salvando a balança comercial brasileira – cuja projeção ultrapassa 500 bilhões de dólares – em Brasília os “governantes” continuam favorecendo a política das “vacas magras” – ou, se o leitor quiser, das “vacas no brejo”. Eis alguns exemplos:

·        Greves dos agentes da Receita federal e dos fiscais da ANVISA (responsável pela sanidade vegetal e animal nos portos) vêm atrasando a carga de descargas dos navios. Só no Porto de Paranaguá – o maior porto graneleiro do mundo – há 130 navios parados, à espera de embarque e desembarque, que custam ao governo federal mais de 10 milhões de dólares de multa diária pelo não cumprimento dos contratos de transporte naval. No Porto de Santos, mais de 50 navios se encontram nas mesmas condições.
·        Uma excêntrica lei de descanso a cada quatro horas para os caminhoneiros tem provocado a paralisação de rodovias, dificultando ipso facto o abastecimento das grandes cidades e de nossas exportações. Tanto a greve dos caminhoneiros quanto a lentidão dos portos é responsável para que na região Centro-Oeste o milho da safrinha esteja sendo amontoado a céu aberto.
·        Em virtude de problemas sazonais de mercado e ao excesso de produção, milhões de toneladas de laranja não estão sendo colhidas em decorrência do baixo preço. Eis uma boa ocasião para que o governo – muitas vezes pressuroso em salvar Bancos – acrescente, em caráter emergencial, o suco de laranja saudável à merenda das crianças, desafogando o setor.
·    Com o fechamento do mercado russo às exportações brasileiras, os suinocultores estão falindo e abandonando a produção, o que poderá gerar brevemente falta de carne para consumo interno e exportação.
·        O arrocho sobre os produtores rurais com a mentira do “trabalho escravo”, sobretudo em Mato Grosso, fez com que eles passassem a fazer parte das listas negras do governo. Razões?

Uma das razões alegadas pelas “autoridades” foi falta de copos descartáveis para os empregados tomarem água – a cidade mais próxima fica a 50 km e não havia copos no mercado. Para se dessedentarem, eles passaram a tomar água em copos de alumínio ou de vidro. 

Noutra fazenda, os colchões só tinham 12 centímetros de espessura, quando o órgão federal manda que tenham pelo menos 15 centímetros. Acontece que muitos daqueles empregados têm o hábito de dormir em redes. 

Outro produtor rural foi multado e colocado na lista negra porque os funcionários tomavam a mesma água que os bois...

A propósito, uma pequena digressão. Encontrava-me numa grande fazenda de produção de leite em Umuarama, no Paraná, para um churrasco ao qual estavam presentes diversas autoridades e numeroso público. 

Além de outras bebidas, todos tomaram água. A mesma que as vacas bebiam, pela simples razão de que ela provém de poços artesianos com mais de 150 metros de profundidade e, portanto, superfiltradas pelas rochas porosas de arenito. 

Houve até elogios ao anfitrião pelo fato de proporcionar às suas vacas aquela água tão límpida que as pessoas tomam. No caso do Mato Grosso, os fiscais inverteram o binóculo e o proprietário foi acusado de dar água de vaca aos seus empregados!

Na ocasião em que o mundo mais precisa do nosso agricultor e este – o José da metáfora – está sendo cada vez mais cerceado, acontece o julgamento do escândalo financeiro que passou para a História com o nome de “Mensalão”. Será que os corruptos de Brasília – que lucraram sem produzir e que acham que lucro com produção é crime dos agricultores – serão trancafiados?

Para encerrar, como diz um refrão popular, só mesmo uma prece a Nossa Senhora Aparecida Rainha do Brasil.

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