Explode mais um confronto no Rio Grande do Sul: Indios queimam casas e espancam produtor rural. População se revolta.
A lentidão do processo de demarcação
da Terra Indígena Rio dos Índios, em Vicente Dutra, no norte do Estado do
Rio Grande do Sul, motivou um confronto que terminou em agressão, invasão de
propriedade e incêndios.
Um grupo de cerca de 50 índios decidiu
invadir na noite de quarta-feira um balneário de águas termais que fica
localizado dentro da área demarcada como indígena pela Funai. Já o complexo
turístico Termas Minerais Águas do Prado ocupa cerca de 25 hectares e
possui 196 cabanas construídas, que recebem cerca de 20 mil visitantes por ano.
Quando chegaram ao local, no entanto, os indígenas entraram em confronto com o
vigia do estabelecimento.
O vigilante Altair dos Santos Bueno, 48 anos, conta que por volta das 19h um
veículo dirigido por um índio em aparente estado de embriagues colidido com um
carro estacionado em frente ao balneário, o que o motivou a deixar a guarita
onde trabalhava. "Perguntei para eles o que estavam fazendo e eles
disseram que era para eu sair, se não iria sobrar para mim. Em seguida, eu fui
agredido com pedras, flechas e facão", relata o Altair Bueno. O vigilante
também possuiu uma propriedade rural de 37 hectares dentro da área
demarcada como indígena pela Funai, onde planta fumo, feijão e produz leite.
Um vizinho que viu o confronto chamou a Brigada Militar. Quando os policiais
chegaram ao local, ele correu para se abrigar na viatura. Com isso, conforme a
polícia, os índios depredaram o veículo do órgão, quebrando um dos vidros.
Bueno sofreu ferimentos graves na cabeça e foi encaminhado ao hospital de
Caiçara, cidade vizinha a Vicente Dutra, onde recebeu os primeiros
atendimentos. Pouco tempo depois, ele foi transferido para ao Hospital Divina
Providência, em Frederico Westphalen, onde seguia internado até o final da
tarde de ontem.
Incêndio
Após o confronto com o vigia, os indígenas atearam fogo ao escritório
administrativo do balneário, onde também funciona um escritório de advocacia.
Todos os documentos dos dois escritórios foram perdidos, além de móveis e
aparelhos eletrônicos, como computadores. "Não temos mais como recuperar
as ações que não estavam concluídas, aquelas que ainda não foram encaminhadas à
Justiça. O que eu vou dizer às pessoas que estão com ações de aposentadoria,
por exemplo? Que terão de esperar ainda mais porque os documentos delas foram
queimados?", relata o advogado Osmar José da Silva Júnior, 33 anos.
Ele é filho de Osmar José da Silva, 66 anos, um dos proprietários do complexo
turístico. "Perdemos os documentos dos 30 anos de funcionamento do
balneário", lamenta.
O vice-cacique Salvador afirma que o incêndio foi um protesto para pressionar o
governo a agilizar a regulamentação da área.
Revolta popular
Com pedaços de madeira e pedras nas mãos, populares resolveram, na noite de
ontem, expulsar os índios da área invadida. Em menor número, os índios recuaram
e retornaram à área onde vivem.
O ato teve apoio de comerciantes e de agricultores atingidos pelo processo de
demarcação da área e reuniu mais de cem pessoas em frente ao complexo
turístico. Conforme um dos administradores do local, Olinto da Silva, 53 anos,
os donos das cabanas souberam que as casas estavam sendo invadidas e saqueadas,
pois os alarmes começaram a tocar, e ficaram revoltados. "Fizemos uma
reunião no final da tarde e resolvemos tomar as casas de volta", explica
Silva.
O comerciante e dono de uma cabana próxima à entrada do balneário, Flávio Trennepohl,
43 anos, afirma que a porta da residência foi arrancada e que os
eletrodomésticos foram roubados. "Levaram televisão, DVD, geladeira, e
ainda quebraram os vidros. A polícia tem que nos ajudar a recuperar isso",
afirma.
Conforme a administração do parque, oito famílias moravam no balneário, mas
deixaram as casas após a invasão dos índios na noite de quarta-feira.
Para mediar o conflito a Funai resolveu marcar uma reunião para a sexta-feira.
O encontro dos representantes do órgão com os índios deve ocorrer às 14h, no
Ministério Público Federal de Passo Fundo.
Além dos conflitos já deflagrados pela Funai no Rio Grande do Sul com a
tentativa de expropriar propriedades privadas demarcando-as como terras
indígenas do Mato Preto e Passo Grande do Rio Forquilha, Rio dos Índios é mais
um foco de tensão no estado.
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