quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Eleitorado desagradado



Esquerda isolada no poder, eleitorado 

desagradado, programas semelhantes

Adolpho Lindenberg (*)


     Fora dos seguidores habituais de certos partidos ou candidatos, é enorme o número dos que não têm certeza em quem votar. Por quê?

     Nestes últimos doze anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) alcançou êxitos eleitorais em boa medida ilusórios, diz comunicado do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira.

Leia o texto completo no site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

     As conquistas petistas foram, em ponderável medida, fruto de um eleitorado que acabou por votar na esquerda sem ter uma mentalidade autenticamente progressista ou esquerdista.

     A isto era ele condicionado por fatores publicitários, de benesses sociais, de pregações religiosas, de calculismo, e até pela ausência de uma mais ampla gama ideológica de candidatos.

     Entretanto, os estrategistas da esquerda imaginaram ter ganhado terreno na opinião pública.

     Não souberam entender que o “homem da rua” não se deixou propriamente convencer. Certa simpatia despreocupada que o levou a votar na esquerda, não era isenta de uma nota de desconfiança.

     Dando, pois, aos êxitos eleitorais o alcance que eles não tinham, o PT, se açodou na implementação de sua agenda sócio-política e deu livre curso a seus métodos de ação, tantas vezes autoritários.

    Cada dia mais, o PT foi-se mostrando ácido diante das críticas, alimentando o clima odioso do “nós contra eles”.

  O aparelhamento do Estado; as políticas públicas anti-“discriminatórias”, que deslancharam tensões sociais, antes inexistentes no País; o favorecimento de “movimentos sociais” desrespeitadores da propriedade privada e do Estado de Direito; as propostas de controle da imprensa; o aumento de intervenção estatal na economia; as relações internacionais submissas a interesses ideológicos espúrios; o crescimento abrupto de escândalos de corrupção, etc., tudo isso foi fazendo o Brasil se sentir, pouco a pouco, ludibriado em seus anseios de uma ordem distendida e pacata.
     A esquerda no governo foi caindo no isolamento, diante de um público inicialmente desagradado embora silencioso, depois agastado e, por fim, ressentido e furioso.

   Seria por demais exaustivo analisar aqui a gênese dos protestos de junho do ano passado, mas é fato que os mesmos acabaram por se transformar em um imenso transbordar desse descontentamento público, para o qual convergiram insatisfações regionais e nacionais, políticas, sociais, econômicas, culturais, o que deu a tais manifestações um aspecto multifacetado.

     Encerrado em sua própria utopia, o governo petista tentou ainda escamotear o sentido de tais protestos e radicalizar seu projeto de poder.

    Embora as grandes manifestações tenham naturalmente refluído, o descontentamento com o PT e seu modo de governar, foi se multiplicando e dando sinais vivos por toda a parte do território nacional e em todos os segmentos da sociedade.

    Chegou-se, assim, à presente disputa eleitoral em que, para muitos, o intuito primordial de uma renovação política era afastar, pelo voto, o PT do poder.

     A forte carga emocional de uma família, jovem e numerosa, dilacerada por um trágico desparecimento, juntamente com pesquisas que apontavam uma disparada acentuada nas intenções de voto em Marina Silva, fizeram entrever, num desses rompantes típicos de nossa agilidade de espírito, que a candidatura desta última poderia ser a “bala de prata no coração do lulopetismo”, para usar a expressão de um matutino paulista.

    Some-se a isso certa nota messiânica, certo utopismo de quimeras suaves ou brilhantes, envolta em linguagem fantasiosa e sedutora, que cria a impressão, ou a ilusão, da possibilidade de uma outra política.
     Esse verniz messiânico deu a impressão, talvez fugaz, de a nova candidata distar dos conchavos pouco coerentes e das iniciativas políticas tantas vezes enlameadas e corruptas do atual panorama.

     Mas, afirma o IPCO, se bem analisada a situação, o País parece encaminhar-se para uma disputa entre dois projetos políticos esquerdistas, não tão diferentes entre si e, mais grave ainda, que radicalizarão os ânimos e criarão inevitavelmente fissuras no corpo social.


(*) Adolpho Lindenberg é presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO)

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