Amplia-se o rombo
Celso Ming
É agora enorme a
probabilidade de que, em 2014, as contas públicas apresentem um rombo, o
primeiro desde 2001, quando se iniciou a série histórica das estatísticas do
Banco Central.
Há algumas semanas,
o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vinha sustentando que entregaria um
superávit primário (poupança do governo), neste ano, de R$ 10,1 bilhões. Nesta
segunda-feira, saíram os resultados de novembro que apontam, no acumulado do
ano, para um déficit de R$ 19,6 bilhões.
Para apresentar o saldo positivo
pretendido em 2014, em dezembro o governo terá de mostrar um superávit de R$
29,7 bilhões. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, avisou, nesta segunda,
que este mês traria “resultado positivo de dois dígitos”, ou seja, superior a
R$ 9,9 bilhões. Mas vá saber.
Há quantos meses não dá para alguém se fiar na
palavra do secretário?O resultado ruim de novembro não deixa de ter um lado
positivo. Indica que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, arrancou do
governo a decisão de limpar as contas públicas dos truques, pedaladas e
provavelmente de um bom número de esqueletos, para começar 2015 com vida nova.
De
todo modo, é kafkiana a informação publicada no Estadão de domingo de que o
ministro Levy conseguiu instituir uma espécie de Comissão da Verdade, apenas
para apurar o real estado das contas públicas. Ou seja, fica admitido que o novo
governo Dilma recebe uma herança maldita do próprio governo Dilma.
Decididamente, a transição do governo Fernando Henrique para o governo Lula
parece ter sido mais natural, sem necessidade de procedimentos desse tipo
As escamoteações
fiscais que agora estão a exigir a tal Comissão da Verdade não foram obra
exclusiva do secretário do Tesouro. O ministro Guido Mantega também se deu a
manobras esquisitas.
Em abril, por
exemplo, mandou demitir o técnico Leonardo Rolim, da Previdência Social, quando
este avisou que o rombo da área em 2014 não seria de R$ 40 bilhões, como estava
nas contas do ministro, mas de R$ 50 bilhões.
E, no entanto, se
Rolim errou, foi para menos. Até novembro, o déficit acumulado da Previdência
Social foi de R$ 58,5 bilhões. Se, em dezembro, o déficit for metade do que foi
em novembro, o ano fechará com um resultado negativo superior a R$ 60 bilhões.
O Banco Central foi
também solidário com essa operação de camuflar parte do rombo. Desde agosto de 2013, insistiu nos seus
documentos em que “o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona
de neutralidade”, querendo com isso dizer que estava próximo o dia em que
deixaria de produzir inflação.
E, no entanto,
agora já não sabe o quanto de inflação está para ser produzido por tarifas
públicas represadas ou por dívidas do Tesouro assumidas para garantir
transferências para o BNDES, para a Caixa Econômica Federal e para o Banco do
Brasil.
Seja como for, nada
desse encobrimento foi realizado sem o conhecimento da presidente da República.
Dilma 1 apresenta-se diferente de Dilma 2 e, no entanto, trata-se da mesma
pessoa.
Fonte: OESP
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