Custo Petrobras
Graça gastou dinheiro mandando refazer as plantas nos EUA, mas agora,
dado o evidente desastre, cancelou tudo
Há menos de seis anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente
Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal “Valor
Econômico". Entre outras coisas, contou, sem meias palavras, que a
Petrobras não queria construir refinarias e ainda apresentara um plano pífio de
investimentos em 2008. “Convoquei o conselho da empresa", contou Lula.
Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de investimentos, além de
previsões fantásticas para a produção de óleo.
Duas seriam refinarias Premium, uma no Maranhão, com previsão de refino
de 600 mil barris/dia, a maior do país, e outra no Ceará, para 300 mil
barris/dia.
Ontem, ainda na madrugada de terça para quarta, a presidente da
Petrobrás, Graça Foster, informou que a companhia simplesmente desistiu dos
projetos Premium. Disse que a estatal não encontrou parceiros e que o negócio,
afinal, não era viável economicamente.
Parece que não tem nada de mais. Algo assim como: “Foi mal, desculpa
aí”.
Mas tem — nada menos que R$ 2,7 bilhões. Esse é o dinheiro que foi
torrado em dois projetos que não saíram do papel. Na Premium I, a do Maranhão,
ainda foram concluídas obras de terraplenagem, com “investimentos” de R$ 2,1
bilhões. Na II, do Ceará, a Petrobras conseguiu gastar R$ 600 milhões para
praticamente nada.
Faz tempo que Graça Foster sabe que os projetos estavam furados. Desde
2012, pelo menos. Disse então que a companhia estava reavaliando a coisa,
incluindo os equipamentos já comprados. Sim, Graça confirmou que equipamentos
haviam sido adquiridos antes da definição dos projetos.
Graça ainda gastou dinheiro mandando refazer as plantas nos Estados
Unidos — mas agora, dado o evidente desastre, cancelou tudo.
Curiosidade: ainda ontem à tarde, na página da Petrobras, lá constavam
as duas refinarias, na categoria de novos empreendimentos. Pelo texto, coisas
grandiosas. Pelo que disse ontem a presidente Graça Foster, a decisão de
cancelar as refinarias foi tomada no último dia 22. Esqueceram de avisar o
pessoal do site.
Na verdade, é mais do que isso. A história não deixa dúvida: isso aí é
“Custo Lula", mas também um custo a ser atribuído à diretoria da Petrobras
e seu Conselho de Administração, no momento em que a companhia assumiu projetos
tão mal desenhados e durante todo o tempo em que o desastre foi simplesmente
escondido. Dilma Rousseff contou que, quando presidente do Conselho da Petrobras,
foi levada ao equívoco ao se basear em documentos frágeis para autorizar a
compra da refinaria de Pasadena. Pois parece que há muitos outros equívocos a
contabilizar.
As outras duas refinarias que a Petrobras, então presidida por José
Sergio Gabrielli, foi levada a fazer por decisão de Lula são a do Nordeste
(Abreu e Lima) e o Comperj, do Rio, dois projetos que saíram do papel, mas a
preços escandalosamente elevados.
Outra curiosidade: ainda ontem, estavam funcionando direitinho os
escritórios das refinarias Premium em Fortaleza e São Luís. As obras tinham
óbvio caráter político, espécie de prêmio para aliados no Nordeste. Por isso
foi tão difícil cancelar: o negócio tinha outras funções além de refinar
petróleo. Aliás, parece que a única coisa que não importava era o refino.
E pensar que os R$ 2,7 bilhões são coisa pequena diante dos erros,
desvios, roubos e superfaturamento que a empresa ainda nem conseguiu contar. É
explosiva a combinação da gestão “vamo-que-vamo”, para a qual fazer contas é
coisa de neoliberal, com corrupção.
ECONOMIA
Como dizia Mario Henrique Simonsen: muitas vezes é melhor pagar a
propina e não fazer a obra; sai mais barato para o contribuinte.
VISIONÁRIO
Como dizia Eike Batista: um dia a OGX vai valer tanto quanto a
Petrobrás.
GRÉCIA
O novo ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, já se definiu
como militante do “marxismo libertário". Propõe a socialização dos meios
de produção, mas sem a ditadura do Partido Comunista. Mas também não quer a
democracia liberal (ou burguesa). Pede um tipo de democracia exercida e
controlada pelos conselhos populares e de trabalhadores — de sindicatos a,
digamos, associações de moradores. O libertário não vale para os indivíduos,
mas para os conselhos.
Onde funciona ou onde funcionou isso? Em nenhum lugar.
De modo que a doutrina não lhe servirá para nada no serviço que assumiu:
renegociar com a União Europeia e o FMI uma dívida de 240 bilhões de euros. Mas
também ninguém precisa ser marxista para dar um calote na dívida externa.
O Globo -Carlos Alberto Sardenberg é jornalista
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