Saco de maldades
Eliane Cantanhêde
É
sempre assim: quanto mais os governos erram, mais você, consumidor e
contribuinte, paga a conta. Ou melhor, paga o pato. Enquanto economista, Dilma Rousseff tirou uma nota sofrível no
primeiro mandato, com crescimento praticamente zero, inflação no teto da meta,
juros estratosféricos, balança comercial desbalanceada, desempenho fiscal mais
do que constrangedor.
Enquanto ministra das Minas e Energia, chefe
da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás no governo Lula, ela
não soube, não viu e não ouviu que a
maior e mais simbólica companhia do país estava indo para o buraco,
arrastando as maiores empreiteiras do país e ameaçando milhares de empregos.
Enquanto
expert no setor elétrico, a presidente conseguiu, com uma
canetada arrogante e voluntariosa, desestruturar
todo o setor e deixar geradoras, transmissoras e distribuidoras tontas, desorientadas
e com a contabilidade de pernas para o ar. Resultado: conta mais cara e
apagão.
Mas,
enfim, Dilma foi reeleita com os votos de pouco mais da metade dos eleitores e
eleitoras e chegou ao segundo mandato diante de uma escolha de Sofia: cortar
gastos, aumentar impostos ou as duas coisas simultaneamente.
Estava
escrito nas estrelas que faria as duas coisas, apesar de todas as negativas na campanha e de ter acusado Armínio Fraga — eleito o vilão da história — de costurar o saco de maldades que ela mesma já alinhavava e agora
joga na cabeça e nos ombros de quem consome e de quem paga impostos. E que
impostos!
Sobram,
portanto, irritação e indignação, mas não há um pingo de surpresa em todos os
anúncios que a equipe de Dilma vem fazendo desde a eleição, enquanto ela mesma se esconde num silêncio ensurdecedor: “flexibilização”
de direitos trabalhistas e previdenciários, tesourada até mesmo nos recursos da
educação da “pátria educadora”, agora os aumentos de impostos e de tarifas e
veto na correção da tabela do IR.
Os
juros continuam arremetendo, ameaçadores, e sobem a tarifas de energia, de
ônibus e da gasolina. Então, ficamos assim: quando o barril de petróleo
disparava internacionalmente, a Petrobrás represava politicamente o preço
interno da gasolina; agora que o barril só despenca lá fora, a gasolina vai
subir aqui dentro. Uma lógica para lá de
curiosa.
Do
ponto de vista político, contudo, Dilma Rousseff não precisa se preocupar
muito. A indignação é generalizada entre os bem informados e que já estão
sentindo as maldades pipocando dentro da bolsa ou do bolso, mas esses não têm articulação nem
disposição para botar a boca no trombone.
Contentam-se em ler ou ouvir um
artigo ácido daqui, uma entrevista crítica dali.
Quem teria condições de catalisar a
irritação, dizer poucas e boas verdades e pressionar o governo seriam CUT, UNE,
MST e MTST, esse novo movimento paulistano dos sem-teto. Mas a cumpanheirada
está na palma da mão de Lula, do PT, de Dilma, de verbas generosas de órgãos e
empresas.
É mais provável que justifiquem e até aplaudam aumento de impostos e
tarifas! Sinal dos tempos. Tudo que seu mestre e sua mestra mandarem...
A isso
some-se a saia justa da oposição. Como condenar as medidas que Aécio Neves, a
sonhática Marina Silva ou qualquer um que vencesse a eleição teria que tomar,
querendo ou não?
Levy
armou-se até os dentes, o Congresso é
dócil, a oposição está de mãos atadas, os movimentos sociais parecem saciados,
ou cooptados. Dilma segue muda e incólume, como se não tivesse a menor culpa no que Marta Suplicy chama de “fracasso”
da política econômica. Quem leva a pior? Você, claro. E vem mais por aí...
O Estado de S. Paulo
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