Carta
Aberta ao Papa Francisco
sobre
Políticas Climáticas
Santidade,
No
momento em que os líderes mundiais consideram um acordo sobre o clima, muitos
Vos olham em busca de orientação. Louvamos o cuidado que demonstrais para com a
Terra e os filhos de Deus, especialmente os pobres. Nesta carta levantamos
algumas questões de interesse geral, que Vos pedimos considerar ao transmitir
tal orientação.
Grande
parte do debate sobre a gestão ambiental tem sua raiz num confronto entre
visões do mundo baseadas em doutrinas opostas a respeito de Deus, da Criação,
da humanidade, do pecado e da salvação. Infelizmente, esse embate afeta com
frequência as conclusões da ciência ambiental.
Em vez
de um cuidadoso relato exibindo as melhores provas, recebemos conclusões
altamente especulativas e teóricas, apresentadas como resultados seguros da
ciência. Nesse processo a própria ciência fica diminuída, e muitos líderes
morais e religiosos bem-intencionados correm o risco de oferecer soluções
baseadas em ciência enganosa. Tragicamente, o resultado é que as próprias
pessoas que se pretende ajudar podem acabar prejudicadas.
Isto é
especialmente trágico, porquanto a própria ciência surgiu na Europa Medieval,
numa cultura alimentada durante muitos séculos por uma imagem bíblica da
realidade que incentivava empreendimentos científicos. Esta verdade é comum e
corrente para uma ampla e diversificada gama de historiadores e filósofos da
ciência. Como explicou Alfred North Whitehead:
A maior
contribuição do medievalismo para a formação do movimento científico [foi] a
crença inexpugnável de que [...] há um segredo, um segredo que pode ser revelado. Como
foi essa convicção tão vividamente implantada na mente europeia? [...] Ela deve
provir da insistência medieval sobre a racionalidade de Deus, concebida como a
energia pessoal de Jeová, e com a racionalidade de um filósofo grego. Cada
detalhe foi supervisionado e ordenado: a busca na natureza só poderia resultar
numa confirmação da fé na racionalidade. [...]
Na
estimativa de Whitehead, as ideias de outras religiões sobre um deus ou deuses
não poderiam sustentar tal entendimento do universo. Em seus pressupostos,
qualquer “ocorrência [como no animismo ou no politeísmo] poderia ser devida ao
decreto de um déspota irracional” ou [como acontece com o panteísmo e o
materialismo ateu], a “alguma origem impessoal e inescrutável das coisas. Não
existe a mesma confiança [como se dá no teísmo bíblico] na racionalidade
inteligível de um ser pessoal”.[i]
Em
suma, a cosmovisão bíblica lançou a ciência como um esforço sistemático para
entender o mundo real através de um rigoroso processo de teste de hipóteses
pela observação do mundo real. O Prêmio Nobel de Física, Richard Feynman,
explicou “a chave da ciência” da seguinte maneira:
Em geral,
buscamos uma nova lei [científica] pelo seguinte processo: Primeiro nós fazemos
uma conjectura. Depois calculamos as consequências da nossa conjectura, para
ver que implicações haveria caso essa lei que conjeturamos fosse verdadeira. Em
seguida comparamos o resultado desse cálculo com a natureza, com experimentos
ou experiências, e o confrontamos diretamente com a observação [do mundo real]
para ver se funciona. Se a hipótese não concordar com a experiência, ela
está errada. Nesta simples declaração está a chave da ciência. O fato de
sua conjectura ser bonita não faz qualquer diferença. Pouco importa a
inteligência de quem a fez ou qual seja o seu nome: se a conjectura divergir da
experiência ela está errada. E acabou-se. [ii]
Esta
afirmação simples, porém profunda e absolutamente essencial à prática de uma
ciência genuína, é necessária e unicamente derivada da visão bíblica do
universo.
Estudiosos
cristãos e judeus têm produzido ciência de alta qualidade ao longo dos séculos.
Eles estão confiantes de que a ciência genuína leva à verdade sobre Deus e o
homem e não entra em conflito com ela. É por isso que existe, e tem existido
por muitos séculos, uma Academia Pontifícia de Ciências e milhares de
faculdades e universidades judias e cristãs em todo o mundo.
Assim,
como pessoas de fé bíblica, temos um compromisso não só com a verdade, mas
também com a prática da ciência como caminho para chegar à verdade. Hoje,
quando cientistas executam modelos climáticos complexos em grandes computadores
para simular sistemas naturais incomensuravelmente mais complexos, tais como o
clima da Terra, não podemos esquecer nosso compromisso com a verdade ou com
aquela “chave da ciência”. Como disse o cientista social Myanna Lahsen[iii],
nossos modelos podem tornar-se “simulações sedutoras” se os modeladores, outros
cientistas, o público e os formuladores de políticas se esquecerem de que
modelos informáticos não são a realidade, mas devem ser confrontados com ela.
Se o resultado discordar da observação, são os modelos que devem ser
corrigidos, e não a natureza.
Ao
lado de uma sólida ciência, nossa abordagem da política climática deve conter
duas opções preferenciais: pela humanidade e, na humanidade, pelos pobres. Com
isso não visamos lançar a humanidade contra a natureza, menos ainda pobres
contra ricos. Pelo contrário, afirmamos que, como somente a humanidade reflete
a imago Dei, qualquer esforço para proteger o meio ambiente deve estar
centrado no bem-estar do ser humano e particularmente no dos pobres, por serem
os mais vulneráveis e menos aptos a se protegerem. Como escreveu o Rei Davi:
“Feliz quem se lembra do necessitado e do pobre, porque no dia da desgraça o
Senhor o salvará” (Salmo 40,2). Uma boa política climática deve reconhecer a
excepcionalidade humana, o chamado de Deus às pessoas para dominarem o
mundo natural (Gênesis 1,28), e a necessidade de proteger os pobres do mal e de
ações que prejudiquem sua emancipação da pobreza.
Hoje,
muitas vozes proeminentes qualificam a humanidade como flagelo do planeta,
dizendo que o homem é o problema, e não a solução. Tais atitudes falseiam com
muita frequência a correta avaliação dos efeitos do homem sobre a natureza.
Alegando ingenuamente “ciência estabelecida”, elas exigem medidas urgentes para
proteger o planeta de um catastrófico aquecimento global induzido pelo homem.
Ao atribuir o aquecimento dito antinatural ao uso de combustíveis fósseis para
obter energia essencial ao desenvolvimento humano, tais vozes exigem que os
homens se desfaçam do dominium que Deus lhes concedeu, ainda que isso
signifique sua permanência ou recaída na pobreza.
Vossa
preocupação com a genuína ciência e com os pobres requer um tratamento mais
cauteloso, que considere cuidadosamente as provas científicas sobre os efeitos
reais (e não apenas teóricos) da ação humana sobre o clima global; e também que
tenha precipuamente em vista tecnologias energéticas e econômicas para proteger
os pobres. Por isso, esperamos e confiamos que vossa orientação aos líderes
mundiais seja fundamentada sobre o seguinte:
A imago Dei e o domínio do
homem
Pobreza
extrema, fome generalizada, doenças galopantes e pouca expectativa de vida eram
condições comuns à humanidade até os últimos dois séculos e meio. Essas
tragédias acontecem quando – opção preferida de grande parte do movimento
ambientalista – os seres humanos, que são imagem de Deus, vivem e são tratados
como meros animais que devem se submeter à natureza em vez de exercer o domínio
que Deus lhes concedeu no início (Gênesis 1,28). Tal domínio não deve exprimir
o regime abusivo de um tirano, mas o reino amoroso e cheio de significado de
nosso Rei Celestial. Assim, ele deveria manifestar-se aumentando a fecundidade,
a beleza e a segurança da Terra, para a glória de Deus e o bem do nosso
próximo.
Como as sociedades vencem a
pobreza
Foi uma
combinação de instituições morais, sociais, políticas, científicas e
tecnológicas que livrou a maior parte da humanidade de uma absoluta pobreza
material. Tais instituições incluem uma ciência e uma tecnologia fundamentadas
na visão do mundo físico como um cosmos ordenado que possa ser entendido e
aproveitado pelas criaturas racionais para o melhoramento humano; direito de
propriedade privada, empreendedorismo e comércio generalizados, protegidos por
um Estado de Direito sob a égide de governos limitados e sensatos; e energia
abundante, a preço acessível, confiável, gerada a partir de combustíveis
fósseis e nucleares de alta densidade, suportáveis e constantemente acessíveis.
Ao substituírem a tração animal e humana, bem como as fontes de energia de baixa
densidade como madeira, esterco e outros biocombustíveis, e ainda a energia
intermitente de baixa intensidade, de vento e solar, os combustíveis fósseis e
nucleares livraram a humanidade das tarefas básicas de sobrevivência,
permitindo-lhe dedicar tempo e energia em outras ocupações.
Provas empíricas indicam que os
combustíveis fósseis não causam aquecimento catastrófico
Muitos
temem que o uso de combustíveis fósseis ponha em perigo a humanidade e o meio
ambiente, por causar um aquecimento global perigoso e historicamente sem
precedentes. Isso levou muitas pessoas bem-intencionadas a pedir uma redução
das emissões de dióxido de carbono e, em consequência, do uso de combustíveis
fósseis.
Tal
receio se baseia em modelos informáticos relativos ao efeito do aquecimento
causado pelo aumento do dióxido de carbono na atmosfera. No entanto, para que
tais modelos possam contribuir de forma válida à tomada de decisões, eles devem
estar subordinados aos dados científicos, e tem havido uma crescente
divergência entre as medições de temperatura no mundo real e as simulações
informáticas.
Em
média, os modelos informáticos simulam mais do que o dobro do aquecimento
observado durante o período relevante. Mais de 95% dos modelos simulam
aquecimento maior do que tem sido observado, e apenas uma ínfima porcentagem se
aproxima de modo tolerável. Nenhum dos modelos simulou a ausência completa de
aquecimento observada aproximadamente durante o período entre os últimos 16
anos (de acordo com dados de satélites do UAH) e 26 anos (conforme dados do RSS
troposférico inferior).[iv]
Os
dados confirmam a observação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) de que experimentamos hoje uma ausência de aquecimento global
suficientemente longa, tornando quase impossível conciliá-lo com os modelos
informáticos. Tudo isso torna cada vez mais claro o fato de que os modelos
exageram muito o efeito de aquecimento do dióxido de carbono. Os erros desses
modelos não são aleatórios, como sucede com as temperaturas muitas vezes acima
ou abaixo, mas claramente tendenciosos,
sistematicamente acima das temperaturas observadas.
O
método científico exige que as teorias propostas sejam testadas pela observação
empírica. Por esse teste, os modelos estão errados, não fornecendo qualquer base
racional para prever um perigoso aquecimento global induzido pelo homem, nem
justificando esforços para reduzir o aquecimento, restringindo o uso de
combustíveis fósseis ou de quaisquer outros meios.
Num futuro previsível, as
energias eólica e solar não poderão substituir efetivamente os combustíveis
fósseis e a energia nuclear
Devido aos seus custos mais elevados e à sua menor
eficiência, as energias eólica e solar representam apenas uma pequena
porcentagem do consumo total de energia. Com custos menores e maior eficiência,
os combustíveis fósseis representam mais de 85% do consumo. Substituir fontes
de energia constantes e de alta densidade como os combustíveis fósseis, por
fontes energéticas intermitentes e de baixa densidade, como a eólica e a solar,
seria catastrófico para os pobres deste mundo, pois elevaria simultaneamente os
custos e reduziria a confiabilidade e disponibilidade de energia, especialmente
a elétrica.
Por
sua vez, isso aumentaria o custo de todos os outros bens e serviços, que demandam
energia para produzir e transportar. Causaria uma desaceleração no processo de
emancipar os pobres de sua pobreza. Ameaçaria reconduzir milhões de pessoas à
pobreza. E tornaria as redes elétricas instáveis, com cortes intermitentes de
energia e blackouts cada vez mais
frequentes, generalizados e onerosos – situações que por sorte são raras em
países ricos, mas muito conhecidas de milhões de pessoas em países sem redes
elétricas vastas e estáveis, alimentadas por combustíveis fósseis ou nucleares.
Os pobres são os que mais
sofreriam com as tentativas de restringir o uso de energias economicamente
acessíveis
Os
pobres de todo o mundo são os que mais sofrerão com tais políticas. Os mais
pobres entre os pobres – que somam 1,3 bilhões nos países em desenvolvimento e
que dependem de madeira e esterco seco como combustíveis primários de cozinha e
aquecimento, cuja fumaça mata 4 milhões e debilita temporariamente centenas de
milhões a cada ano – serão condenados a mais gerações de pobreza, com suas mortais
consequências.
Os
marginalizados do mundo desenvolvido, que gastam em média duas vezes ou mais
com energia proporcionalmente ao seu salário do que a classe média, perderão
acesso a digna moradia, educação e serviço de saúde, na medida em que sua conta
de eletricidade subir. Alguns morrerão congelados por não poder pagar sua conta
de energia elétrica e comprar comida suficiente. Em invernos recentes, dezenas
de milhares de pessoas morreram no Reino Unido devido à pressa da Grã-Bretanha
em substituir o carvão por energia eólica para gerar eletricidade.
Energia economicamente acessível
pode ajudar milhões de pobres a saírem da pobreza
Ao
mesmo tempo em que os modelos climáticos informatizados exageram o efeito de
aquecimento causado na atmosfera pelo dióxido de carbono, plausivelmente
simulam que um maior desenvolvimento econômico impulsionado pelo uso crescente
de combustíveis fósseis adicionará mais dióxido de carbono na atmosfera. Em
consequência, o Grupo de Trabalho 3 do IPCC considera que os cenários de maior
aquecimento no futuro se darão em sociedades mais ricas, e especialmente nas
que são agora as mais pobres.
Os
riscos de pobreza e políticas energéticas equivocadas que a prolongariam
superam de longe os riscos da mudança climática. Uma riqueza adequada habilita
os homens a prosperarem em uma grande variedade de climas, quentes ou frios,
úmidos ou secos. A pobreza prejudica o desenvolvimento humano, mesmo no melhor
dos climas. A conclusão é que reduzir o uso de combustíveis fósseis significa
reduzir o desenvolvimento econômico, condenando sociedades pobres a continuar
pobres e exigindo que os pobres de hoje se sacrifiquem em prol dos ricos de
amanhã – uma evidente injustiça.
O aumento de dióxido de carbono
na atmosfera ajuda o crescimento das plantas
Ao
mesmo tempo em que o aumento do dióxido de carbono na atmosfera provoca muito
menos aquecimento do que se pensava, ele exerce um efeito positivo na vida das
plantas. Com mais dióxido de carbono no ar as plantas crescem melhor, tanto nas
temperaturas mais quentes quanto nas mais frias, tanto nos solos mais úmidos
quanto nos mais secos, com melhor aproveitamento dos nutrientes do solo,
resistindo melhor às doenças e pragas, aumentando a produção de frutas,
expandindo-se e esverdeando a terra com sua folhagem. Tudo isso aumenta a
quantidade de alimentos disponíveis e acessíveis a todo mundo, especialmente
aos pobres, na medida em que favorece e aumenta a produção agrícola.
Portanto,
substituir carvão, petróleo e gás natural por energia eólica, solar e outras
fontes energéticas de baixa densidade, prejudica os pobres não somente por
aumentar o preço da energia (e com ela o de todos os outros produtos), mas
também por reduzir a produção de alimentos. Isso prejudica a vida na Terra
inteira, privando-a do efeito fertilizante do dióxido de carbono.
“Narram
os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Salmos,
18,2). Ao utilizar combustíveis fósseis para
gerar energia e tirar da pobreza bilhões de preciosos filhos de Deus, liberamos
do túmulo da terra o dióxido de carbono de que dependem as plantas e, portanto,
toda a vida do planeta. Este fato revela esplendidamente a sabedoria e o
cuidado do Criador para com toda a criação: pessoas, animais, plantas, e a
própria Terra.
À luz
destas considerações, cremos ser insensato e injusto adotar políticas que
exijam a redução do uso de combustíveis fósseis para fins energéticos. Tais
políticas condenariam centenas de milhões de nossos irmãos a uma situação de
contínua pobreza. Apelamos respeitosamente a Vossa Santidade que aconselhe os
líderes mundiais a rejeitá-las.
[i] Alfred North Whitehead, Science
and the Modern World (New York: Free Press, [1925] 1967), 13, 12, 13,
citado em Rodney Stark, The Victory of Reason: How Christianity Led to
Freedom, Capitalism, and Western Success (New York: Random House, 2005),
14–15. Similarmente, Loren Eiseley escreveu que “foi o mundo cristão que
finalmente deu à luz de uma maneira clara e articulada, o próprio método da
ciência experimental.” (Loren Eiseley, Darwin’s Century [Garden City,
NY: Doubleday, 1958; reprinted, Doubleday Anchor Books, 1961], 62, cited in
Nancy R. Pearcey and Charles B. Thaxton, The Soul of Science: Christian
Faith and Natural Philosophy [Wheaton, IL: Crossway Books, 1994], 18.) No
mesmo sentido, Pierre Duhem observou que “a mecânica e física de que os tempos
modernos justificadamente se orgulham, proveem, através de uma série de
pequenos melhoramentos quase imperceptíveis, de doutrinas professadas no cerne
das escolas medievais.” (Citado em David C. Lindbergh e Robert S. Westman,
eds., Reappraisals of the Scientific Revolution [Cambridge: Cambridge
University Press, 1990], 14, via Pearcey and Thaxton, Soul of Science,
53.)
[ii] Richard Feynman, The
Character of Physical Law (London: British Broadcasting Corporation, 1965),
4, emphasis added.
[iii] Myanna Lahsen, “Seductive
Simulations? Uncertainty Distribution around Climate Models,” Social Studies
of Science 35/6 (December 2005), 895–922.
[iv] C.P. Morice, J.J. Kennedy, N.A.
Rayner, and P.D. Jones, “Quantifying uncertainties in global and regional
temperature change using an ensemble of observational estimates: The HadCRUT4
dataset,” Journal of Geophysical Research (2012), 117, D08101,
doi:10.1029/2011JD017187; Ross R. McKitrick, “HAC-Robust Measurement of the
Duration of a Trendless Subsample in a Global Climate Time Series,” Open
Journal of Statistics 4 (2014), 527–535, doi: 10.4236/ojs.2014.47050.
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