Documentário registra
a retomada de território quilombola no norte do Estado (ES)
A retomada de território quilombola no norte
do Espírito Santo é tema do documentário As Sementes de Angelim.
As terras dos quilombolas foram tomadas pela Aracruz Celulose (Fibria) e usadas
para plantios de eucalipto por décadas. Atualmente, após recuperar a
terra, os quilombolas produzem alimentos saudáveis em Angelim.
O documentário será lançado nesta quarta-feira
(29), às 18 horas, no Centro Cultural Teodorinho Trica Ferro, na Vila de
Itaúnas, em Conceição da Barra. A retomada do território do Angelim
ocorreu em 2006.
Na divulgação do lançamento do filme, é
lembrado um relato: "O eucalipto trouxe muita coisa ruim, acabou com as
nossas caças. Nós, que somos do quilombo, estamos tentando recuperar o que eles
tomaram da gente".
O documentário foi realizado pela da Federação
de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) do Estado e contou
com o apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(SEPPIR). As imagens e edição são de Fabíola Melca.
A Fase registra que o filme aborda a
experiência de retomada de um território quilombola no Sapê do Norte e as
consequências da plantação de eucalipto na região, formando o chamado
"deserto verde" no cemitério quilombola de Angelim.
Através do filme, pode-se perceber que o
sentimento das populações locais é o mesmo: a vontade de reconstruir uma terra
explorada por décadas (desde os anos 60 do século passado) pela monocultura de
eucalipto.
A
histórica retomada do território teve início em agosto de 2010 e ainda está em
curso. O documentário foi gravado entre 2013 e 2014.
Os quilombolas não têm energia elétrica ou
água encanada, entretanto resistem cheios de sonhos e perspectivas. A
luta dos quilombolas de Angelim para reaver a área começou com um grande
mutirão.
Na ocasião, eles fizeram a retomada de 35 hectares do eucaliptal,
abandonado desde 2008. O filme retrata, então, a relação que a
comunidade passa a desenvolver com as terras, partindo para o cultivo de
gêneros alimentares como feijão, mandioca, melancia, abóbora, bananeiras e
coco.
Os quilombolas cercaram a área agrícola,
demarcando a posse e o uso comunitários, determinados a fazer dali uma
"área livre de eucalipto e agrotóxicos". A ideia foi ocupar a área e
construir um saber agroecológico estratégico, através de um experimento de
transição da monocultura do eucalipto para a produção de alimentos e da
recuperação da mata atlântica, a partir de nascentes, córregos e matas
ciliares.
Na divulgação do filme, é destacado ainda que,
atualmente, a resistência em Angelim já experimenta caminhos de transição que
mostram ser possível reconstruir a agricultura por meio de modelo não
industrial, que é pautado pela lógica de mercado e esgota os solos, tornando-os
impróprios para o cultivo.
E que, a área ainda está em litígio com a
Aracruz Celulose. Os quilombolas de Angelim pretendem ocupá-la de forma
permanente com cultivos de "bem de raiz", como são chamadas as
plantas e árvores tradicionais da mata atlântica.
Os quilombolas sabem que a Aracruz Celulose (Fibria) tem uma enorme dívida ambientalcom
a comunidade e se organizam para cobrar, pressionando a empresa e os governos
federal e do Estado para a posse e uso definitivo do território. Na terra onde
antes só se plantava eucalipto, retomada em 2006, hoje são colhidos
alimentos.
E a luta dos quilombolas não para: eles sonham com a reconquista e a
reconversão de todo o antigo território do Sapê do Norte, formado pelos
municípios de São Mateus e Conceição da Barra.
Os primeiros plantios de eucalipto da então
Aracruz Celulose começaram em novembro de 1967. Nesta ocasião, a empresa já
havia grilado terras dos quilombolas e de pequenos produtores rurais. Em
Aracruz, a empresa já havia tomado terras indígenas.
Para isto, usou pistoleiros, como o temido
matador major PM Orlando Cavalcanti, da PM, e o tenente Merçon, do
Exército. Também usou o poder econômico e sua parceria com o governo militar e com os governadores biônicos (não
eleitos pela população).
Dos quilombolas, a empresa tomou, seja
comprando por preços vis a partir de sedução com promessa de empregos e bons
salários, ou pela força, 50 mil hectares.
Ainda hoje a Aracruz Celulose (Fibria) mantém
um clima de guerra com os quilombolas: os que ousam contestar a ocupação da empresa,
sofrem ações físicas e contra o patrimônio.
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