Terceirização
Antonio Delfim Netto
A
população brasileira tem uma enorme virtude: é extremamente generosa. Por isso
mesmo, é contra a aritmética e a história, como revela a preocupante e
acalorada discussão sobre o projeto de lei que pretende regular a “terceirização”
do trabalho.
É
preocupante porque, de fato, o emprego de todo cidadão que pode e quer
trabalhar, o direito a uma remuneração razoável que lhe permita sustentar a sua
família, são a essência da sociedade civilizada.
É necessariamente acalorada
porque vai ao cerne dos interesses da “elite”
sindicalista ergófoba montada no imposto sindical. Ela sabe que o seu poder depende do controle da “entrada”
dos trabalhadores nos diferentes setores do sistema econômico.
Sua situação
é delicada. Tem que fingir que é “vanguarda” mas precisa combater o inexorável
avanço da tecnologia que é o gerador das mudanças das condições que alteram as
posições relativas dos trabalhadores.
Destroem-se
empregos. Criam-se outros que exigem novos conhecimentos e habilidades. Isso
tem custos sociais e riscos econômicos que, evidentemente, devem ser
enfrentados por políticas públicas de solidariedade social sem comprometer o
aumento da produtividade total do trabalho que é o que induzirá a passagem da
organização obsoleta para a nova que responde ao avanço da tecnologia.
Vamos
combinar: os nossos luddistas repetem dois séculos de fracassos dos sindicatos
de inibir o avanço da tecnologia. Eles deveriam preocupar-se em aumentar a
apropriação pelo trabalhador nos ganhos da produtividade, em lugar de
combatê-la.
Os argumentos contra a terceirização (sujeita aos controles da
proposta do projeto de lei) são opiniões
ideológicas de alguns intelectuais, na maioria funcionários públicos bem instalados
em carreiras confortáveis e de partidos exóticos, ambos apoiados no “fundo
de comércio” de um socialismo “idealizado” que não é alternativa viável para o
horrível capitalismo “real” que nos oprime.
Com todos os seus inegáveis defeitos, o
capitalismo real, com sua destruição criadora, produziu um desenvolvimento
material e humano muito maior do que o socialismo “real” criado por
intelectuais quando tiveram oportunidade...
Folha de S. Paulo
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