Por Aline Salgado
Terras baratas levam produtores de soja e milho a se
aventurar por Pará, Tocantins e até Rondônia. Enquanto a área plantada cresceu
14,6% na comparação com a safra passada, produção regional de grãos aumentou
23%
A cada safra, a Região Norte vem se confirmando como a nova
fronteira agrícola de grãos do país, especialmente de soja e milho. Depois de
se espalharem por Bahia, Maranhão e Piauí, os produtores passaram a ocupar
terras de Tocantins e Pará, e chegaram até Rondônia, no extremo Norte.
Segundo
projeção de grãos de junho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a
área plantada no Norte aumentou 14,6% na safra 2014/2015, comparada à safra
2013/2014. Já em produção, o crescimento foi de 23%, o pico da série histórica
da Conab.
Embora em números absolutos a participação do Norte na
produção nacional de grãos ainda seja tímida, estimada em 7,763 milhões de
toneladas, - o que representa 9% da produção do maior produtor do país, o
Centro-Oeste -, há um forte e contínuo movimento de expansão do cultivo de
grãos pela região. Gerente de Levantamento e Avaliação de Safras da Conab,
Cleverton Santana ressalta que este é o sexto ano consecutivo de crescimento da
produção no Norte.
"Percebemos uma aceleração na produção a partir de 2009.
Enquanto em 2012/2013 o crescimento havia sido de 11%, em 2013/2014 passou para
14% e, agora, chegou a 23%", afirma.
Com 1,5 milhão de grãos a serem colhidos - alta de 25,3%
frente à safra anterior -, Rondônia tem na soja e no milho segunda-safra suas
principais culturas. Já o Pará, com produção estimada em 1,8 milhão - um
crescimento de 30,3% - é forte em soja e milho primeira safra, cultivada,
principalmente, no Extremo Oeste do estado. Maior produtor da região, com 4
milhões de grãos, Tocantins é especializado na cultura do arroz irrigado e vem
se destacando também com a soja e o milho.
"Os produtores de soja descobriram áreas do Norte que,
até então, eram pastagens degradadas e que podiam ser convertidas para a
produção de grãos", conta Clever-ton Santana.
Economista da Agrometrika consultoria, Luiz Rafael Azevedo
avalia que as terras adquiridas no Norte têm preços até quatro vezes menores do
que as do Centro-Oeste. "Os mesmos aventureiros que saíram do Paraná rumo
ao Centro-Oeste estão subindo para o Norte. É claro que hoje são grandes grupos
do agronegócio, pessoas com visão e know-how. Mas aemprei-tada tem as mesmas
características aventureiras do movimento anterior", afirma Azevedo.
Muito além do pioneirismo, o economista se refere à
necessidade de grandes aportes para desenvolver a soja em uma região de solo
degradado e de poucos dados históricos sobre o regime pluvio-métrico. Enquanto
no Mato Grosso é possível prever o comportamento do clima em função da
disponibilidade de dados de 30 a 40 anos, no Pará, por exemplo, a série chega a
apenas 10 anos, conforme aponta o especialista.
"É preciso considerar também que, embora a área seja
barata, ela foi mal aproveitada e, por isso, requer um custo alto de
recuperação. Nos primeiros anos, a produção chega a 35 sacas apenas, enquanto
que em cinco a seis anos, sobe para 55", salienta Azevedo.
Para o economista, o dólar na casa dos R$ 3,10 deve
desestimular, no entanto, novos investimentos na região, embora a soja ainda
seja bastante rentável ao produtor, mesmo com a queda de preços no mercado
internacional, de US$ 14 para US$ 9,40 o bushel.
"É provável que o crescimento de área plantada na
região seja menos intenso do que nesta safra, porque o custo dos insumos
aumentou com a valorização do dólar, além do crédito mais caro e restrito. Mas,
ao mesmo tempo, é preciso lembrar que o dólar em alta acaba valorizando internamente
a soja, o que ajuda o produtor nacional a manter a rentabilidade do
negócio", acrescenta.
Este ano, a Conab projeta que a produção brasileira de grãos
irá bater novo recorde, com 204,5 milhões de toneladas. Um aumento de5,6%
ou10,9 milhões de toneladas na produção, superior à obtida na safra 2013/14,
quando alcançou 193,62 milhões de toneladas. O crescimento se dá mais pelo
aumento de produtividade do que pela área plantada, visto que houve uma adição
de apenas 1,1% em hectare nesta safra. Em termos reais, a área plantada de
grãos chega a 57,6 milhões de hectares.
Percebemos aceleração na produção a partir de 2009. Os
produtores de soja descobriram áreas que, até então, eram pastagens degradadas
e que podiam ser convertidas para a produção de grãos" - Cleverton Santana
(Gerente de Safras da Conab)
Brasil Econômico, 12 de junho de 2015
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