Crédito escasso atinge agronegócio e ameaça competitividade do campo
Ruy Baron/Valor
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Plantio de soja em Primavera do Leste (MT)
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TATIANA FREITAS
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
O aperto no crédito
chegou ao agronegócio. A menos de um mês do início do plantio da nova safra,
produtores de soja se queixam de dificuldades para obter empréstimos para
custear a produção.
Morosidade na análise
de crédito, aumento das exigências dos bancos, alta nos juros –com um
"mix" entre recursos subsidiados e crédito livre com taxas elevadas–
e até venda casada são relatadas por agricultores.
As dificuldades
provocaram atraso na compra de insumos necessários para o início do plantio,
como sementes e fertilizantes, e aumentaram os custos de produção.
Se o problema
persistir, poderá interromper os sucessivos ganhos de produtividade do setor
nos últimos anos.
A situação é pior em
regiões onde há mais produtores com dívidas pendentes, como no Rio Grande do
Sul, Bahia e Goiás. Mas, segundo o presidente da Aprosoja Brasil (Associação
dos Produtores de Soja), Almir Daspasquale, o aperto é generalizado. "O
dinheiro vem vindo a conta-gotas para todas as agências do Brasil", diz.
O problema teve
origem no primeiro semestre, quando os produtores começam a se preparar para o
plantio da safra seguinte. Nessa fase, eles buscam recursos nas linhas de
pré-custeio, voltadas à compra de insumos.
Foi quando secou o
dinheiro das contas-correntes e da poupança que, no caso do Banco do Brasil,
vai para o financiamento do agronegócio. O banco estatal destina 73% da chamada
poupança rural (90% do total da caderneta) para o crédito agrícola com juros
subsidiados de 8,75% ao ano.
Nas demais
instituições financeiras, 65% da poupança vai para o crédito imobiliário, que
neste ano também teve restrição de recursos especialmente na Caixa.
Além da poupança
rural, o agronegócio conta com o direcionamento de 34% dos depósitos à vista
(conta-corrente) de todos os bancos.
Com a alta dos juros,
tanto a poupança como as contas-correntes perderam depósitos para outras
aplicações. Para reverter a situação, Caixa e BB fizeram campanhas para
estimular os depósitos.
SECA
NO CRÉDITO
Devido ao aperto, o
BB só emprestou R$ 3,5 bilhões para o pré-custeio com juros subsidiados neste
ano. No ano anterior, tinha feito cerca de R$ 8 bilhões nessa linha. Sozinho, o
BB responde por 65% do crédito rural.
A consequência foi a
queda de 14% na concessão total de crédito rural no primeiro semestre, segundo
o BC.
"Neste ano, o
pré-custeio foi nulo", diz Adolfo Petry, coordenador da comissão de
política agrícola da Aprosoja-MT (associação dos produtores de soja de Mato
Grosso).
"Em março do ano
passado já tinha custeio para a safra seguinte. Neste ano, o financiamento só
saiu no final de julho", afirma José Guarino Fernandes, produtor de soja
em Sapezal (MT).
O alívio veio com o
anúncio do Plano Safra 2015/16, em junho, prevendo R$ 187,7 bilhões em crédito
para o setor, alta de 20% em relação ao anterior. Os recursos começaram a ser
liberados em julho, mas produtores continuam reclamando de lentidão.
Preocupados com a
inadimplência, os bancos apertaram as regras de cadastro e passaram a exigir
mais garantias. Segundo produtores, na Caixa, crédito acima de R$ 500 mil só
sai com hipoteca de primeiro grau (bens que não são garantia de outros
financiamentos). O banco não concedeu entrevista.
O BB informou que não
há restrição de recursos para a safra. Segundo o banco, o ritmo de liberação de
empréstimos está acelerado. Com 50 dias do Plano Safra, as concessões para a
agricultura empresarial são 34% superiores ao mesmo período de 2014. Na
agricultura familiar, o crédito liberado é 11% maiore e, na linha para médio
produtor, 95% maior.
O tema, no entanto,
continua em debate em Brasília. Na última semana, uma audiência pública na
Comissão de Agricultura da Câmara discutiu o acesso ao crédito agrícola. O caso
também foi levado à ministra da Agricultura, Kátia Abreu, por parlamentares.
A
preocupação não é apenas sanar os gargalos desta safra, mas também viabilizar
fontes alternativas para o financiamento do setor.
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