Cardeal Pell: “A Igreja não tem
mandato divino para falar sobre questões científicas”
Luis Dufaur
Entrevistado pelo jornal econômico Financial Times, no mesmo dia em que
cardeal Pell, Arcebispo de Sydney e “ministro da Economia” do Vaticano
apresentou a posição das contas da Santa Sé,
ele falou a propósito da encíclica Laudato
si. O purpurado esclareceu que “a Igreja não tem mandato do Senhor para se
pronunciar sobre questões científicas”, segundo noticiou o site Vatican insider.
O Financial
Times entendeu que o cardeal se distanciou assim da “revolucionária
encíclica do Papa, que pede uma ação global contra a mudança climática”. O cardeal afirmou
sobre a Laudato si: “Há partes que são belíssimas. Mas a Igreja não
tem competência especial em matéria de ciência. Nós acreditamos na autonomia da
ciência”.
Na mesma ocasião, o Cardeal Pell concedeu
entrevista ao site Crux sobre outro aspecto da Encíclica:
o agudo anticapitalismo da Laudato si, acentuado pela subsequente
viagem pontifícia à América do Sul. “O mercado está
longe de ser perfeito, mas temos assistido a níveis historicamente sem
precedentes de prosperidade atingidos por causa da disseminação global do
capitalismo e pelo aumento da liberdade para os mercados. O crescimento na
China e na Índia, por exemplo, é real e maravilhoso”, defendeu o “ministro de
Economia” designado pelo Papa Francisco.
Ele afastou-se assim do anticapitalismo ecoado em
diversos parágrafos da Laudato si. “Não podemos nos
considerar garantidos no ‘Primeiro Mundo’, mas nas linhas gerais atingimos um
bom nível de vida e não podemos esquecer isso”, acrescentou o cardeal.
O site Crux, de tendência anticapitalista,
observou que o Papa Francisco usou na América Latina uma retórica carregada do
que ele próprio qualificou de “falhas do sistema capitalista”, ao que o cardeal
respondeu que isso podia ser atribuído a “fracassos pontuais” na América do
Sul, como na Argentina.
De fato, se há falhas pronunciadas
na economia argentina, elas não devem ser atribuídas ao capitalismo, mas ao
socialismo populista que avança na nação platina, associado às diversas
correntes da Teologia da Libertação – entre elas a teologia do povo, do Papa
Francisco –, apesar de desacordos pontuais entre uma tendência e outra.
O purpurado também
refutou aspectos negativos da “Igreja pobre para os pobres”, enfatizada pelo
Papa. “Uma das melhores maneiras de elevar os pobres consiste em melhorar a
economia. Mas se somos desorganizados, incompetentes e, além do mais pobres,
não seremos capazes de auxiliar quem quer que seja”, completou com lucidez
cardeal australiano.
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