sexta-feira, 8 de julho de 2016

Pesquisa resgata bovino pantaneiro do risco de extinção





Com apoio do MCTIC, pesquisadores conseguem preservar e garantir a reprodução do animal. Rebanho do Pantanal caiu de 3 milhões para 500 cabeças.

Um trabalho inédito está conseguindo preservar e garantir a reprodução do bovino pantaneiro, uma raça ameaçada de extinção no Brasil. Nos últimos 100 anos, o rebanho no Pantanal foi reduzido de 3 milhões de cabeças para apenas 500 animais. 

A série de pesquisas sobre essa raça genuinamente brasileira está sendo conduzida pelo Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros de Aquidauana (Nupobam), implantado numa parceria entre a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e o Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP), e conta com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

O gado pantaneiro é resultado de mais de quatro séculos de seleção natural nas condições inóspitas do Pantanal brasileiro, fruto do cruzamento de 11 raças de bovinos europeus. Esse processo resultou em uma raça geneticamente resistente e capaz de se desenvolver nas condições climáticas e nutricionais da região pantaneira.

Nas últimas décadas, o gado pantaneiro foi quase que completamente dizimado em razão do cruzamento com outras raças criadas na região, principalmente a Nelore. 

O trabalho de resgate e conservação da raça teve início em 2009, no Nupoban, núcleo da UEMS que funciona no município de Aquidauana, região do alto pantanal sul-mato-grossense. As pesquisas começaram com 15 novilhas e, por meio de parcerias com fazendas da região, hoje utilizam um rebanho de 136 animais.

Os resultados obtidos até o momento são inéditos e superam as expectativas dos pesquisadores. De acordo com o coordenador do núcleo de conservação, Marcus Vinicius Morais de Oliveira, os estudos têm várias linhas de ação e, além do resgate e multiplicação da raça, pretendem melhorar as técnicas reprodutivas, obter certificação de origem da carne e do queijo derivados do bovino pantaneiro e dispor de material genético de alta qualidade para os produtores.

O pesquisador destaca que o gado pantaneiro é de origem europeia, mas nos últimos 400 anos foi plenamente adaptado à região do Pantanal. O animal é um dos únicos no mundo capaz de pastorear em áreas alagadas, utilizando áreas normalmente não aproveitadas nas fazendas. 

Outras vantagens da raça são a alta tolerância a verminoses, carne com elevada maciez e suculência, além de um leite gordo e saboroso, utilizado para produção do queijo Nicola, típico do Pantanal.

Quanto às características, é um animal de pernas curtas e, com isso, tem baixa estatura, cerca de 1,30 metro no caso das vacas adultas. Possui chifres em diversos formatos e pelagem variada. O dorso é retilíneo e não possui cupim, o que comprova a origem tipicamente europeia e a pureza da raça.

Marcus Vinicius ressalta que a conservação de uma raça em extinção tem grande impacto na preservação da biodiversidade. “A perda deste grupo genético representaria um dano significativo e irreversível para a ciência e para a pecuária brasileira, pois características ímpares de rusticidade adquiridas ao longo dos séculos de seleção natural poderão ser perdidas.”

O gado pantaneiro foi declarado patrimônio cultural e genético do Pantanal pelo governo de Mato Grosso e pela cidade de Aquidauana.  A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) também já destacou a importância do bovino pantaneiro para a segurança alimentar da região.


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