Com apoio do MCTIC, pesquisadores conseguem preservar e garantir a
reprodução do animal. Rebanho do Pantanal caiu de 3 milhões para 500 cabeças.
Um
trabalho inédito está conseguindo preservar e garantir a reprodução do bovino
pantaneiro, uma raça ameaçada de extinção no Brasil. Nos últimos 100 anos, o
rebanho no Pantanal foi reduzido de 3 milhões de cabeças para apenas 500
animais.
A série de pesquisas sobre essa raça genuinamente brasileira está
sendo conduzida pelo Núcleo de Conservação de
Bovinos Pantaneiros de Aquidauana (Nupobam), implantado numa parceria entre a
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e o Centro de Pesquisa do
Pantanal (CPP), e conta com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTIC).
O gado pantaneiro é
resultado de mais de quatro séculos de seleção natural nas condições inóspitas
do Pantanal brasileiro, fruto do cruzamento de 11 raças de bovinos europeus.
Esse processo resultou em uma raça geneticamente resistente e capaz de se
desenvolver nas condições climáticas e nutricionais da região pantaneira.
Nas últimas décadas, o
gado pantaneiro foi quase que completamente dizimado em razão do cruzamento com
outras raças criadas na região, principalmente a Nelore.
O trabalho de resgate
e conservação da raça teve início em 2009, no Nupoban, núcleo da UEMS que
funciona no município de Aquidauana, região do alto pantanal sul-mato-grossense.
As pesquisas começaram com 15 novilhas e, por meio de parcerias com fazendas da
região, hoje utilizam um rebanho de 136
animais.
Os resultados obtidos até
o momento são inéditos e superam as expectativas dos pesquisadores. De acordo
com o coordenador do núcleo de conservação, Marcus Vinicius Morais de Oliveira,
os estudos têm várias
linhas de ação e, além do resgate e multiplicação da raça, pretendem melhorar
as técnicas reprodutivas, obter certificação de origem da carne e do queijo
derivados do bovino pantaneiro e dispor de material genético de alta qualidade
para os produtores.
O pesquisador destaca que
o gado pantaneiro é de origem europeia, mas nos últimos 400 anos foi plenamente
adaptado à região do Pantanal. O animal é um dos únicos no mundo capaz de
pastorear em áreas alagadas, utilizando áreas normalmente não aproveitadas nas
fazendas.
Outras vantagens da raça são a alta tolerância a verminoses, carne
com elevada maciez e suculência, além de um leite gordo e saboroso, utilizado
para produção do queijo Nicola, típico do Pantanal.
Quanto às características,
é um animal de pernas curtas e, com isso, tem baixa estatura, cerca de 1,30
metro no caso das vacas adultas. Possui chifres em diversos formatos e pelagem
variada. O dorso é retilíneo e não possui cupim, o que comprova a origem tipicamente
europeia e a pureza da raça.
Marcus Vinicius ressalta
que a conservação de uma raça em extinção tem grande impacto na preservação da
biodiversidade. “A perda deste grupo genético representaria um dano
significativo e irreversível para a ciência e para a pecuária brasileira, pois
características ímpares de rusticidade adquiridas ao longo dos séculos de
seleção natural poderão ser perdidas.”
O gado pantaneiro foi
declarado patrimônio cultural e genético do Pantanal pelo governo de Mato
Grosso e pela cidade de Aquidauana. A Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO) também já destacou a importância do bovino
pantaneiro para a segurança alimentar da região.
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