O que berra o "Grito dos Excluídos"
Gregorio Vivanco Lopes
Patrocinado pelas pastorais da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), coadjuvadas por movimentos de invasão de terras e de
casas, eufemisticamente denominados “movimentos sociais”, realizou-se no dia
7 de setembro último o denominado “Grito dos Excluídos”.(*)
A data em que se comemora a independência nacional é
escolhida a dedo para indicar que o povo ainda não seria independente, pois
estaria preso nas engrenagens malsãs do capitalismo.
Só um socialismo —
soviético, chinês, cubano, viet
namita, ou outro, pouco importa — traria a
redenção popular, com tintas de ecologismo. Tese perfeitamente comunista,
diga-se de passagem, mas que neste ano se mostrou claramente nos fatos
ligados ao “Grito”.
Acontece que o povo brasileiro, suficientemente
inteligente e perspicaz para não entrar em canoa furada, não tem feito eco a
esse “grito”. A não ser, evidentemente, os agitadores de sempre, que
conseguem ainda arrebanhar um punhado de inocentes-úteis ou incautos.
Com
isso, depois de duas décadas de insistência, o “Grito” não tem obtido melhor
sorte que os chamados Fóruns Sociais, em seu afã de lançar o Brasil numa
revolução de cunho igualitário-socialista.
De fato, segundo Ari Alberti, da coordenação do “Grito dos
Excluídos”, o evento existe há 22 anos e nasceu com a ideia de que “é
preciso construir um projeto popular de sociedade. Passados esses 22 anos a
gente percebe que as mudanças estruturais não aconteceram”, afirma ele
melancolicamente.
Convido o leitor a prestar atenção no folheto de
propaganda do “Grito”, na Arquidiocese de São Paulo [foto]. A cena é
dominada por uma mulher histérica que abre uma bocarra num ricto de angústia
e desespero. Junto a ela, uma espécie de demônio esboça um sorriso sarcástico
enquanto segura um maço de notas, ao que parece de dólares.
Sua boca
demoníaca expele uma chama que se espraia pelo ambiente e serve de leito para
corpos insepultos. A cena é infernal e repugna a toda alma que conserve algo
de ordenação e pureza. Completam o folheto frases contra o capitalismo, bem
como a exaltação do socialismo, além da designação dos autores: as Pastorais
sociais e outros coadjuvantes.
O Santuário de Aparecida costuma ser escolhido como um dos
focos do “Grito”. Em 7 de setembro, uma publicação anunciava: “Aparecida
deve receber 100 mil romeiros para o Grito dos Excluídos, hoje”.
Entretanto, depois do evento, a notícia era: “Cerca de 2 mil romeiros,
segundo o Santuário de Aparecida, participaram do ato”. Parece
que ao encontro marcado faltaram nada menos que 98 mil!
Mesmo esses 2 mil, como é evidente, são em grandíssima
parte romeiros que aproveitaram o feriado para prestar suas homenagens à
Padroeira do Brasil, e não para participar de qualquer movimento de agitação.
Lá chegando, toparam com os tais “excluídos”.
Não só com eles, mas também com
o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, que
conduziu “a reflexão sobre o tema do Grito, ‘Este sistema é
insuportável: exclui, degrada, mata’. Tema inspirado em frase do
Papa Francisco, dito durante o Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em
julho de 2015, na Bolívia”.
Desta vez o “Grito dos Excluídos” levou às ruas um tema
mais diretamente ligado à política e focou suas manifestações contra o novo
governo de Michel Temer. Ou seja, inconformidade notória com o desprestígio
de Dilma, e com ela o de Lula e do PT.
Para o coordenador da Central de
Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, o plano de governo Temer vai
levar milhões de pessoas à exclusão social. "Por isso estamos hoje
pelo 'Fora Temer'”.
Outro foco de manifestações do “Grito”, além de Aparecida,
foi a Catedral da Sé, em São Paulo.
Só que “as escadarias da Catedral,
na Praça da Sé, reuniam menos de 100 pessoas, às 9h30, hora marcada
para a concentração dos participantes do 22.º Grito dos Excluídos”.
Um terceiro foco foi a Avenida Paulista, cujo ponto de
encontro foi na altura da Praça Osvaldo Cruz. Ali havia número um pouco maior
de pessoas, não por causa dos “excluídos”, mas porque nesse local se reuniam
promiscuamente todos os adeptos esquerdistas do “Fora Temer”, quais sejam o
MST, o PT, o MTST e quejandos.
Em busca de popularidade, compareceram também
Fernando Haddad, prefeito de São Paulo candidato à reeleição, e o candidato
derrotado ao Senado e agora postulante a vereador, Eduardo Suplicy, além de
outros políticos petistas. Foi um pouco frustrante para eles, pois a passeata
que se seguiu não teve maior impacto.
Ao que parece, o fracasso reiterado do “Grito dos
Excluídos” em convencer os pobres de que o socialismo resolverá seus
problemas, está levando à exasperação os promotores dessas manifestações. Em
consequência, a utilização de uma linguagem demagógica e fora da realidade.
Por exemplo, Dom Milton Kenan Junior, bispo da Diocese de Barretos (SP) e
membro da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça
e da Paz, da CNBB, desabafou:
“Esse sistema [o capitalismo] é
insuportável. É um sistema que exclui e gera grande massa de humanos vivendo
nas periferias do mundo, sem acesso ao que é fundamental e necessário à vida.
E leva uma grande massa a se contentar com as migalhas que caem da mesa. É um
sistema que nega à grande maioria das pessoas os acessos às condições
básicas”.
Pena que o Bispo Kenan se tenha esquecido de que a maior
miséria sempre foi produzida pelos sistemas socialistas, como ocorreu na
União Soviética e, na atualidade, em Cuba, Venezuela, Coreia do Norte etc.
Evidentemente ninguém nega que o capitalismo atual tenha
defeitos e lacunas a serem corrigidos. Mas enquanto regime que defende a
propriedade privada e a livre iniciativa, ele está de acordo com a ordem
natural das coisas. Enquanto o socialismo, por seu caráter estatizante e
igualitário, é fundamentalmente rejeitável.
Mas isso não interessa aos promotores do “Grito”. E
enquanto ficam gritando palavras de ordem de índole socialo-comunista, o
autêntico povo brasileiro não lhes dá atenção...
__________
Nota:
(*) Os dados para este artigo foram extraídos das
seguintes fontes: “Agência Brasil” (1º-9-16); Revista “Isto é” (7-9-16); “O
Estado de S. Paulo (7 e 8-9-16); “O Globo” (8-9-16).
Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da
ABIM
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