Uma
Igreja tribal, ecológica, “autóctone” e pós-comunista na Amazônia?
O Papa Francisco quer uma igreja autóctene na Amazônia, segundo o Cardeal Humes Foto: na JMJ, Rio, julho 2013
O vaticanista Marco Tosatti, colunista do “La Stampa” de Turim, alertou em sua página pessoal para o que vinha sendo comentado “a boca chiusa” em Roma: o Papa prepara em silêncio um sínodo sobre a Amazônia.
O
Sínodo não seria brasileiro, mas transnacional, incluindo todas as dioceses da
região amazônica vista como uma realidade superior às nove nações que exercem
sua soberania sobre partes dela.
O
tema central anunciado é a ecologia. Mas não se trata de cristianizar a
realidade ecológica da Amazônia, mas de “ecologizar” a Igreja Católica,
dissociando-a de seu passado missionário e modelando-a segundo o modelo
comuno-tribal excogitado pelo ambientalismo mais radical.
Ele
está trabalhando intensamente há alguns anos no projeto pontifício. Já visitou
22 das 38 dioceses da Amazônia e o Papa lhe teria dito para apressar mais a
agenda.
Muitos
se lembram da destacada presença de Dom Cláudio na loggia de São Pedro quando
Francisco I nela se apresentou logo após sua eleição.
Depois da queda do PT, o Sínodo Pan-Amazônico abre nova via para o comuno-progressismo. D.Cláudio Hummes abraça Lula na missa do Dia do Trabalho 2003. Hoje é o articulador do Sínodo anarco-tribalista. Foto: Ana Nascimento-ABr
O agitado Sínodo da Família, ainda fortemente controvertido, e seguido da não menos controvertida exortação sinodal Amoris Laetitia, atrasou o Sínodo de uma sonhada igreja comuno-tribal na maior floresta úmida da Terra.
A Rede
Eclesial Pan-Amazônica – REPAM foi fundada oficialmente em setembro de 2014,
pretendendo dar continuidade às CEBs, muito diminuídas pela sua ligação com a
Teologia da Libertação.
Segundo
ela se define, a REPAM não tem uma finalidade católica como seu nome sugere,
mas de apoio aos indígenas na “luta em defesa de sua sabedoria ancestral, de
seus territórios e pelo seu direito a uma ‘participação efetiva nas decisões’
que dizem respeito a sua vida e a seu futuro. Reconhece e valoriza sua
espiritualidade na relação com a Criação”.
Partilha,
pois, as metas do famigerado CIMI.
A
REPAM e, por conseguinte, o anunciado Sínodo Amazônico, visa planejar “como
construir um modelo de futuro pan-amazônico em harmonia com a natureza”. A
doutrinação desse modelo já está escrita e contida na encíclica Laudato Sì do
Papa Francisco.
O
plano é muito vasto, mas o ponto que de imediato atraiu a atenção é a criação
de uma espécie de “sacerdotes casados”, que provocariam o fim do celibato
eclesiástico no rito latino.
Tosatti
dá entender essa meta final falando de “uma espécie de administradores leigos
dos sacramentos, que substituam os sacerdotes. Mas há quem veja neste projeto a
ponta da cunha para modificar as regras referentes ao celibato dos sacerdotes
no rito latino”.
De
fato, o Cardeal Hummes protagonizou em 2006 um não pequeno escândalo, após sua
despedida da Arquidiocese de São Paulo para ocupar a Congregação do Clero a
pedido do Papa Bento XVI.
Na
ocasião, recebendo a funcionários da Cúria paulista, ele acenou com o fim do
celibato dos padres.
Embora os celibatários façam parte da história e da cultura
católicas, a Igreja pode refletir sobre essa questão, pois o celibato não é
dogma, mas uma norma disciplinar”, disse, segundo noticiou “O Estado de S.
Paulo” (02-12-2006 – “Igreja poderá precisar de padres casados”).
Essas declarações foram muito ecoadas pela imprensa anticlerical e progressista. Assim que desceu do avião em Roma, um representante da Santa Sé lhe apresentou o texto de uma retratação, que acabou sendo publicada em página inteira no jornal vaticano “L’Osservatore Romano”.
Agora,
segundo Tosatti, D. Hummes voltou à carga dizendo que fala em nome do atual
Papa.
Tendo
pregado retiros para bispos, sacerdotes e encarregados de pastoral sobre o
Sínodo que está sendo planejado para a Amazônia, D. Hummes insistiu para que
todos discutam abertamente o celibato, garantindo que nada devem temer por
parte da Santa Sé. Esta outrora considerava revoltosa a dúvida e a contestação
desse preceito eclesiástico no rito latino.
O
Sínodo serviria de pretexto para subverter a doutrina e a disciplina do
sacerdócio. Segundo Tosatti, a extensão do território, a dispersão da população
e a falta de padres justificariam a violação da norma tradicional.
Tosatti
menciona alguém não identificado, que durante uma conferência de D. Cláudio
propôs que fossem solicitados dois sacerdotes a cada uma das Ordens
missionárias existentes.
Mas
o Cardeal teria respondido: “Não, não, o Papa não quer isso. Depois do Concílio
não devem existir mais missionários, cada povo deve se evangelizar por si
mesmo; só clero autóctone, sacerdotes e bispos até sem formação acadêmica”.
Acrescenta
Tosatti: “E prosseguiu dizendo que se antes era tabu falar de padres casados, agora se
pode falar tranquilamente; falai entre vós. O Papa lhe teria aconselhado
dizer aos bispos que ordenem um grande número de diáconos permanentes.
“O objetivo seria abrir a
estrada para a ordenação de leigos casados para suprir a carência de sacerdotes”.
Religiosa
na Missão Anchieta entre os indígenas da Amazônia, modelo da evangelização e de
civilização que o Papa Francisco não quereria, segundo D.Claudio Hummes.
O Cardeal
está impulsionando o envio de cartas dos bispos ao Papa pedindo autorização
para realizar o Sínodo. Atendendo a esses pedidos, Francisco I aprovaria a
reunião.
A
ideia de sacerdotes “leigos” na realidade vem de longe, sobretudo na Alemanha,
que nada tem a ver com a realidade amazônica, mas que por afinidade teológica
financia a operação em andamento através da Caritas.
A
relativização do celibato eclesiástico, entretanto, é apenas um aspecto
introdutório da “igreja que se evangeliza a si própria”.
Essa
nova-Igreja surge como se Jesus Cristo tivesse errado ao mandar: “Ide, pois, e
ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi”. (Mateus 28, 19-20)
E também: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda
criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será
condenado” (Marcos 16, 15-16).
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