sábado, 12 de novembro de 2016

Papa Francisco e movimentos de esquerda: seus pesos e suas medidas


Sem palavras

Péricles Capanema

De 3 a 5 de novembro foi realizado no Vaticano o 3º Encontro Mundial de Movimentos Populares. O primeiro foi ali, o segundo na Bolívia, o terceiro voltou a ter lugar no Vaticano. O Papa Francisco encorajou-os e deles participou com o discurso de encerramento. Agora, segundo afirmam documentos oficiais, reuniu delegações de 67 países. São, de fato, movimentos de extrema esquerda do mundo inteiro.

Sobre o último encontro, declarou João Pedro Stédile, dirigente máximo do MST, presença destacada nessas reuniões, que ali iriam discutir formas de combater “a democracia burguesa hipócrita” e a “a apropriação privada dos bens comuns da natureza”. Esclareceu ainda que o principal instrumento teórico do movimento para aumentar a consciência é a encíclica Laudato Si do atual Pontífice. Não custa lembrar, em 2014 o líder do MST confessou, “nós, marxistas, lutamos junto com o Papa para parar o diabo”.

O encontro no Vaticano aprovou, “em diálogo com o Papa Francisco”, 41 moções das quais abaixo relaciono nove:

1. “Repudiamos os abusos de direitos humanos e assassinatos que a Polícia comete em diversos Estados dos Estados Unidos. [...] Repudiamos o genocídio contra os jovens negros brasileiros”. A Polícia brasileira praticaria genocídio contra negros.

2. “Repudiamos a ruptura da democracia no Brasil e o complô midiático presidencial-congressual que deu origem a um golpe de Estado institucional para impor um programa de governo que reduz os direitos dos trabalhadores”. Dispensa comentários.
3. “Denunciamos o Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais, Brasil, que determinou a desocupação forçada de 8 mil famílias das comunidades da região de Izidora Rosa”.

4. “Manifestamos nossa solidariedade aos delegados dos movimentos populares da Venezuela, os quais apoiam a mediação do Papa Francisco, e reclamamos o fim dos ataques à ordem constitucional”. De outro modo, apoio ao governo Maduro, ativo promotor da ditadura e fator principal da miséria e da fome sofridas pelos pobres na Venezuela.

5. “Denunciamos a grave situação dos presos políticos em vários países, [...], Porto Rico, Espanha, Turquia, Estados Unidos”. Silêncio revelador e vergonhoso sobre a situação dos presos políticos em Cuba, Venezuela, Coreia do Norte.

6. “Pedimos ao Papa Francisco que se manifeste contra o sistema THAAD na Coreia do Sul, fator de tensão no nordeste da Ásia”. Esse sistema militar antimíssil é contra a possibilidade de ataque por mísseis da Coreia do Norte comunista, que há pouco explodiu uma bomba atômica. Nem uma palavra sobre a bomba atômica do regime comunista de Pyongyang.

7. “Condenamos o emprego de venenos agrícolas produzidos e controlados por Bayer/Monsanto, Sygenta, Chemical, Du Pont, Steel Quinoa, multinacionais que envenenam os alimentos no mundo. A ChemChina, estatal do governo comunista chinês, caminha para ser a maior produtora mundial de agrotóxicos. É uma gigantesca multinacional presente em 120 países. Tem vendas de aproximadamente 40 bilhões de dólares anuais. Nem uma palavra contra ela.

8. “Basta de desocupações de camponeses. A terra é de quem a trabalha”. Antigo slogan dos agitadores comunistas. Quando no poder, a terra era coletivizada e ficava nas mãos do Estado.
9. “Expressamos nossa solidariedade com a Escola Nacional Florestan Fernandes, a escola de formação latino-americana do MST, que foi atacada pela polícia no Brasil.”

O Papa Francisco, como disse, encerrou o encontro. Aproveitou para reiterar sua proximidade com os participantes: “Neste terceiro encontro nosso expressamos a mesma sede de justiça, e o mesmo clamor: terra, teto e trabalho para todos”.

Estimulou estruturas de apoio: “Obrigado aos bispos que vieram acompanhando vocês”. O suporte episcopal no mundo inteiro, é claro, não existiria outra fosse a atitude da Santa Sé. A estes movimentos especializados na subversão e na agitação social o Papa Francisco qualifica de “poetas sociais”, por razão surpreendente, encadeiam criativamente grandes e pequenas ações.

Não quis deixar dúvidas: “Felicito-os, acompanho-os, peço-lhes que continuem abrindo caminho e lutando. Isso me dá força, isso nos dá força”. Quem não conhece, o velho programa desses movimentos, invariavelmente, onde foi aplicado, levou à tirania e à miséria. Foi o maior flagelo dos pobres ao longo do século 20.

E teve sempre uma nota anticristã, expressa em medidas libertárias e tantas vezes em perseguição religiosa. Hoje existe algum pobre fugindo para Cuba? Para a Coreia do Norte? Para a Venezuela? Milhões e milhões de pobres do mundo estão fugindo para os Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra.

Esbofeteado pela realidade, estou sem palavras. Edmond Rostand imagina no L’Aiglon o reencontro de Maria Luísa com o filho, a quem pede perdão. O duque de Reichstadt reza: “Meu Deus, inspirai-me a palavra profunda e entretanto leve, com a qual um filho perdoa à mãe”.


É do que todos precisamos: palavras filiais, respeitosas e profundas que desvelem a realidade inteira. Uma primeira constatação: chocado com repetidas atitudes de favorecimento aos lobos, o rebanho está se isolando do Pastor.

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