Sem palavras
Péricles Capanema
De 3 a 5 de novembro foi realizado no
Vaticano o 3º Encontro Mundial de Movimentos Populares. O primeiro foi ali, o
segundo na Bolívia, o terceiro voltou a ter lugar no Vaticano. O Papa Francisco
encorajou-os e deles participou com o discurso de encerramento. Agora, segundo
afirmam documentos oficiais, reuniu delegações de 67 países. São, de fato,
movimentos de extrema esquerda do mundo inteiro.
Sobre o último encontro, declarou João
Pedro Stédile, dirigente máximo do MST, presença destacada nessas reuniões, que
ali iriam discutir formas de combater “a democracia burguesa hipócrita” e a “a
apropriação privada dos bens comuns da natureza”. Esclareceu ainda que o
principal instrumento teórico do movimento para aumentar a consciência é a
encíclica Laudato Si do atual Pontífice. Não custa lembrar, em
2014 o líder do MST confessou, “nós, marxistas, lutamos junto com o Papa para
parar o diabo”.
O encontro no Vaticano aprovou, “em
diálogo com o Papa Francisco”, 41 moções das quais abaixo relaciono nove:
1. “Repudiamos os abusos de direitos
humanos e assassinatos que a Polícia comete em diversos Estados dos Estados
Unidos. [...] Repudiamos o genocídio contra os jovens negros brasileiros”. A
Polícia brasileira praticaria genocídio contra negros.
2. “Repudiamos a ruptura da democracia
no Brasil e o complô midiático presidencial-congressual que deu origem a um
golpe de Estado institucional para impor um programa de governo que reduz os
direitos dos trabalhadores”. Dispensa comentários.
3. “Denunciamos o Poder Judiciário do
Estado de Minas Gerais, Brasil, que determinou a desocupação forçada de 8 mil
famílias das comunidades da região de Izidora Rosa”.
4. “Manifestamos nossa solidariedade
aos delegados dos movimentos populares da Venezuela, os quais apoiam a mediação
do Papa Francisco, e reclamamos o fim dos ataques à ordem constitucional”. De
outro modo, apoio ao governo Maduro, ativo promotor da ditadura e fator
principal da miséria e da fome sofridas pelos pobres na Venezuela.
5. “Denunciamos a grave situação dos
presos políticos em vários países, [...], Porto Rico, Espanha, Turquia, Estados
Unidos”. Silêncio revelador e vergonhoso sobre a situação dos presos políticos
em Cuba, Venezuela, Coreia do Norte.
6. “Pedimos ao Papa Francisco que se
manifeste contra o sistema THAAD na Coreia do Sul, fator de tensão no nordeste
da Ásia”. Esse sistema militar antimíssil é contra a possibilidade de ataque
por mísseis da Coreia do Norte comunista, que há pouco explodiu uma bomba
atômica. Nem uma palavra sobre a bomba atômica do regime comunista de
Pyongyang.
7. “Condenamos o emprego de venenos
agrícolas produzidos e controlados por Bayer/Monsanto, Sygenta, Chemical, Du
Pont, Steel Quinoa, multinacionais que envenenam os alimentos no mundo. A
ChemChina, estatal do governo comunista chinês, caminha para ser a maior
produtora mundial de agrotóxicos. É uma gigantesca multinacional presente em
120 países. Tem vendas de aproximadamente 40 bilhões de dólares anuais. Nem uma
palavra contra ela.
8. “Basta de desocupações de camponeses.
A terra é de quem a trabalha”. Antigo slogan dos agitadores comunistas. Quando
no poder, a terra era coletivizada e ficava nas mãos do Estado.
9. “Expressamos nossa solidariedade com
a Escola Nacional Florestan Fernandes, a escola de formação latino-americana do
MST, que foi atacada pela polícia no Brasil.”
O Papa Francisco, como disse, encerrou
o encontro. Aproveitou para reiterar sua proximidade com os participantes:
“Neste terceiro encontro nosso expressamos a mesma sede de justiça, e o mesmo
clamor: terra, teto e trabalho para todos”.
Estimulou estruturas de apoio:
“Obrigado aos bispos que vieram acompanhando vocês”. O suporte episcopal no
mundo inteiro, é claro, não existiria outra fosse a atitude da Santa Sé. A
estes movimentos especializados na subversão e na agitação social o Papa
Francisco qualifica de “poetas sociais”, por razão surpreendente, encadeiam
criativamente grandes e pequenas ações.
Não quis deixar dúvidas: “Felicito-os,
acompanho-os, peço-lhes que continuem abrindo caminho e lutando. Isso me dá
força, isso nos dá força”. Quem não conhece, o velho programa desses
movimentos, invariavelmente, onde foi aplicado, levou à tirania e à miséria.
Foi o maior flagelo dos pobres ao longo do século 20.
E teve sempre uma nota anticristã,
expressa em medidas libertárias e tantas vezes em perseguição religiosa. Hoje
existe algum pobre fugindo para Cuba? Para a Coreia do Norte? Para a Venezuela?
Milhões e milhões de pobres do mundo estão fugindo para os Estados Unidos,
Alemanha, Inglaterra.
Esbofeteado pela realidade, estou sem
palavras. Edmond Rostand imagina no L’Aiglon o reencontro de
Maria Luísa com o filho, a quem pede perdão. O duque de Reichstadt reza: “Meu
Deus, inspirai-me a palavra profunda e entretanto leve, com a qual um filho
perdoa à mãe”.
É do que todos precisamos: palavras
filiais, respeitosas e profundas que desvelem a realidade inteira. Uma primeira
constatação: chocado com repetidas atitudes de
favorecimento aos lobos, o rebanho está se isolando do Pastor.
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