Presidente do TST vê ‘desbalanceamento’
da Justiça em favor dos trabalhadores
Segundo Ives Gandra Martins Filho, desde que assumiu o posto ele ouve de
empresários e parlamentares a crítica de que a Justiça trabalhista
‘superprotege’ os empregados; e, se há tanta reclamação, diz, ‘é porque alguma
coisa está acontecendo’.
Murilo Rodrigues Alves
O Estado de S.Paulo
O presidente do Tribunal Superior do Trabalho
(TST), Ives Gandra da Silva Martins Filho, disse ao Estado que a Justiça do
Trabalho precisa analisar se não há um “desbalanceamento” nas decisões a favor
dos empregados, protegendo demais o trabalhador. “Será que a balança não está
pesando demais para um lado?”, questiona.
O TST é a última
instância em processos relacionados à legislação trabalhista. Desde que assumiu
a presidência do órgão, no início deste ano, Ives Gandra ouve de empresários e
parlamentares a crítica de que a Justiça trabalhista superprotege o empregado
em detrimento das empresas. “Se há tanta reclamação no setor patronal, alguma
coisa está acontecendo.”
A última censura,
porém, veio de um colega do Judiciário. O ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF), Gilmar Mendes, afirmou que o TST tem “má vontade com o capital” e adota
uma jurisprudência no sentido de “hiperproteção” do trabalhador.
“Esse tribunal é
formado por pessoas que poderiam integrar até um tribunal da antiga União
Soviética. Salvo que lá não tinha tribunal”, ironizou Mendes, fazendo rir a
plateia de empresários presentes em um seminário sobre infraestrutura, em São
Paulo, no dia 21 deste mês.
No mesmo dia, o
presidente do TST lamentou, em nota, a forma “infeliz” como se expressou
Mendes. No entanto, ele não assinou ofício encaminhado esta semana à presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, por 18 ministros do TST que
lastimaram as declarações de Mendes.
‘Misturadamente’. Para Ives Gandra, o papel do TST é conciliar os
interesses de trabalhadores e empregados. Ele recorre ao autor Guimarães Rosa e
diz que as partes do processo precisam reduzir as expectativas para que haja
acordo. Em vez do “felizes para sempre”, comum nos contos de fadas, é mais
apropriado para ele usar “viveram felizes e infelizes misturadamente”,
parafraseando o autor do livro Grande Sertão Veredas.
O presidente do TST
estima que o número de processos recebidos nas varas trabalhistas deve bater
recorde este ano e chegar à marca de 3 milhões, o maior volume já registrado
desde 1941, quando começou a série histórica do tribunal.
No ano passado, foram
2,66 milhões. A tendência acompanha o aumento do número de demissões em razão
da crise econômica e do clima de incerteza no País. A taxa de desemprego está
em 11,8% no trimestre móvel encerrado em setembro, com 12 milhões de pessoas em
busca de um trabalho no País, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
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